quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Estamos Irreconhecíveis?

Estamos Irreconhecíveis?
O tempo nos transforma, é verdade, mas será que mudamos fisicamente tanto assim?

Suely Pavan Zanella

Quando eu estava grávida de meu filho há trinta anos eu tinha uma mania, todos os dias eu passava no supermercado e babava na seção de vinhos (só olhava, já que não podia beber). Um dia escutei uma mulher chamando o meu nome a uma distância. Eu devia estar de uns oito meses, tinha um barrigão, e havia engordado cerca de 20 quilos. Quem me reconheceria daquele jeito?
A mulher continuou a me chamar e toda alegre veio ao meu encontro. E eu pensei: Quem será ela?
Ela disse o seu nome, que havia estudado comigo no que outrora se chamava ginasial e eu só fui me dando conta de quem ela era através da voz e do jeito infantil de falar (parecia que ela sempre estava com um chiclete na boca), mas fisicamente ela estava muito diferente. Ela era aquilo que os americanos chamam de “popular” na escola. Não tínhamos amizade, eu sempre fui C.D.F. daquelas que sempre sentam na primeira carteira e vão bem nos estudos. Meu grande defeito era rir de tudo, tanto que na época da escola um dos meus apelidos era risoleta. E minha risada sempre foi alta e escandalosa. Ela, ao contrário, perambulava pela escola, tal como uma borboleta em busca de rapazes. O jeito que ela me tratou no supermercado porém, foi diferente, e parecia que eu e não ela era “o popular”. Conversei um pouco com ela, fui educada e mais nada.
Anos se passaram e um dia peguei um taxi para ir ao Shopping perto de casa. E de novo aconteceu o mesmo. O motorista sabia tudo sobre a minha vida, falou dos meus pais, e eu até hoje não sei quem ele é. Mas, fiquei impressionada com o número de detalhes que ele sabia sobre a minha pessoa e de minha família. Ele também havia estudado comigo só que na época do que se chamava antigamente de Colegial. Quem era o cara? Não sei.
Todos nós com o passar do tempo mudamos nosso aspecto físico. O que notei é que algumas pessoas mudam muito. E não estou falando em engordar ou emagrecer. Ou mudar a cor dos cabelos, coisa que eu faço sempre. E muito menos de fazer plásticas e ficar plastificado. Muito menos de querer ficar eternamente jovem. O que me refiro são pessoas que envelhecem de um jeito estranho, e estampam um certo amargor, gente que vive do passado, e que repete a todo o tempo “no meu tempo”. Acho que isso é algo que vai mudando as pessoas fisicamente e para pior.
Outro dia encontrei uma amiga no supermercado também da época em que cursava o ginasial, ela estava mais velha, é claro, mas a luminosidade de olhar era a mesma, e o rostinho também. Parecia que o tempo havia parado. Ficamos um tempão conversando e depois a encontrei no Facebook. E o mais engraçado, que nem notei se ela estava gorda ou magra, coisa que normalmente as pessoas se fixam (uma bobagem cá entre nós).  

Bom, da minha parte fico feliz de ainda ser reconhecida. Afinal, eu continuo a ser estudiosa, gosto de aprender, e dar risada de forma escancarada, e sei que o meu tempo é este, o resto é passado. E passado é só referência, permanecer nele, ou justificar toda e qualquer coisa como sendo em função dele, faz o pescoço ficar duro, o rosto enrugado e os joelhos dobrarem mais rápido.