segunda-feira, 2 de abril de 2012

Pacientes Impacientes


PACIENTES IMPACIENTES


Suely Pavan Zanella(*)
Eles chegam aos consultórios de psicoterapia já com o diagnóstico na ponta da língua: Tenho depressão; Tenho ansiedade; Tenho TDHA...
A popularização das doenças e transtornos mentais através de livros, revistas, internet e televisão fez com que os pacientes ou clientes de psicoterapia tente se enquadrar racionalmente nestes quadros. Competindo, de certa forma, com seus psicoterapeutas.
Psicólogos, diferentemente de médicos, não ficam a todo tempo enquadrando pessoas neste ou naquele transtorno. *Têm as doenças mentais, transtornos e síndromes apenas como referência, até porque sabem que alguém sabe se é isto ou aquilo, não muda em nada o percorrer da psicoterapia que é profunda e intrapessoal.
Uma psicoterapia é um processo a ser trilhado, e nem sempre fácil e gostoso é o seu caminhar. Como processo não tem um tempo delimitado e vai de acordo com o tempo (timing) do cliente. Não dá pra antecipar o rio, ele, literalmente corre sozinho.
Durante o processo é comum que clientes faltem à sessão, por exemplo. Há conteúdos que são mais difíceis de trabalhar do que outros.  
Na psicoterapia psicodramática, por exemplo, que é feita através da ação, mesmo quando não há dramatização a leitura é feita pelo método do psicodrama. Cliente e psicoterapeuta estão juntos formando um vínculo para trabalhar, e desta forma melhorar o autoconhecimento do cliente. É trabalho, e não um bate papo com um amigo. E pela minha experiência digo que é um trabalho duro. Um psicoterapeuta na faculdade é treinado para não impor suas crenças, e sempre respeitar o ritmo particular de cada pessoa. Não é à toa que a faculdade de psicologia tem cinco anos, e depois ainda fazemos supervisões dos casos atendidos e mais uma formação específica em determinada linha de atuação (psicanálise, bioenergética, psicodrama, etc.). Além de anos e anos de psicoterapia, afinal antes de atender outro ser humano precisamos trabalhar a nós mesmos.
Hoje, nos tempos da impaciência, da pressa e das saídas mágicas não é incomum escutar do cliente que ele tem pressa, muita pressa em resolver os seus problemas.
Lembro-me de uma aluna no curso de psicodrama que numa aula de Role Playing trouxe angustiada a seguinte questão: A avó queria que o neto fizesse psicoterapia. O motivo era trágico: A mãe do menino havia se suicidado na frente dele (ele tinha 7 anos).
A avó queria porque queria que o menino se tratasse em três meses. Este era o tempo que ela determinou para a psicoterapeuta, minha aluna.
Trabalhamos a cena em questão, que era a angústia da psicoterapeuta em dizer “Não é possível” para a avó ansiosa e que devido às características traumatizantes do suicídio da filha também queria livrar-se rapidamente do problema.
Apesar do exemplo trágico, hoje é comum a pressa dos clientes e também uma mania generalizada do não passar pela dor, para resolver velhas questões: Tem um remedinho? Receita floral? Você lê tarô? E se eu repetisse um mantra?
Embora estas práticas nada tenham a ver com o trabalho de um psicólogo e muito menos com a determinação do Conselho Federal de Psicologia, muitos clientes a procuram em função da proliferação dos terapeutas. Psicoterapeuta é um profissional de psicologia apto a atender clientes segundo a determinação de sua profissão. Ou um psiquiatra com formação específica ( após a faculdade) numa determinada linha de psicoterapia.
Se você tiver dúvidas sobre se o profissional que lhe atende é psicólogo ou não basta acessar o site do Conselho Regional de Psicologia de sua cidade. Nele através do nome completo você saberá se ele (a) é cadastrado ou não do conselho. Além disto, por obrigação profissional, todo o psicólogo é obrigada a divulgar em cartões, sites, anúncios, cursos, programas de televisão o número de seu CRP.  
Não queira resolver problemas sérios com poucas sessões, isto não existe e nem resolve.
Estudos atuais demonstram que aqueles que passam por processos de psicoterapia transformadores tem a plasticidade cerebral modificada, pois ampliam a sua percepção e conseguem resolver velhos problemas de novas maneiras. Mas isto demora, é um processo tal como a vida. E não garante felicidade eterna para ninguém.
É a nossa parte saudável que nos faz buscar psicoterapia. Quando queremos melhorar e de fato trabalhar as nossas problemáticas.
Ao invés de tentar se autodiagnosticar e contar isto ao seu psicoterapeuta procure descobrir a formação dele, qual linha segue, como trabalha, etc. e tal.
Não se enquadrar neste ou naquele sintoma já denota liberdade e vontade de melhorar. Lembre-se que apenas ter consciência do que se tem não muda quase nada, o que faz mudar é a relação adequada entre psicoterapeuta e seu cliente, além da forma de trabalho. Se você fosse ao médico e ele te dissesse: Você tem câncer. Isto não mudaria a sua doença. Saber não é mudar. Saber é apenas um exercício intelectual, mudar e se curar faz parte do tratamento.  

(*) Este texto poderá ser usado em outros veículos, desde que mencione a autoria e a forma de contato: suely@pavandesenvolvimento.com.br