segunda-feira, 2 de setembro de 2013

MEU FILHO, ESSE DESCONHECIDO!



MEU FILHO, ESSE DESCONHECIDO!


“Dizem que a melhor fase da vida é a juventu­de, mas nela, também se comete os maiores erros, pois a imaturidade leva o jovem a pen­sar que é “dono do mundo”. Com Juvenal não foi diferente. Por não seguir os conselhos do seu pai pagou um alto preço.” 

(Sinopse do Livro: História do bom pai e o mau filho - José Camelo de melo Resende)



Suely Pavan Zanella
Quando bebês eles são lindos e afáveis, e ninguém é capaz de adivinhar o seu destino, ou melhor, a suas escolhas.
Dalai Lama diz que todos nasceram bons, e que a vida, ou os caminhos que escolhemos trilhar podem nos tornar maus.
Dá para imaginar que um dia Hitler foi um lindo bebezinho? Será que seus pais lhe deram uma educação tão austera que o fez exterminar milhões de pessoas?
Não sei quais foram as influências que Hitler recebeu, salvo aquilo que é de domínio público: sua inteligência, cultura exemplar e fascínio pelo ocultismo, particularmente a astrologia e a mitologia. Seus hábitos seriam considerados saudáveis aos olhos atuais: Não bebia, nem fumava, e era vegetariano.
Culpar a educação recebida e principalmente os pais pelas más escolhas dos filhos denota miopia dos tempos atuais. Hoje a realidade e a rede absurda de influências que uma criança e adolescente recebem são imensas. Há 20 ou 30 anos a educação que se recebia em casa era reforçada na sociedade, hoje não é assim.
Quando os filhos respeitam a boa educação que os pais lhe dão são motivo de orgulho, já que  suas expectativas foram sanadas e a fazem valer uma espécie de equação: Boa Educação = Bom Filho...Mas, infelizmente, nem sempre é assim.
Conheço pais zelosos cujos filhos debandaram pela vida em função das escolhas que fizeram, principalmente na adolescência que justamete é o período em que se tem menos consciência das consequências de nossos atos. Todo profissional de psicologia sabe que a maioria de nossas escolhas, mesmo na idade adulta, não são conscientes. Há estudos e mais estudos sobre isto. Caso fosse só escolheríamos o melhor para nós!
A educação em si não é o mais importante, há filhos, por exemplo, que fazem o oposto daquilo que lhes foi ensinado por seus pais e querem a todo o custo ser o oposto deles. Tudo depende da maneira como cada filho decodifica a educação recebida. Sim, cada filho apreende a educação de uma forma diferente. Lembro-me bem do caso de uma paciente que um dia chorando numa sessão me contou que um de seus seis irmãos desde os sete anos de idade era totalmente diferente dos demais. Ele já com esta idade roubava cavalos, na cidade do interior onde moravam,  apesar das reprimendas dos pais e irmãos mais velhos. E quando tinha vinte e oito anos ele simplesmente desapareceu. Tornara-se um bandido!
Já vi filhos que tratam os pais na idade adulta com total desrespeito e agressividade. E que foram tratados à pão de ló, como se diz popularmente. Crianças que pareciam príncipes e princesas de contos de fadas e que foram cujos pais eram delicados e explicavam o motivo de qualquer reprimenda e incentivavam o dialogo. Hoje são adultos rudes e ignorantes. Falam palavrões no trato com os pais, os culpam por seus fracassos constantes e visivelmente não aproveitaram um décimo daquilo que receberam. O motivo: Têm vergonha da sua origem educada e até refinada, preferiram o linguajar das ruas e dos maloqueiros!
Quantas garotas de boa família você já teve notícia que se apaixonaram por traficantes, ladrões e até assassinos e resolveram morar com eles apesar das condições adversas e arriscadas?
Um filho pode sim, apesar da boa educação recebida, tornar-se um desconhecido e um dia provocar uma reação de estranhamento por parte de seus pais. Eles poderão se perguntar: Quem é esta pessoa? Por qual razão me trata de forma tão rude, se a única coisa que fiz foi dar-lhe o melhor que pude?
Os pais normalmente ao se depararem com as péssimas escolhas dos filhos sentem-se culpados, pois atribuem a si esta responsabilidade. Deveriam, ao contrário, se perguntar:
1)   Que educação eu dei ao meu filho? Eu o ensinei a ser malandro, desrespeitoso, mentiroso, ladrão, assassino, drogado?
2)   Eu passava a mão em sua cabeça toda vez que ele cometia um erro grave ou ainda justificava o seu comportamento perante aqueles que o criticavam? Não permiti que ele ou ela assumisse a consequência de seus erros? Dizia que era “coisa da idade” e até ria quando ele (a) adotava comportamentos tais como: depredação de prédios públicos; uso de drogas; e mau comportamento escolar?
3)   Que feedbacks (retorno sobre um comportamento) recebi de outras pessoas quanto à educação dada ao meu filho? Os outros me chamavam de ausente, austero, irresponsável, etc.? Professores que reclamavam de meu filho diziam que eu era conivente, participativo ou ausente?
4)   Tinha comportamentos abusivos perante o(s) meu(s) filho(s)? Agressividade com cônjuges; bebedeiras; uso de drogas; comportamento antiético no trânsito (desrespeito à leis); prostituição; etc.
5)   Não selecionava as pessoas que adentravam em minha casa e permitia que convivessem com meu(s) filho(s) gente de caráter duvidoso e até perigoso?
6)   Fui ausente por trabalhar ou dedicar-me a mim mesmo em excesso? Eu estava sempre ocupado (a) toda a vez que meu(s) filho(s) buscava(m) a minha ajuda.
7)   Coloquei meus filhos em situações de risco? Como por exemplo: rodas de usuários de drogas; frequência a bares; direção perigosa (excesso de velocidade; direção e álcool; desrespeito a pedestres); locais não adequados à crianças tais como shows públicos e com temática adulta ou juvenil; ensinei meu(s) filho(s) a dirigir na adolescência; incentivava a magreza em função da estética e boa forma; deixava-os frequentar redes sociais, baladas quando não tinham a idade legal para tal.
8)   Tinha paradigmas equivocados com relação à educação? Tais como:  “Tem que aprender batendo cabeça”; “Médicos e psicólogos só falam bobagem”; “Trabalhar é sofrer”; “Homem nenhum presta”; “Prenda as suas cabritas que meu bode está solto”; “Estudar é bobagem”; “Macho que é macho não brinca ou dança com as crianças”: “A vida é dura”;...
9)   Mentia com frequência para outras pessoas na frente do(s) meu(s) filho? Eu mesmo não assumia os meus atos.
10)               Falava mal do pai ou da mãe, e alienei meu filho de sua presença quando ele não tinha idade para discriminar “minhas falas”?
Se você tem certeza absoluta da educação que deu ao seu filho, e principalmente dos exemplos dados, já que crianças e adolescentes captam suas ações muito mais do que suas palavras e mesmo assim estranha o seu filho, não se preocupe!
Lembre-se que educação em uma sociedade não depende apenas da família que se tem, mas também de todas as influências que seu filho recebe e escolhe para si no período de transição entre a adolescência e a fase adulta.
Há pessoas que viveram em ambientes precários, cujos pais eram totalmente irresponsáveis e mesmo assim, por quererem ser o oposto deles, hoje são éticas e idôneas.
Criar filhos não é uma atividade linear, já que muitas variáveis estão envolvidas. Mesmo seguindo a receita de um excelente bolo, o mesmo pode desandar!
Se você teve o ingrediente mais importante para educar uma criança que é a estrutura psicológica e aceitou a sua responsabilidade em educar seu filho ou filha, até mesmo quando o bebê não foi planejado, siga em frente com a cabeça erguida não há motivo para sentir vergonha, seu filho(a) não é você!