quarta-feira, 13 de novembro de 2013

POBRES CRIANÇAS



POBRES CRIANÇAS
Suely Pavan Zanella

“É preciso que os adultos tenham mais estrutura que as crianças”, me disse uma vez uma experiente psicoterapeuta infantil.
Quando vejo pais tratando os filhos como “coisas” como se fossem bonecos a serem usados a seu bel prazer, além de lembrar desta sábia frase também penso que num mundo perfeito homens e mulheres antes de se tornarem pais ou mães deveriam fazer algum tipo de curso, ou algo semelhante, para aprender a função.
Li agora que na China um menino de 4 anos foi obrigado pela mãe a beber gasolina e depois ela cruelmente ateou fogo nele. O motivo: Discutiu com o marido que não estava a tratando com respeito. E vingou-se através da pobre criança não só a desrespeitando, como também quase a matando e a deixando na U.T.I. em estado grave.
Há crianças que sobrevivem aos maus tratos de seus pais descontrolados, raivosos e desequilibrados, outras infelizmente não. Como foi o caso aqui no Brasil do menino Joaquim de 3 anos que tem o padrasto e mãe como principal suspeitos de sua morte. Ao ler sobre este caso fiquei pensando que há crianças que são tratadas como lixo. Errou na insulina dada ao garoto diabético, basta jogá-lo no rio e camuflar o erro, como se Joaquim fosse uma peça descartável, uma “coisa” cuja posse permitia dizer: Meu filho!
Quem poderá esquecer a menina Isabella Nadorni que tal como um saco plástico foi jogada sem dó nem piedade por uma janela?
Fiquei pensando também se o pai biológico de Joaquim, o menino diabético achado num rio em Ribeirão Preto, tivesse por alguma razão procurado o Conselho Tutelar em função do vício do padrasto em cocaína e as previsíveis recaídas, o que teria acontecido?
E eu te digo, não teria acontecido absolutamente nada!
Você já ligou alguma vez para o Conselho Tutelar?
Eu já. Certa vez fiquei num domingo por cerca de três horas relatando a situação de duas crianças pequenas, uma com seis meses e a outra de 2 anos cuja mãe é dependente de maconha e vez por outra leva as filhas para passear na favela enquanto fuma o seu baseado na frente delas, em um lugar muito perigoso . A moça não é pobre, ao contrário, é rica, mas adora frequentar este tipo de ambiente. Mora em um condomínio de luxo e ia quase que diariamente nas bocadas com as filhas, acho que faz isto até hoje. Fiquei sabendo do caso através de uma grande amiga que era vizinha da moça e resolvi denunciar, perdi meu tempo!
O Conselho nada poderia fazer. Eu é que teria que provar, fotografar e coisas do tipo. Aqui no Brasil são as vítimas ou quem vê crianças em situações de risco que têm que provar que as mesmas  estão em risco. E o Conselho Tutelar é culpado? Não, claro que não, são as leis que não protegem ninguém, salvo se os menores forem perigosos e infratores. O resto que se dane, que morra, ou tenha a coragem suficiente para viver cercado de pais violentos, inconsequentes ou irritadiços, que um dia não se pouparão em mata-los. 
Usar drogas junto à crianças não dá em nada aqui no Brasil, se fosse comportamento de risco não veríamos tantas crianças cujos pais são usuários perambulando drogados junto aos seus filhos. 
Estes pais raramente abrem mão da guarda, são egoístas e possessivos e vão tendo filhos lá e acolá.
Quem pensa nas crianças no Brasil?
Legalmente ninguém, salvo se você for um milionário e tiver grana para bancar uma investigação particular. Aí consegue provar como muitas e muitas crianças são mal amadas por seus pais e correm riscos diários por conviver com gente desestruturada.
Até que uma morre, e a nação se comove, mas nada muda!
E a gente fica aqui se perguntando quantas crianças correm riscos físicos e psicológicos apenas por terem pais ou padrastos ou madrastas em que se ouve o seguinte:
-Achamos o corpo de Joaquim!
- Ah! Maravilha, então preciso conversar com o advogado. Estas foram as palavras ditas pelo  padrasto do menino Joaquim quando a polícia o avisou sobre o corpo dele covardemente atirado num rio.