quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DENTES SEPARADOS



Suely Pavan (*)
Desde que me conheço por gente tenho os dentes separados. E nunca me incomodei com isto e nem sequer quis corrigi-los. Acho que se fizesse algum procedimento estético no sentido de fechá-los nem sequer me reconheceria. Sou assim, tenho os dentes assim, e ponto final.
A semana passada, porém, ocorreu algo que julguei no mínimo estranho. Fazendo uma pesquisa pela internet descobri sem querer (não era isto que eu estava pesquisando) que este tipo de dente chamado tecnicamente de diastema ou gap teeth (fica mais chique em inglês) está virando uma tendência de beleza. Como está virando moda, um blog resolveu fazer uma matéria à respeito e também coletar informações de seus leitores, e sinceramente fiquei chocada com os resultados. A maioria das pessoas numa atitude pra lá de preconceituosa acha horrível este tipo de dentes, algumas consideram até anti-higiênico. Confesso que ao longo de minha vida nunca tive problemas por ser deste jeito. Nasci e cresci com os dentes separados, eles sempre foram assim. E traumas nem rejeição social fizeram parte de minha vida. E sinceramente se alguém se incomoda com eles, a minha resposta é: Dane-se!
Quando eu era jovem um dentista inclusive queria me levar a um congresso de odontologia. Ele me disse que eu era a única paciente dele que não tinha traumas por possuir o diastema. E não possuía e nem possuo mesmo, adoro tomar Coca-Cola e prender o canudo nos espaço entre os dentes.
Bom, mas agora os tais dos dentes abertos estão virando moda. Uma das maiores tops mundiais a Lara Stone, os possui, e um monte de celebridades também. Para escrever este texto, resolvi dar uma pesquisada, e vi que o assunto está na onda do momento, e descobri um monte de gente famosa que tem os dentes como o meu, vamos à listinha: Vanessa Paradis, esposa do Johnny Deep, cantora e atriz, e que agora estará na campanha de maquiagem da Chanel; a modelo Georgia Jagger, filha do Mick Jagger; as francesas Brigitte Bardot e Jane Birkin; a atriz e modelo Lauren Hutton, que foi capa da revista Vogue por 25 vezes e também um dos símbolos de beleza dos anos 1970; a poderosa ex-secretária de estado dos E.U.A. Condoleeza Rice; Anna Paquin a atriz premiada de True Bood e o discreto diastema de Madonna. Enfim, a lista é grande, e como você percebeu nela não figuram brasileiros famosos. Os brasileiros são muito ligados a modas e modismos, tais como os clareamentos dentais, que fazem as bocas parecerem túneis e a correção dos dentes. Que pena eles ficaram fora de moda! Snif, snif, snif!
Claro, que quando o assunto é moda, haverá pessoas que irão criar uma aberturinha nos dentes através de procedimentos juntos aos dentistas estéticos.  Que coisa horrível hein? Mas, o que as pessoas não fazem para estar na moda?
Da minha parte continuarei a ser o que sempre fui: assumirei os meus dentes da frente com espaço!
O mais interessante disto tudo, é que em função do que escrevi no blog que fez a matéria e a pesquisa, acabei por ser procurada pela revista Isto É, que fará uma matéria sobre o tema. Não sei se o meu depoimento sairá por lá, mas achei interessante uma das perguntas feitas pela jornalista: Se, na infância, eu tive apelido em função da abertura dos dentes. A resposta foi não.  
Acho que o meu depoimento foi muito sem graça para ser publicado na revista. Não tenho traumas, e nem problemas, e só lembrei que tenho dentes separados em função do “fuzuê” atual em torno do assunto. É isto que acontece quando a gente se aceita exatamente do jeito que é, sem se comparar com ninguém, ou querendo ser o que não se é. Duvido que um negro queira ser branco, e que uma pessoa de estatura baixa fique pensando a todo o momento em sua estatura, por exemplo. E claro, que quanto mais aceitação sobre nós temos, menos percebemos ou damos atenção às opiniões ou preconceitos alheios. Algumas modas tendem a tornar as pessoas iguais. Gente que freqüenta academia, por exemplo, tem corpo muito parecido. Gente que faz plástica tem cara comum e plastificada. Gente que faz preenchimento exagerado na boca fica com cara de pato. E por aí vai.  Particularmente eu aprecio a singularidade, a marca registrada de cada um.  Ainda sou como Chanel, que valorizava o estilo, ao invés da padronização.   
  
(*) Este texto poderá ser utilizado em outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato: www.pavandesenvolvimento.com.br  

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ENTE O AMOR E A DOR

         Suely Pavan
Existem amores que trazem um único benefício: A dor.
Mesmo sentindo dor, muitas mulheres e homens também não abandonam os seus algozes. Dizem que o coração não escolhe a quem amar. Eles têm razão: O coração não escolhe, mas a razão sim!
Muitas vezes é impossível relacionar-se com quem amamos. Os casos são múltiplos, e vão desde desqualificações até agressões físicas e psicológicas. Quando o amor traz mais sofrimento do que prazer, nos mostra claramente que é impossível tornar a relação viável. O melhor caminho, nestes casos, no qual o relacionamento torna-se impossível é a separação. O dor virá na certa, mas é possível continuar a amar alguém, sem se relacionar com esta pessoa que nos ocasiona sofrimento.
A grande confusão que a maioria das pessoas faz se instala justamente aí: Amor é uma coisa, e relacionamento é outra diferente.  
Um amor só torna-se nocivo se o relacionamento também o é. À medida em que se opta por terminar um relacionamento, apesar do amor ainda existente, faz com que tomemos uma atitude inteligente: A de continuar amando, apesar da distância. Neste tempo separados é possível voltar-se para si mesmo, fazendo coisas que nos dêem prazer e alegria, ao invés de só pensar no outro. Esta auto-nutrição faz com que sejamos donos daquilo que nos faz bem, sem depender do outro para satisfazer necessidades. Alguns, e eu diria a maioria, com o tempo – senhor e mestre das decisões – deixam de amar seus algozes. Com o tempo “este grande amor” passa a ser apenas uma página virada. Muitos ainda dizem: Nossa, como fui capaz de me apaixonar por uma pessoa destas? Passam a questionar esta escolha nociva que agora só pertence ao passado. Fazendo assim tornam –se aptos a não confundir amor com sexo, e esta mistura com relacionamento.
Relacionamento para ser bom, não vive e muito menos sobrevive como resultado de uma paixão prejudicial.  Só os masoquistas ou aqueles propensos ao sofrimento não querem o melhor para si mesmos, e justificam atos ruins como sendo amor. Quem ama cuida, e amor para sobreviver precisa de no mínimo de duas pessoas interessadas em sua manutenção e crescimento.
Tem gente que mantém um péssimo relacionamento apenas para não sentir a dor da separação. E agindo desta forma vive a dor de uma relação doentia e até perigosa. Ele não vai mudar, ela também não mudará. Não seja ingênuo, as pessoas só mudam quando querem. Mudanças são coisas bem concretas e visíveis. A maioria dos relacionamentos pobres está calcada em auto-engano e justificativas alienantes para o comportamento do outro. As mulheres, principalmente, têm o péssimo hábito de justificar o comportamento de seu par, e costumam dizer: ele é assim porque trabalha muito; ele está agressivo, pois não passou na prova... Agindo desta forma tudo toleram e ganham com isto apenas um relacionamento ruim. Vivem sozinhas, mas têm medo de enxergar esta verdade por medo da solidão. Não percebem a solidão em que já vivem.  
A razão e o amor próprio ainda fazem uma enorme diferença no momento de escolher um relacionamento. Os relacionamentos apenas sobrevivem quando além do amor há também a afinidade. Impossível conviver com alguém absolutamente oposto a nós.