segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MAMÃES E PAPAIS PERIGOSOS


Suely Pavan (*)
O pai de Lucas deu uma festa “daquelas” para comemorar o aniversário de 16 anos do filho. Alugou um “buffet” com piscina e um grande espaço para dançar. Ele mesmo comprou uma grande quantidade de vodca e uísque para a “molecada se divertir”, conforme relatou. O resultado da festa foi: a maioria dos adolescentes embriagados; banheiros cheios de vômito; roupas e celulares perdidos para sempre e algumas reclamações de poucas mães. O Lucas, porém, ficou muito feliz com a modernidade de seu pai, partilhada, aliás, por outros pais da escola em que ele estuda.

Marina tem 15 anos e sua mãe é a preferida da rua onde ela mora, todos os adolescentes gostam dela, e queriam ter uma mãe como ela. Ela é “descolada”. Não se importa, por exemplo, quando os amigos de Marina bebem em sua casa. Ela até incentiva: Tome uma cervejinha!
Outro dia conversando com amigos de Marina em tom de cumplicidade e complacência disse: Vocês gostam mesmo é de curtir uma “ervinha”.
Os amigos de Marina acham que a mãe dela é bem tolerante com bebidas e drogas. Mas a realidade não é bem assim, se Marina, sai com um amigo mais velho e que dirige ela diz: Se você beber eu te mato!
Ela é incentivadora e camarada apenas com os amigos de Marina, e não quando se trata da própria filha. Os outros que se danem!

Joana está na piscina com o filho de 7 anos, quando eu o vejo bebericar a caipirinha dela, enquanto ela dá uma mergulho. Aviso Joana que o seu filho está bebendo, ela me diz: Jura?
Viro as costas, sento-me numa cadeira próxima e vejo ela dando bebida alcoólica para o filho.

Embora com os nomes trocados as três cenas acima foram vivenciadas diversas vezes por mim mesma em diferentes situações. A minha reação a elas foi de total perplexidade. Muitos e bote “muitos” nisso são os pais que insistem em fazer o papel de moderninhos e tudo permitirem em relação aos colegas de seus filhos e até aos próprios filhos. Eu mesma, quando meu filho era adolescente sentia-me absolutamente sozinha quando dialogava (inultimelmente) com outros pais. A resposta que eu ouvia era sempre a mesma: Vai passar, eles são apenas adolescentes. Adolescentes precisam experimentar de tudo, não é mesmo?
Ouvi esta argumentação medíocre inclusive de profissionais psicólogos que atendiam adolescentes e consideravam “normal” esta mania quase nacional de beber até cair. Outros, os piores, faziam “vista grossa” e fingiam não perceber quando seus filhos chegavam em casa bêbados ou drogados. Vi uma vez um adolescente de uns 15 anos absolutamente drogado em frente à minha casa com uma seringa enfiada no braço. Nesta ocasião ele me disse que seus pais nem sequer percebiam quando ele estava assim!
“Peça ajuda a eles”, insisti. Ele sorriu pra mim como se ninguém nunca tivesse o notado na vida. Notado que ele se drogava insistentemente. Eu também nunca mais o vi, depois deste dia. Era um jovem típico da classe média alta.
Todos sabem que a adolescência é uma fase difícil, de descobertas e de experimentações, porém os pais devem cumprir o seu papel. Entender é uma coisa, permitir é outra absolutamente diferente. O mesmo comportamento deve permear a pauta dos atendimentos psicológicos. Não consigo entender como um profissional da área “psi” exerce uma omissão quase que total quando o assunto é drogas, álcool, e sexo precoce na adolescência.
A sociedade de uma forma geral é quase psicopata neste assunto e não se importa com jovens entornando garrafas de vinhos baratos, por exemplo, na frente das escolas. Ou consumindo bebidas e depois dirigindo quando saem das lojas de conveniência dos postos de gasolina. Não entra na minha cabeça que a tal da lei seca permita que se venda bebida alcoólica no mesmo local onde se compra gasolina!
Há uma série de incoerências sociais facílimas de resolver. Os pais, por sua vez precisam urgentemente cumprir o seu papel: Bebidas não, drogas não!
Claro que o adolescente não vai gostar. Claro, também que ele vai justificar dizendo que “todos” os amigos da mesma idade bebem. Porém, esta orientação deverá ser dada milhões de vezes. Ninguém impedirá também que o adolescente beba ou se drogue fora de casa. Mas os pais não podem deixar de se posicionar a este respeito. Muitos ainda cedem aos filhos, como se eles, e não os pais mandassem em casa. Existem pais que confundem posicionamento com a ação dos filhos, outros ainda, confiam tanto na educação que dão aos filhos que são incapazes de imaginar que há um meio social permissivo ao extremo.

(*) Este texto poderá ser utilizado em outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato: suely@pavandesenvolvimento.com.br
Palestras sobre este tema e atendimento psicológico de adolescentes  e adultos poderão ser feitos também através deste e-mail. Atendimento psicológico em São Paulo nos seguintes bairros: Jardins, Campo Grande (Santo Amaro) e Vila Mariana.       
      

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