OS QUE FICAM
“Sobre a morte
repentina de entes queridos”
Suely
Pavan Zanella
A
série The Leftovers exibida pela HBO mostra o que acontece com as pessoas que
perdem repentinamente seus entes queridos: Apegam-se a seitas pra lá de
duvidosas; abandonam a fé no que outrora acreditavam; têm esperanças de reencontrar
os seres desaparecidos; fazem esforços racionais para seguir em frente; bebem
ou se drogam... Enfim, fazem o que seres humanos normalmente fazem em momentos
de desespero e em que tem que continuar a viver.
Apesar
da série ser ficcional, já que de repente 2% da população mundial simplesmente
some sem nenhum tipo de explicação, ela tem seu fundo de verdade, ou de
realidade. Pois para uma pessoas ou uma família que perde um ser querido de
maneira repentina, mesmo que saiba a razão da morte é este sentimento de “sobra”
que resta. É muito difícil de entender mesmo por qual razão alguém simplesmente
some desta forma. E olha que neste ano muitas pessoas sumiram repentinamente em
acidentes aéreos (foram 6 até o momento neste ano); em guerras imbecis; vítimas
de violência ou em acidentes automobilísticos. Elas não estavam doentes ou eram
idosas. E elas, inexplicavelmente se foram.
Não
sei se houve aumento efetivo das mortes repentinas, ou se hoje ficamos sabendo
das tragédias de forma mais rápida em função da Internet e principalmente das
Redes Sociais. O que sei apenas é que este sentimento de perda acaba afetando a
todos, como cita John Donne neste poema:
“Nenhum
homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte
da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se
fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a
morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por
isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
É
este sentimento de empatia que nos une como seres humanos e nos torna humanos.
Empatia é a capacidade humana de se colocar no lugar os outros, sentir a sua
dor.
Não
sentir, não se afetar, não se importar denota além de falta de sensibilidade e
empatia, também falha grave do caráter.
Exibem
falha de caráter aqueles que fazem piadas, ou brincam com a dor alheia, ou a
dor de todos os Humanos nestes momentos trágicos. Hoje morreu Eduardo Campos,
antes de ser político ele era uma pessoa, um filho, um marido e um pai. Em
função de ser uma figura pública o que se viu nas Redes Sociais, além do
sentimento bem vindo de solidariedade, apesar de partidarismos políticos,
também vieram junto o pior lado das Redes Sociais que são, não nos esqueçamos,
compostas por pessoas. Tive a sensação de que as portas do inferno haviam se
aberto. Foi como alguém escreveu no Twitter: Estas pessoas doentes estavam quietas
em sua casa antes das Redes Sociais. Hoje, infelizmente elas têm voz, ou
escrita, e fazem verdadeiras barbaridades: Acusam sem provas, além de serem
frias e cruéis. E se esquecem da dor daqueles que ficam após o advento destas
tragédias.
Lendo
coisas horríveis deste tipo dá perfeitamente para entender duas coisas:
1)O mundo tem em
sua composição uma gama enorme de gente muito doente; O Twitter e o Facebook
dão uma amostra de quanto a humanidade está doente;
2) E é por esta
razão, que em alguns momentos a gente
que é humano de verdade, e não humanoide, se revolta e vê que algumas tragédias poderiam ter sido evitadas se mais
pessoas se importassem de fato com os seus semelhantes.
Dor a
gente sente, banalizá-la é estranho, doente. Hoje na mídia também vi outro
exemplo trágico de desumanidade. Mal a morte de Eduardo Campos havia sido
confirmada e os repórteres já estavam interessados em saber quem seria o seu
substituto. Onde está a humanidade destas pessoas? Como se deixaram corromper
deste jeito? Será que um emprego vale tudo isto?
Que
mundo a gente vive? Acho que precisamos urgentemente melhorar as pessoas.