terça-feira, 17 de novembro de 2015

Quando Será o Dia da Minha (Sua) Morte?

Quando Será o Dia da Minha (Sua) Morte?


Por Suely Pavan Zanella

Eles estavam felizes. Alguns assistiam a um jogo de futebol, outros foram ver um show de heavy metal em uma casa que desde sua fundação estipulou que por lá valeria qualquer tipo de espetáculo, menos a tragédia. Outros passeavam nas ruas.  Havia também aqueles que bebiam e fumavam nos bares, bem ao estilo livre e com mania constante de contemplar a vida parisiense.  O que nenhum deles sabia é que minutos depois muitos deles estariam mortos. Aqueles que ao contrário deles cultuavam a sombra e a infelicidade não se eximiram em atirar aleatoriamente. O que a vida e seu sentido representam para todo e qualquer assassino? Nada.
Fernando Savater em seu livro Ética para o Meu Filho diz que se todos os maus da face da Terra fossem corajosos diriam: Sou mau porque sou infeliz. E sou infeliz porque nunca fui amado.
Só os infelizes e sombrios não se eximem em apagar a luz alheia. Os puritanos fazem o mesmo, com a diferença, que matam a vida em vida. Quando você está bem, eles acham o contrário e vive e versa.
Os assassinos em geral seguem o mesmo curso. A vida para eles não representa nada, então, dentro desta lógica tirar a vida alheia dá no mesmo resultado: o nada.
Mas, para a maioria de nós que tentamos diariamente trabalhar, estudar, conviver com família e amigos, viver é muito importante. E nos momentos do dor da morte alheia, próxima ou não, passamos a pensar na vida e em sua importância. Não para viver intensamente, e desta forma também acabar com a vida mais rápido, mas sim para ir vivendo. Acredito que o gerúndio caiba exatamente bem quando o tema é vida. Vida que te quero viva!
Talvez o evento mais emocionante para os seres humanos seja o fato de ainda viver. E não saber quando tudo isso um dia e por qualquer razão cessará. Não importa que você seja adepto de alimentação saudável, coma só alface, até. Seja fumante ou não.  A verdade é que todos nós apesar da vida que vivemos um dia morreremos. Ninguém ficará para a semente, mesmo que leve a vida mais saudável do mundo. Todos os veganos um dia morrerão. Todos os que tomam não sei quantas xícaras por dia de café, idem, mesmo que as pesquisas digam que tomar não sei quantas xícaras do bom café promova a longevidade. Até porque viver muito ou preso a mil aparelhos em uma cama de hospital não deva ser lá muito bom!
Um vizinho de noventa e oito anos um dia no horário do almoço me disse: Viver muito cansa. O corpo não acompanha a sua cabeça!
O negócio, eu acho, é viver bem! Já que ninguém sabe mesmo quando partirá para sempre.
Você pode estar bem, e de repente ser surpreendido com a morte, como aconteceu em Paris, e diariamente nos homicídios.
Você pode estar doente, e se recuperar. Ou então estar doente e não alardear a sua doença, e de repente morrer. Já perdi três amigos do Psicodrama assim. Eu os acompanhava pelo Facebook, mas os conhecia pessoalmente, e um dia descubro que eles morreram. Obviamente levo um susto, e só depois descubro que eles estavam doentes. Mas diferente de muita gente que hoje quer se tornar famoso através de sua doença, desgraça ou mazela da vida, eles não propagandeavam as suas dores, ao contrário faziam postagem inteligentes e bem humoradas. Mas, no reduto de suas vidas particulares se tratavam. Nenhum deles deixou de trabalhar em meio aos tratamentos. Doença, estupro, depressão, ou seja, lá o que for não representa ninguém. Somos mais que isso, somos a vida que levamos. É o nosso conjunto que interessa. E aquilo que deixamos como exemplo.
Todos os dias no Twitter eu leio o obituário de alguém, acho que é a Folha de São Paulo que publica. Não sou chegada a dramas, mas é muito especial o jeito com que descrevem a vida de alguém: Gostava de cuidar das plantas; era apaixonada por piano...Descrições dos legados em vida.Isso é lindo! Todo o ser bom, deixa algum bom legado. Não preciso ser famoso e nem seque reconhecido pela população do planeta.
Não tenho como resgatar um monte de gente que morreu. Gente que sinto falta, muita falta. Alguns até hoje não acredito que morreram, tal como minha prima e meu pai. Mas, lembro-me deles e de todo o significado que eles tiveram na minha vida. Posso dizer que convivo com esta dor diariamente. Não adianta, quando perdemos alguém que de fato amamos a dor dói e muito. A saudade aperta, principalmente quando chega esta época do ano, em que a família é muito vital. Natal e Ano Novo com gente amada fazendo falta são difíceis de encarar.
Não recomendo a ninguém pessoal e profissionalmente, que engula as suas dores, ao contrário. Dores fazem parte da vida e são sofridas. Mesmo que as frases de autoajuda digam o contrário, como essa aqui, por exemplo: A dor é inevitável, o sofrimento não!
Apesar do jogo de palavras ser lindo, nunca vi ninguém sentir dor sem sofrer, aliás, são palavras semelhantes.
Quem engole dores um dia é cobrado por elas. Perceba que ao mesmo tempo em que cresceu a autoajuda (normalmente nos momentos de crise) também aumentou a depressão.
Tem gente, hoje em dia, que vive anestesiado com medo de não sentir dor. Quer que elas passem bem rápido. Não passam!  
Lembro de Freud que ao perder o seu neto querido perdeu também a vontade de viver. Trabalhava porque tinha contas a pagar, mas não tinha vontade de nada. Assim é o luto. Arrastamos-nos, para poder seguir em frente. E um dia, cada um ao seu tempo, conseguimos seguir. Assim é a vida!
A cidade de Paris está em luto, e mesmo assim, junto com sua dor silenciosa tenho aprendido muito com os parisienses. Os mais velhos dizem: A vida tem que continuar, ceder ao medo neste momento é a pior coisa. Eles têm razão. A vida continua e carregamos a dor dentro de nós, e através do nosso silêncio.

Ninguém sabe, afinal, quando será o dia de nossa morte. Mas enquanto este dia não chega que façamos de nossa vida algo digno, não só para nós, mas para todos que nos circundam. A luz sempre incomodou a escuridão. Que a vida nos mostre sempre a luz, e nos afaste da escuridão. É da luz que veio a vida, a liberdade e a inteligência. Que seja feita a luz! 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O TEMPO EM QUE DANÇÁVAMOS JUNTOS

O TEMPO EM QUE DANÇÁVAMOS JUNTOS

Por Suely Pavan Zanella


Não pense você que vou escrever sobre a época dos bailes vienenses regados a Strauss. Muito menos de dança de salão, ou da forma elegante que os mais velhos dançavam em bailes espalhados pela cidade.
Nada disto!
Este texto versa sobre um hábito simples, não coreografado, e que não consistia em nenhum passo marcado. Bastava apenas a menina ou mulher, abraçar o pescoço do rapaz e ele fazer o mesmo ao redor da cintura dela. Os passos não tinham nada de dois pra lá, dois pra cá. Tinha gente até que dançava parada.  A verdade é que em toda danceteria, boate ou balada, depois de três ou quatro músicas agitadas, se tocava duas ou três chamadas de “música lenta”. Toda a banda, ou ao menos a maioria delas, tem em seu repertório músicas lentas, dançáveis, portanto, a dois. Vi isso até no último Rock In Rio!
Acredito que o ato de não tocar mais músicas lentas em baladas começou por volta do final dos anos 90. Ao menos em São Paulo foi assim. Quando as baladas por aqui se tornaram segmentadas, e o ato de dançar ganhou ou a adesão maciça das danças de salão, ou o egoísmo da pegação. E também as baladas em São Paulo começaram a ficar divididas por idade. O que é um verdadeiro absurdo. Dançar não tem restrição de idade, como disse certa vez o falecido ator Raul Cortez, ao ser motivo de gargalhadas por parte dos jovens preconceituosos ao dançar freneticamente em uma balada.
 O ato de dançar juntinho era uma excelente oportunidade de conhecer alguém. Já que durante a música era possível bater um papo. Se o papo era bom durava mais de uma música, caso contrário se encerrava logo de cara. Se o rapaz era inconveniente, do tipo que só queria ficar passando a mão na garota, também era fácil descartá-lo. Ao contrário de hoje em dia em que baladas só servem para beber até cair e fazer campeonato de quem beija mais, antigamente o prazer era conhecer pessoas.  E não é à toa que muita gente conheceu o namorado ou a namorada em um evento assim.
A música lenta seguia com precisão os passos para se conhecer alguém. Antes havia a paquera, e depois o bate papo. Nada era invasivo, como nos dias atuais. Hoje temos uma nova lei sobre o estupro, em que até um beijo forçado é considerado abusos sexual. Fico imaginando como deve ser difícil de provar este tipo de crime, em função da beijação generalizada e obviamente da bebedeira que virou sinônimo de diversão. Nos tempos da música lenta seria muito fácil, e na realidade não haveria o que temer, pois um beijo forçado era notório, e a garota normalmente, apesar da inexistência da lei, não se acanharia em se livrar rapidamente do seu agressor. Os beijos e amassos que poderiam ocorrer durante uma música lenta eram visivelmente consentidos por ambas as partes. E ninguém ficava contando com quantas pessoas ficou durante a noite.
As pessoas que viveram a época das músicas lentas tocadas em toda e qualquer balada, provavelmente são do tempo em que na infância e na adolescência participavam de bailinhos de garagem na casa (como na foto) de amigos, parentes, escolas e vizinhos. Estas atividades eram normais nos anos 70 e 80.
Desde que eu era pequena, a família de minha avó materna tinha o hábito de tirar as mesas da sala e dançar após as comemorações de Natal e Ano Novo. Como eu era muito pequena ficava com a seleção musical, uma espécie de DJ da época.

Tudo era regado a música, tanto que sempre achei que a vida deveria ter trilha musical. Havia música para os momentos alegres, tristes, e também para dançar juntinho. Com o fundo musical era possível liberar a imaginação. Bons tempos!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Por Te Amar Tanto

POR TE AMAR TANTO


Suely Pavan Zanella

“Por te amar demais eu tenho permitido coisas aparentemente absurdas, para os outros.
Eu fico sempre tentando descobrir, por exemplo, o que fiz de errado, quando não te agrado.  Será que meu cabelo está mal penteado? Será que estou gorda e feia? 
Tenho feito academia incessantemente nos últimos anos, mas a impressão que tenho é que engordei e estou ficando velha. Afinal você vive a me criticar dizendo que eu como demais. E também não se exime em olhar as outras mulheres nas ruas.  
Ontem quis te fazer uma surpresa e te levei naquele restaurante em frente à praia que você gosta tanto e fiquei muito magoada quando você olhou descaradamente a moça que passava de biquíni. E o ato de me magoar te irritou muito. Peço desculpas pela minha infantilidade. E também pelo nervoso que te fiz passar. As pessoas no restaurante olhavam para você gritando na mesa comigo sem imaginar que eu era a culpada por você estar passando aquela situação constrangedora. Afinal, se eu me cuidasse mais você não teria necessidade de olhar para outras mulheres.
Sei que já fiz muitas promessas, e sempre você me diz que eu só sei falar e nada faço para melhorar o meu comportamento inseguro. Sei também que você não gosta de mulheres inseguras. Já me afastei dos meus amigos e parentes que você dizia que só me faziam mal. E desde que nos conhecemos você disse que ia cuidar de mim. E sempre fez isso, tomando o cuidado para que eu não me vestisse de forma atrapalhada ou chamativa demais. Sei que agora que você está desempregado tem ficado sozinho por muito tempo em casa. E que eu nem sempre tenho dinheiro para pagar as coisas que você gosta, como aquele vinho francês que sempre tomávamos. Vou me esforçar mais, para arrumar mais dinheiro, e talvez hoje à noite eu comece a fazer traduções em casa, após fazer um jantar especial para você, é claro.
Ah! Antes que você fique sabendo por outras pessoas hoje de manhã eu encontrei com aquela minha amiga da faculdade, a Magali lembra?
Ela me convidou para tomar uns drinks após o trabalho, mas como eu sei que você não gosta dela, eu recusei. Fique tranquilo!
Eu não quero te estressar e nem causar mais dissabores, e sei que você está chateado por ter perdido o emprego.
Ontem você disse que não aguenta mais morar comigo. Lembre que eu te amo demais! E não quero por nada te perder. Não sei o que seria de mim sem você. Prometo ser uma pessoa melhor.  
Não vou mais implicar também com as drogas e seus amigos que você traz para dentro de casa quando eu não estou. Talvez estas drogas te tragam o alívio que eu não sou capaz de te dar.
Essa noite, após o soco que você me deu, eu fiquei pensado em quanto eu estou errada em reclamar. Afinal, há três meses você está sem trabalho. E devido a esta crise não tem conseguido emprego.
Fique tranquilo que desta vez ninguém percebeu os hematomas em meu rosto, como daquela outra vez. Sei que você me bateu por puro nervosismo, afinal eu te irritei muito ontem no restaurante.  
Te amo demais!”

E-mail enviado por uma vítima contumaz de violência psicológica e física ao marido violento.
Ela como a maioria das vítimas acredita que é a culpada pelo comportamento violento do outro.

Se você se identificou com parte ou a totalidade deste texto busque ajuda. Você é co-dependente de um homem/situação violenta. 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Brigões, Valentões, Machões e Playboys... Até que a Polícia chegue!

Brigões, Valentões, Machões e Playboys... Até que a Polícia chegue!

João Valentão é brigão
Pra dar bofetão
Não presta atenção e nem pensa na vida
A todos João intimida
Faz coisas que até Deus duvida...
João Valentão – Dorival Caymmi
Suely Pavan Zanella

Eles são corajosos, destemidos, e, até cruéis, mas este jeito peculiar de se achar invencíveis tem duração curta. Sua coragem, rebeldia e macheza dura até que a polícia chegue.

Com os bandidos já acostumamos a ver este tipo de comportamento. Com as vítimas não se cansam de usar frases feitas e assustadoras em assaltos. Adoram ameaçar. Mas quando a polícia chega é “sim senhor pra cá”, “sim senhor pra lá”. E, mal levantam a cabeça para olhar o policial. De repente viram donzelas assustadas.

O mesmo acontece com os valentões no transito, aqueles que cortam, costuram, só para chegar em primeiro lugar no semáforo, ou sei lá onde. Como a macheza é muito grande, a ponto de incapacitar a sua possibilidade de pensar, eles nem de percebem que aquele que corre nem sempre chega mais rápido a algum lugar. Eles te jogam nas guias, grudam na traseira do seu carro nas estradas, ma não tem coragem de assumir que gostam da velocidade e se habilitem a correr em Interlagos, por exemplo! A coragem deles, ou pseudocoragem é limitada, o que eles gostam mesmo é de azarar nas ruas, e “meter” medo. Tal como os bandidos, a valentia deles dura até que sejam parados pela polícia. Já vi muito “macho” fazendo um monte de barbaridades no trânsito, mas que nunca tiveram coragem de fazer o mesmo se há um carro de polícia à frente, mesmo que esteja lento, devagar quase parando. Sempre tenho vontade de dizer: Vai valentão, agora dá farol alto e fica buzinando para o carro da polícia!

E nem preciso dizer:Nunca vi nenhum valentão ser valente para encarar a polícia no trânsito.
Certa vez um ônibus fazia manobras perigosas pela manhã em uma avenida movimentada de São Paulo. O motorista, apesar das minhas buzinadas e também alertas de outros motoristas não se eximia em fazer verdadeiras barbaridades no trânsito. Ao avistar um carro de polícia fiz sinal, e a viatura parou. Falei que era psicóloga e que aquele motorista de ônibus era um assassino em potencial. Os policiais imediatamente pararam o ônibus, e adentraram no mesmo. E eu e os demais motoristas seguimos os nossos caminhos com tranquilidade. Para aqueles que não sabem potencial significa que alguém capaz de cometer um ato seja ele bom ou ruim, ou seja, tem potencial para. A maioria dos motoristas que fazem estas barbaridades no trânsito são assassinos em potencial, por mais que pareçam calmos para seus vizinhos ou parentes. Quem tem potencial para alguma coisa pode cometer um crime, por exemplo, desde que tenha as condições propicias para tal. Portanto, exames para tirar ou renovar carteiras de motoristas a meu ver deveriam ter avaliações psicológicas rigorosas.

Os agressores de mulheres, negros e homossexuais fazem o mesmo. Batem, xingam, agridem, mas viram “bonzinhos” e pacíficos quando a polícia chega, salvo quando estão embriagados ou drogados.
No vídeo abaixo um “machão” agride uma mulher na rua, e veja a reação “mansinha dele ao se deparar com a polícia: https://www.facebook.com/plantaopolicial1/videos/811408648968752/?pnref=story

E hoje temos a figura do valentão, machão, das redes sociais. Eles, e também elas agridem nos comentários que fazem, e reúnem uma série de pessoas doentias ao seu redor, que sofrem do mesmo machismo que eles e até elas. E depois, quando advertidos, tentam a todo o custo “aliviar” suas palavras dizendo que estavam bêbados, que eram brincadeiras, e outras frases típicas de agressores, ou jovens sem juízo. Eles ainda acreditam que a Internet é terreno fértil para o exercício da psicopatia generalizada, e se assustam quando se deparam com as leis. Esses valentões atacam figuras públicas, policiais, negros, mulheres e gays, e se escondem covardemente atrás de perfis falsos. Sua “coragem” é limitada ao insulto, pois não sabem lidar com as consequências de seus atos. A verdadeira coragem, porém, é aquela em que nos dispomos a encarar as consequências de nossos atos. O resto é balela, machismo e valentia circunstancial, geralmente aplicada contra os mais fracos. Playboys, de todos os tipos costumam agir desta forma.


Ainda bem que existem bons policiais para coibir estas práticas truculentas, esta violência diária, que muitas vezes acarreta péssimas consequências às vítimas destes valentões de araque. 

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

“HOT GIRLS WANTED”- Em busca da fama e do dinheiro

“HOT GIRLS WANTED”- Em busca da fama e do dinheiro

Por Suely Pavan Zanella

Elas têm entre 18 e 20 anos. Saem da casa dos pais, famílias de classe média e trabalhadores dos E.U.A., em busca de fama e dinheiro. O palavreado delas versa sobre: dinheiro fácil, rápido e fama imediata. Querem ser vistas, e ficarem famosas tal como é mostrado também no filme e livro Gangues de Nova York. Parece que esta nova geração de garotas, mal saídas do colegial, buscam a famosidade e novas visualizações a todo o custo, já que não tiram os olhos do celular. É isto o que mostra o excelente documentário Hot Girls Wanted disponível no Netflix, dirigido por duas mulheres: Ronna Gradus e Jill Bauer.

Antes de escrever este texto li várias críticas à respeito do documentário a maioria delas não muito boas,outras pessoas ficaram chocadas. Meu ponto de vista aqui será explorar este novo lado, e que pra variar pouca gente fala aqui no Brasil, que é justamente desta geração que busca dinheiro rápido, fácil e fama imediata, a qualquer custo. Uma geração fascinada por reality shows, Paris Hilton, e semelhantes. E principalmente uma geração que gosta de exibir-se publicamente. Já soube de casos, em meu consultório, de mães preocupadas porque descobriram blogs e fotos das filhas na Internet em trajes sumários. 

Todas as meninas eram de classe média alta. Apesar da boa educação e dos excelentes colégios que estavam gostavam e não viam mal algum em mostrar-se com pouca ou nenhuma roupa. E se não formos hipócritas veremos que está se tornando a cada dia mais comum o ato de mostrar-se, seja fazendo vídeos de si mesma em poses, ou melhor, performances chamativas e também sexo com rapazes, meninas e em grupo. Há uma necessidade absurda de reconhecimento visual, como se sem ele elas não existissem mais. O reconhecimento tanto pelas garotas mostradas no documentário como no cotidiano se dá através de “views”. “Mostro-me, logo existo”, parece ser o novo paradigma.

As meninas mostradas no documentário expõem seus vídeos e fotos no Twitter, que permite material pornográfico, diferentemente do Facebook e Instagram. É bom lembrar também que no Twitter a idade mínima para cadastramento é de 13 anos. Embora elas pareçam menores de idade, todas são maiores de 18 anos. O fator ter “cara de menina e comportar-se como tal” gera grande atratividade no público que assisti a este tipo de filme. A carreira delas dura muito pouco, já que o público quer sempre ver garotas novas, e por este motivo é chamado de “vídeo amador”. E a lista de garotas que procuram o recrutador, que leva 10% dos valores cobrados dos filmes que elas participam, além de festas, etc., não para de crescer, é um negocio muito lucrativo. Elas são descartáveis. Se a ilusão do dinheiro fácil, fama, e viagens é fator de atratividade no começo, logo elas se deparam com a realidade da violência dos filmes pornôs. Se paga mais, é claro, em cenas em que o ingrediente agressividade é mais forte, como no abuso facial e sexo oral que provoca vômito, que elas têm que comer. (Só de escrever me dá nojo!).  

Uma das participantes do filme desiste da carreira em função do desgosto causado aos pais e a tristeza evidente do namorado. Sem querer fazer discursinho politicamente correto (foi o que eu mais li nas críticas ao filme) deve ser muito difícil mesmo para um pai e uma mãe saber que sua filha bem criada caiu na indústria pornô. E também não sei como é ser namorado ou namorado de alguém que passa boa parte do tempo transando sem camisinha com outras pessoas.

Por qual razão elas entram nesta vida? Como já disse: Pelo dinheiro fácil e rápido e pela fama instantânea. Elas mesmas falam isso a todo o tempo.   
Embora eu não tenha lido nenhum comentário à respeito nos materiais que pesquisei, no documentário elas são descrentes de relacionamentos, e são frias, algumas nem sequer gostam de sexo, e outros os veem como sua grande motivação na vida. Elas de certa forma se tratam como materiais, e não é à toa que aquela que desiste da carreira o faz em função do namorado.
As prostitutas antigas disseram que ficaram pobres depois da Internet. Tenho certeza absoluta disso. Hoje milhões de clicks pornôs estão acessíveis para qualquer um a qualquer hora e em qualquer lugar. Logo aparecerá uma bela menina que busca fazer tudo o que quer na vida com o objetivo de se livrar de pais que dialogam e lhe deram uma boa vida. Honestamente acho triste me deparar com uma geração de meninas que busca freneticamente se comparar a um objeto a ser molestado. 

terça-feira, 21 de julho de 2015

O QUE DÓI É O NUNCA MAIS!



O QUE DÓI É O NUNCA MAIS!

“Quando a gente tenta de toda a maneira dele se guardar, sentimento ilhado, morto,e amordaçado volta a incomodar”
Fagner

Suely Pavan Zanella

Estão querendo patologizar o luto. Torná-lo mais curto, e menos dolorido. E desta forma fazer com que a pessoa enlutada possa encarar a vida prática com mais rapidez. “Seguir em frente” parece ser o lema atual, como se fossemos máquinas dispostas a fazer sempre o nosso trabalho, e como se a perda do outro, fosse a perda de uma peça dentro de uma engrenagem fabril. Não, não é assim!
O luto é um processo necessário, não tem duração definida, é preciso sentir a dor da perda do outro, e lembrar que só o tempo, apenas ele, trará a resignação para seguir em frente.  A dor não vivida pelo luto, em função da morte de alguém querido, é muito diferente dos diferentes lutos que vivemos na vida. E olha que na vida temos vários lutos: nossa infância, juventude, trabalhos e amores.  
A dor do luto na morte, porém é diferente, ela representa a ausência física e real do outro. É a dor do nunca mais. Nunca mais o teremos sentado à mesa nos jantares familiares. Colocaremos por distração às vezes, um prato a mais, e só depois lembraremos que a pessoa amada não está mais lá. Nunca mais ouviremos sua risada estridente ou seu silencio fugaz. Nunca mais ouviremos sua voz única, com aquele timbre e jeito de falar que só ela na Terra tem, ou tinha. Nunca mais veremos seu jeito de ficar irritada, ou tímida. Nunca mais ouviremos os passos peculiares no momento que chegava, partia ou perambulava pela casa.
O nunca mais é o que dói. Não há como superar este vazio rapidamente, nem ser forte, como muito insistem em dizer no momento das condolências. Aliás, não há muito o que dizer nestes momentos tão difíceis. Toda a tentativa de aplacar a dor alheia é em vão. Talvez o caminho, seja o abraço sincero, aquele que nos lembra de que ainda estamos vivos e entrelaçados de alguma forma pela humanidade do outro, que sente dor, e sabe que perder alguém não é fácil ao menos para quem é humano e não segue a ditadura da felicidade constante recheada de sorrisos plásticos, olhos tristes, tristezas acumuladas e depressão como consequência e mola motriz.
Não há pressa. Chore quando precisar e quiser. Não interrompa a sua dor. Lutos foram feitos para serem vividos, e nós os humanos, mesmo quando espiritualizados, precisamos vive-los. E cada um neste processo tem o seu tempo e sua forma de encarar esta dor, sendo que o pior caminho é tentar fugir dela ou encurtá-la. E as dores sempre doem. Deixe-as doer a seu tempo. Ser forte não é engolir dores, e sim lembrar-se que elas fazem parte dos seres humanos. Um dia com delicadeza e auto respeito a dor perde espaço na vida e fica apenas a saudade, marca indelével daqueles que cultivam suas cicatrizes como belas tatuagens.   
Ontem perdi minha prima. A saudade dói e muito. A morte prematura e repentina de alguém por si só é assustadora. Sábado ela estava viva e hoje não está mais. Se foi. Como assim? Um misto de sentimentos me possui: raiva; tristeza; saudade; medo da temporalidade da vida, que todos sabemos existir racionalmente, mas que quando nos afeta dói profundamente.
Do sábado para o domingo enquanto ela ainda estava em estado muito grave no hospital eu não conseguia parar de pensar nela. Não conseguia dormir. Lembrei-me dos momentos alegres. Só eles preenchiam minha cabeça e coração. Do baile de carnaval que formos juntas com seu então namorado inseparável,  e que depois se tornou seu marido. Das fantasias que ela usava quando jovem, dos vestidos curtos e das pernas bronzeadas. Do sorriso largo que lhe preenchia o olhar.  Do seu jeito alegre de contar os fatos, que um dia em minha casa de tanto chorar de rir fiquei sem ar e com o rosto todo borrado de rímel. De sua voz forte e firme de professora. Que falta ela fará, e já faz!
Nossa convivência não era diária e nem constante. A vida se encarrega de fazer que com o tempo e a maturidade cada um de nós, unidos na infância, cuidem de suas vidas e novas famílias na maturidade e sigam diferentes caminhos. Mas este fato não significa rompimento dos laços de afeto de outrora.  
Ela fará falta, muita falta.   Não há como negar e muito menos deixar de sentir.

“...Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.
 Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá...”
Toquinho

segunda-feira, 6 de julho de 2015

NOVOS RELACIONAMENTOS



NOVOS RELACIONAMENTOS
Ficante? Peguete? Namorado?


Por Suely Pavan Zanella

 
Paira uma dúvida no ar no início de qualquer relacionamento: Afinal, o que sou: namorada ou ficante?
Principalmente nos novos tempos em que a hierarquia de relacionamentos segue uma espécie de cronograma de títulos: peguete; ficante; namorada; noiva (nem todas passam por este passo hoje em dia); namorido e talvez marido.
Citei tudo no feminino no parágrafo anterior, pois a dúvida, na maioria dos casos, é das mulheres, como se os homens sozinhos fossem capazes de graduar a relação. E como se relacionamentos se não se decidissem a dois. Mas, infelizmente, ainda os homens é que dizem se têm ou não uma namorada. Cansei de ver a cena da apresentação do rapaz em relação à moça, e o olhar ansioso dela para saber de que forma seria apresentada. A cara de decepção dela quando ele sonoramente diz: Essa é minha amiga... Já vi casais que estão constantemente juntos em festas, eventos, e ele sempre a apresenta como amiga. Se conversarmos com ela separadamente veremos que dá 252.000 explicações diferentes para a atitude do rapaz. Ou seja, mesmo que ela ache um absurdo a situação, continua a concordar a ser somente “amiga”, e talvez esse seja o único jeito que ela encontrou (ou acredita que encontrou) para ficar com o rapaz que evidentemente tem pavor de se relacionar.  
No item relacionamentos estamos (pra variar) copiando o modelo americano, já que em outros países, a coisa ocorre diferente. Há países europeus, por exemplo, em que se alguém tem interesse em sair com você pessoa isso já é um início de namoro. Afinal, namoro não é isso mesmo? Namorar serve para conhecer outra pessoa, apenas isso. E hoje mesmo dentro do namoro existe outro fator: A tal da aliança de compromisso!
Quanto ao ato de ficar, isso sempre existiu, mas antes se chamava amasso e era circunstancial. Você estava numa festa, por exemplo, e resolvia dar uns amassos em fulano ou beltrano. Se a coisa fosse boa, e houvesse interesse de ambas as partes o casal poderia até sair e daí engatar um namoro. Tudo muito simples, e sem complicação.
Hoje não, relacionamentos viraram uma enorme complicação, e para não dizer graduação confusa e inútil. Parece até que com medo de ser relacionar, ou amar, as pessoas por aqui criaram uma espécie de sistema de segurança, em que há vários níveis de garantia.
Antes não, a coisa era simples! Nem todo o relacionamento de amassos ou pegadas, por exemplo, significavam afeto ou amor. Já vi gente de monte justificando ou fazendo força para justificar um relacionamento que só é bom na cama, mas que na vida vertical deixa a desejar, e óbvio que relacionamentos assim jamais dão certo.
Tem gente que racionaliza e diz: Pra mim pouco importa, tanto faz se sou namorada ou ficante, o importante não é o nome, é o que há entre nós!
Então, tá!
Se o nome ou o título não fosse tão importante assim a ansiedade não correria a solta como ocorre hoje. Em que cabeças femininas estão cheias de “Será?”
O melhor a fazer é conversar com o ficante, peguete, ou namorado e  cara a cara dizer: Afinal, o que somos, ou o que seremos?
Assim ninguém perde tempo, e a fila pode literalmente andar.  
Normalmente quem não pergunta tem apenas um medo: A resposta!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A GOURMETIZAÇÃO DAS FESTAS JUNINAS



A GOURMETIZAÇÃO DAS FESTAS JUNINAS


Por Suely Pavan Zanella

Se há um tipo de festa que me traz ótimas recordações são as festas que acontecem em junho, e por este motivo são chamadas de juninas. Fogueira, quentão, barraquinhas vendendo salgados e doces típicos, e claro, quadrilha. E quadrilha é embalada pelas músicas do saudoso Mario Zan e com gente vestida como caipira, com vestidos de chita, chapéu de palha, dentes pintados de preto e camisas xadrez. A música tocada na quadrilha também tem uma marcação própria e que começa com o caminho da roça, e passa por diferentes obstáculos, como a chuva e a cobra, alem da roda e aquele túnel, que para as pessoas altas como eu sempre foi um martírio. A dança é solta, leve e alegre. Festas juninas fazem parte do rol das tradicionais comemorações brasileiras. E são, ou melhor, eram até o ano passado (data em que eu participei da última com essas características) uma delícia.
E com esta expectativa de repetir a dose do ano anterior, lá fomos nós, eu meu marido e minha neta para a festa infantil do Esporte Clube Banespa. Na programação da festa no domingo se dizia que haveria quadrilha infantil, música e barraquinhas. Eu e meu marido ainda sonhávamos em comer o delicioso sanduíche de pernil que saboreamos no ano anterior. Ao chegarmos lá, por volta das 15:00, hora marcada para o início da festa, me surpreendi ao ver que uma espécie de tapete estava sendo colocado na região central do local onde tradicionalmente se realiza a quadrilha. Não entendi o motivo, afinal a quadrilha é dançada em toda a extensão do espaço, ou melhor, era. Minutos depois o início da quadrilha das alunas de balé é anunciado. Aí quase caí da cadeira ao ver várias meninas entrando vestidas de botas, saias jeans, lenços no pescoço. Logo pensei: OOOOO, cadê a quadrilha? Aquele negócio colocado no chão era uma espécie de palco para as coreografias (vide foto). A segunda quadrilha do pessoal do balé e sapateado (?) seguiu o mesmo estilo. Músicas como Macarenha, que é o símbolo internacional do “Não dance, apenas siga a coreografia”, e também Foot loose, que ironicamente significa pés soltos, foram tocadas em ritmo country. Sei que esta goumertização das festas juninas com a inserção constante de coreografias da música country é uma constante há alguns anos nas escolas paulistanas. Por qual razão isso aconteceu, eu não sei. Escolas, a meu ver, deveriam incentivar a soltura, a espontaneidade das crianças e adolescentes, afinal esse é o ingrediente básico da criatividade num mundo cheio de gente que só sabe copiar e colar. E danças americanas não são lá um grande exemplo para isso. Sem falar no saber cultural, nossos caipiras não tem nada a ver com a ver com a realidade country. Mas as escolas se encantam em importar modelos como festas juninas travestidas em country e halloween, por exemplo. E brevemente não estranhe, se começarem a incentivar que façamos festas para comemorar o Dia de Ação de Graças. É como se ensinassem desde pequenos as crianças a terem vergonha de nossas tradições além de valorizarem a dureza corporal.
Foi muito interessante também observar a não reação das pessoas a estas duas quadrilhas. Salvo, os pais, que obviamente tiravam fotos dos seus filhos, os demais estavam inertes. Não havia nenhum tipo de interatividade. Houve inclusive um espaço dentro da quadrilha para que as fotos fossem tiradas, como se faz no Oscar.
Depois destas duas quadrilhas, foi feita a quadrilha verdadeira, com adesão das pessoas que participavam da festa, e também pude notar como é difícil para alguns entenderem o que é o “caminho da roça”, por exemplo. Tinha gente esperando, principalmente as crianças e adolescentes, que alguém lhes mostrasse como era a coreografia. Toda a dança pode ter passos marcados, como ocorre na quadrilha e também na dança de salão, mas em ambas é saudável que haja espaço para a criatividade. Notei que tanto adultos quanto crianças ficavam esperando uma ordem superior que lhes mostrasse o que deveriam fazer.

Quando as bandas começaram a tocar, apesar de eu não ser fã de música sertaneja, notei que houve uma diferença. Adorei umas senhoras que dançavam literalmente conforme a música, e era soltas, tinham o corpo leve, em detrimento de adolescentes que a todo o custo tentavam imitar movimentos que provavelmente viam em clipes das músicas tocadas. É muito duro ver gente tão jovem e com o corpo tão duro, acredito que no futuro precisarão de um manual para transar, ou então copiarão as reações e performances dos filmes pornôs.
Já frequentei, há poucos anos, festas juninas em hotéis e clubes e nunca havia visto esta gourmetização e excesso de coreografia como vi ontem. As barraquinhas, também serviam comida chinesa, italiana, e algumas como muitos doces típicos (eu não sou chegada em doces!). Bom, aquele sanduiche de pernil também ficou na saudade, pois mais se parecia com algo pré-mastigado, além da falta de temperos e excesso de cebola, apesar do nome da barraca se chamar ironicamente Bistrô!
Minha neta que tem três anos se divertiu muito, ela ainda não foi contaminada pelo vírus da coreografia, e dançou e também correu livremente. Percebi que as crianças pequenas no geral dançam muito bem. A música entra dentro delas, e elas, simplesmente dançam.  Espero que as escolas do futuro não a tornem bitolada!