quarta-feira, 13 de agosto de 2014

OS QUE FICAM



OS QUE FICAM
“Sobre a morte repentina de entes queridos” 


Suely Pavan Zanella

A série The Leftovers exibida pela HBO mostra o que acontece com as pessoas que perdem repentinamente seus entes queridos: Apegam-se a seitas pra lá de duvidosas; abandonam a fé no que outrora acreditavam; têm esperanças de reencontrar os seres desaparecidos; fazem esforços racionais para seguir em frente; bebem ou se drogam... Enfim, fazem o que seres humanos normalmente fazem em momentos de desespero e em que tem que continuar a viver.
Apesar da série ser ficcional, já que de repente 2% da população mundial simplesmente some sem nenhum tipo de explicação, ela tem seu fundo de verdade, ou de realidade. Pois para uma pessoas ou uma família que perde um ser querido de maneira repentina, mesmo que saiba a razão da morte é este sentimento de “sobra” que resta. É muito difícil de entender mesmo por qual razão alguém simplesmente some desta forma. E olha que neste ano muitas pessoas sumiram repentinamente em acidentes aéreos (foram 6 até o momento neste ano); em guerras imbecis; vítimas de violência ou em acidentes automobilísticos. Elas não estavam doentes ou eram idosas. E elas, inexplicavelmente se foram.
Não sei se houve aumento efetivo das mortes repentinas, ou se hoje ficamos sabendo das tragédias de forma mais rápida em função da Internet e principalmente das Redes Sociais. O que sei apenas é que este sentimento de perda acaba afetando a todos, como cita John Donne neste poema:

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

É este sentimento de empatia que nos une como seres humanos e nos torna humanos. Empatia é a capacidade humana de se colocar no lugar os outros, sentir a sua dor.
Não sentir, não se afetar, não se importar denota além de falta de sensibilidade e empatia, também falha grave do caráter.
Exibem falha de caráter aqueles que fazem piadas, ou brincam com a dor alheia, ou a dor de todos os Humanos nestes momentos trágicos. Hoje morreu Eduardo Campos, antes de ser político ele era uma pessoa, um filho, um marido e um pai. Em função de ser uma figura pública o que se viu nas Redes Sociais, além do sentimento bem vindo de solidariedade, apesar de partidarismos políticos, também vieram junto o pior lado das Redes Sociais que são, não nos esqueçamos, compostas por pessoas. Tive a sensação de que as portas do inferno haviam se aberto. Foi como alguém escreveu no Twitter: Estas pessoas doentes estavam quietas em sua casa antes das Redes Sociais. Hoje, infelizmente elas têm voz, ou escrita, e fazem verdadeiras barbaridades: Acusam sem provas, além de serem frias e cruéis. E se esquecem da dor daqueles que ficam após o advento destas tragédias.
Lendo coisas horríveis deste tipo dá perfeitamente para entender duas coisas:
1)O mundo tem em sua composição uma gama enorme de gente muito doente; O Twitter e o Facebook dão uma amostra de quanto a humanidade está doente;
2) E é por esta razão,  que em alguns momentos a gente que é humano de verdade, e não humanoide, se revolta e vê que algumas  tragédias poderiam ter sido evitadas se mais pessoas se importassem de fato com os seus semelhantes.

Dor a gente sente, banalizá-la é estranho, doente. Hoje na mídia também vi outro exemplo trágico de desumanidade. Mal a morte de Eduardo Campos havia sido confirmada e os repórteres já estavam interessados em saber quem seria o seu substituto. Onde está a humanidade destas pessoas? Como se deixaram corromper deste jeito? Será que um emprego vale tudo isto?

Que mundo a gente vive? Acho que precisamos urgentemente melhorar as pessoas.