quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A PARTIDA

A PARTIDA

Um dia e não sem aviso prévio, ela partiu. Ela alertou, insistiu, e ele ignorou.
Ela cansada, e com o coração partido, já que ainda o amava, resolveu: Chega!
Ele fez chantagem, fez pressão, e muitas promessas, mas não resolveu.Era tarde. É sempre tarde quando um coração se parte, não há cola que cole as mágoas acumuladas e as conversas que não aconteceram no tempo em que tinham que acontecer. Sim, era tarde, ela triste disse para si mesma. E assim triste, se foi.
Apesar de ainda amá-lo, ela resolveu deixá-lo, não por manipulação, como fazem muitas mulheres, mas porque percebeu a diferença entre: amar e viver um relacionamento. Ela conclui que podemos amar alguém, mas muitas vezes é impossível relacionar-se no dia a dia com este mesmo alguém. Podemos amar sozinhos, pensou ela. O dia a dia, porém é mais exigente, requer atenção. E assim ela se foi. Num primeiro momento ele não acreditou nela, e a agrediu com palavras. Mas não adiantou. Depois ele tentou convencê-la de quanto esta decisão era errônea, e quanto mais tentava da maneira errada e ferina, mais ela tinha certeza da decisão que tomava. Ela havia ficado por anos muito sozinha, embora casada com ele. Resolvia a vida prática também sozinha, apesar do dinheiro que ele lhe dava. Ele só sabia lhe dar dinheiro, parecia querer comprar-lhe o incomprável: o amor.
Apesar das ameaças calcadas no medo, já que ele dizia que ela não sobreviveria sem ele, que não tinha capacidade e que não era inteligente o bastante... Ela se foi, e deixou-o a falar sozinho, pela primeira vez fez aquilo que ele sempre fez com ela: Deixou-o sozinho falando. Quantas vezes, ela lembrou, ele não foi capaz de ouvi-la. Ele não prestava atenção, dizia estar cansado ou ocupado. No tempo que estava com ela restava o pior lado dele: o mau humor, o sono, o cansaço o desmazelo. Em casa ele mal se cuidava. Falava com ânimo do trabalho, e das pessoas, e com ela ficavam as responsabilidades: filhos, casa, compras. Ele nada compartilhava no âmbito da família. Apenas esquecia-se. O sob o pretexto do esquecimento tudo “sobrava” para ela. Corria de lá para cá, dando conta daquilo que com o passar dos anos acabou se tornando “a sua obrigação”.
Ele dizia sempre que a amava. Só que o amor que ele lhe dava não correspondia ao que ele falava. Não há amor que sobreviva somente das palavras... E assim, ela partiu!

“O Amor jamais morre de morte natural. Geralmente morre de sede porque nos esquecemos da fonte" - Paulo Coelho