POBRES
CRIANÇAS
Suely Pavan Zanella
“É preciso que os adultos tenham mais estrutura que as
crianças”, me disse uma vez uma experiente psicoterapeuta infantil.
Quando vejo pais tratando os filhos como “coisas” como
se fossem bonecos a serem usados a seu bel prazer, além de lembrar desta sábia
frase também penso que num mundo perfeito homens e mulheres antes de se
tornarem pais ou mães deveriam fazer algum tipo de curso, ou algo semelhante,
para aprender a função.
Li agora que na China um menino de 4 anos foi obrigado
pela mãe a beber gasolina e depois ela cruelmente ateou fogo nele. O motivo: Discutiu
com o marido que não estava a tratando com respeito. E vingou-se através da
pobre criança não só a desrespeitando, como também quase a matando e a deixando
na U.T.I. em estado grave.
Há crianças que sobrevivem aos maus tratos de seus pais
descontrolados, raivosos e desequilibrados, outras infelizmente não. Como foi o
caso aqui no Brasil do menino Joaquim de 3 anos que tem o padrasto e mãe como
principal suspeitos de sua morte. Ao ler sobre este caso fiquei pensando que há
crianças que são tratadas como lixo. Errou na insulina dada ao garoto
diabético, basta jogá-lo no rio e camuflar o erro, como se Joaquim fosse uma
peça descartável, uma “coisa” cuja posse permitia dizer: Meu filho!
Quem poderá esquecer a menina Isabella Nadorni que tal
como um saco plástico foi jogada sem dó nem piedade por uma janela?
Fiquei pensando também se o pai biológico de Joaquim, o
menino diabético achado num rio em Ribeirão Preto, tivesse por alguma razão
procurado o Conselho Tutelar em função do vício do padrasto em cocaína e as
previsíveis recaídas, o que teria acontecido?
E eu te digo, não teria acontecido absolutamente nada!
Você já ligou alguma vez para o Conselho Tutelar?
Eu já. Certa vez fiquei num domingo por cerca de três
horas relatando a situação de duas crianças pequenas, uma com seis meses e a
outra de 2 anos cuja mãe é dependente de maconha e vez por outra leva as filhas
para passear na favela enquanto fuma o seu baseado na frente delas, em um lugar
muito perigoso . A moça não é pobre, ao contrário, é rica, mas adora frequentar
este tipo de ambiente. Mora em um condomínio de luxo e ia quase que diariamente
nas bocadas com as filhas, acho que faz isto até hoje. Fiquei sabendo do caso
através de uma grande amiga que era vizinha da moça e resolvi denunciar, perdi
meu tempo!
O Conselho nada poderia fazer. Eu é que teria que provar,
fotografar e coisas do tipo. Aqui no Brasil são as vítimas ou quem vê crianças
em situações de risco que têm que provar que as mesmas estão em risco. E o Conselho Tutelar é culpado?
Não, claro que não, são as leis que não protegem ninguém, salvo se os menores
forem perigosos e infratores. O resto que se dane, que morra, ou tenha a
coragem suficiente para viver cercado de pais violentos, inconsequentes ou
irritadiços, que um dia não se pouparão em mata-los.
Usar drogas junto à crianças não dá em nada aqui no Brasil, se fosse comportamento de risco não veríamos tantas crianças cujos pais são usuários perambulando drogados junto aos seus filhos.
Estes pais raramente abrem
mão da guarda, são egoístas e possessivos e vão tendo filhos lá e acolá.
Quem pensa nas crianças no Brasil?
Legalmente ninguém, salvo se você for um milionário e
tiver grana para bancar uma investigação particular. Aí consegue provar como
muitas e muitas crianças são mal amadas por seus pais e correm riscos diários
por conviver com gente desestruturada.
Até que uma morre, e a nação se comove, mas nada muda!
E a gente fica aqui se perguntando quantas crianças
correm riscos físicos e psicológicos apenas por terem pais ou padrastos ou
madrastas em que se ouve o seguinte:
-Achamos o corpo de Joaquim!
- Ah! Maravilha, então preciso conversar com o
advogado. Estas foram as palavras ditas pelo padrasto do menino Joaquim quando a polícia o
avisou sobre o corpo dele covardemente atirado num rio.