segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Solidariedade e Prevenção

Solidariedade e Prevenção
Suely Pavan (*)

Ainda bem que nós, os brasileiros, possuímos duas características importantes: a solidariedade e a criatividade.   A primeira nos dá força para seguir em frente e ajudar os outros, a segunda nos faz também seguir em frente e mesmo com poucos recursos encontrar soluções inovadoras diante de tantos problemas que passam desapercebidos na maioria do tempo.
Falta-nos, porém a capacidade de planejar e prevenir. Nossa solidariedade e criatividade, portanto, acontecem apenas nos momentos de crise e de dor. Primeiro passamos pela lama, e aí descobrimos que poderíamos evitá-la se fossemos mais solidários e preventivos. Na vida normal e cotidiana cobramos pouco daqueles que votamos e que nos representam e deixamos para lá a maioria das coisas que no futuro poderiam nos prejudicar. Quem de fato se importa? Nos momentos trágicos culpamos os governos, mas compartilhamos de suas irresponsabilidades. Deixamos de certa forma eles agirem o tempo todo ao seu bel prazer. Projetos de prevenção contra catástrofes naturais não foram votados e nem sequer discutidos desde 2009, ao passo que o aumento salarial exorbitante foi votado em apenas cinco minutos no mesmo Congresso. Vergonhoso!
Os governos mudam e a situação da população mais pobre piora todos os anos. Faltam hospitais, faltam escolas decentes, não há planejamento urbano e a tendência é piorar. E gente morre a cada ano sem que nada, absolutamente nada seja feito. Nossa solidariedade é precária no que diz respeito à prevenção. Somos reativos e aprendemos pouco ou quase nada com nossas tragédias. No ano passado centenas de pessoas morreram atoladas no lixo no Morro do Bumba, você já pensou no que foi feito naquele local e com as pessoas que ficaram abandonadas à mercê da sorte depois que a comoção nacional se esvaiu?
Somos bombardeados pelos fatos presentes, mas não há nenhum site que acompanhe os acontecimentos posteriores. E esta falta de memória nos faz esquecer aquilo que a natureza nos faz lembrar. Há quem culpe as chuvas e até ache que vivemos uma espécie de “fim do mundo”. Na Austrália também choveu, e morreram 20 pessoas. Em 1967 mais de 400 pessoas morreram em Caraguatatuba devido às fortes chuvas, e hoje a cidade está outra. Infelizmente não há dados de como a cidade fez para se reerguer. Que sistema de prevenção usou, que mecanismos contra a ocupação ilegal instalou, como planejou a cidade de forma mais inteligente, o que fez com os pobres que não tinham onde morar? Os dados que encontrei na internet sobre a reconstrução da cidade fazem parecer que a mesma se reergueu da lama através da magia. Diferentemente da Austrália que diz claramente o passo a passo de como está se reerguendo e quais ações estão tomando.
644 mortos e muitos desabrigados é o saldo de nossa insistente falta de planejamento. As chuvas não cessarão, elas sempre existiram e existirão. Porém, minimizar os efeitos das tragédias é da competência humana. E cabe a cada um de nós sermos solidários com estas pessoas neste momento de dor. Cabe também a nós todos fazermos a nossa parte solidária em nosso dia a dia para que tragédias sejam evitadas. Abaixo assinados, passeatas, e outras ações realizadas através da união de todos podem surtir efeitos. O brasileiro já foi reivindicador, apenas nos esquecemos disto. Ações voluntárias de caráter preventivo também podem ser realizadas junto às populações mais carentes. Logicamente estas ações devem ter seus resultados mensurados para que saiamos de uma vez por todos dos bla, bla, blás assistencialistas. É preciso que o povo tenha outra consciência e que a palavra conformismo seja substituída pela palavra direito. Se todos têm direito constitucional à vida, educação, moradia, segurança e saúde por qual razão estes direitos são hoje tão ultrajados?

Para ajudar na tarefa de acompanhar o desenrolar das notícias, para que as mesma não caiam no esquecimento acabo de criar o blog “O que aconteceu depois? “ Para mantê-lo precisarei de sua ajuda ativa, só assim terei como publicar os fatos e dados do que aconteceu depois que o tema/assunto tenha saído das manchetes. Só assim também poderemos cobrar as autoridades. Somos nós que temos a obrigação de acompanhar os acontecimentos. O endereço deste novo blog é:     

Para ajudar as vítimas das tragédias ocorridas no Rio de Janeiro e São Paulo, acesse: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/01/14/policia-do-rio-arrecada-doacoes-veja-como-ajudar-as-vitimas-das-enchentes.jhtm

(*) Este texto poderá ser publicado em outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato: www.pavandesenvolvimento.com.br