segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CIÚME PATOLÓGICO

Ciúme Patológico
Suely Pavan


Ciúme todo mundo tem, e diria que é até saudável tê-lo. A palavra ciúme, para quem não sabe, significa zelo, cuidado. Portanto, quando gostamos de alguém verdadeiramente sentimos o desejo de cuidar, e zelar pela pessoa amada, e temos ciúme. O mesmo acontece com objetos de forma geral. Não queremos que ninguém amasse o nosso carro, por exemplo, ou seja, descuidado com algo nosso. Claro, que pessoas não são coisas, mas mesmo assim, somos possessivos e nos expressamos desta forma: meu filho, meu marido, meu carro... etc.
O poeta russo Vladimir Maiakovski tem uma frase que sintetiza este meu pensamento: “Amar não é aceitar tudo. Aliás, onde tudo é aceito desconfio que haja falta de amor”.
Quem ama se importa e sente ciúme.
Porém, há um tipo de ciúme que extrapola a esfera do cuidado ou do importar-se, é o ciúme patológico. O ciúme patológico ou doentio segundo Isaias Paim em seu livro Curso de Psicopatologia é aquele que se enquadra no tipo de delírio de ciúme e manifesta-se em esquizofrênicos paranóicos. No delírio de ciúme em um casal, um dos pares tem certeza absoluta que está sendo enganado ou que o outro vai enganá-lo. Veja que no delicio de ciúme não há nenhuma evidência deste fato, pois há um empobrecimento da capacidade de julgamento da pessoa, ela não distingue o que é real daquilo que é imaginado ou delirante. O doente de delírio de ciúme investiga cartas, telefonemas, torpedos, além de examinar roupas, pesquisar lençóis onde descobre manchas suspeitas. Praticamente vive a mercê do outro, e daquilo que o outro possa estar lhe fazendo. Como é uma doença obviamente não consegue controlar seus impulsos e torna a vida do parceiro (a) um verdadeiro inferno. Vê todos como inimigos, inclusive a família que pode estar conspirando (segundo a sua imaginação) contra ele (a) ou até acobertando fatos referentes à imaginada traição . Até os filhos podem estar funcionando como traidores, já que escondem aquilo que o pai ou a mãe faz. Normalmente desconfia também que os filhos não são dele, e que foi enganado pela mulher.    
As reações no delírio de ciúme são violentas, já que os doentes costumam fazer escândalos publicamente e chegam algumas vezes a cometer homicídios. Chama-se de uxoricida ao marido que mata a própria esposa e de mariticida à esposa que mata o marido.
Veja que o ciúme doentio ou patológico é totalmente infundado, e vive apenas na cabeça delirante daquele que o sente.
É comum também na literatura sobre este tipo de delírio, ver que muitas vezes o doente após matar sua esposa ou marido comete suicídio em seguida.
Portanto, há uma grande diferença entre o ciúme, digamos normal e o patológico, assim como a sua gradação (passar de um para o outro).
Qualquer pessoa “normal” ou saudável ao ter um parceiro (a) infiel de fato, e cujo pacto do casal seja a fidelidade, não perderá o seu tempo com alguém que lhe trai a todo o momento a confiança. Irá romper esta relação doentia por mais que sofra. De nada adianta ficar com alguém que não se confia.
Existem pessoas que não conseguem viver uma relação a dois de forma tranqüila, sempre têm a necessidades de triangularizar.  Neste caso a relação edipiana original não está bem resolvida, e a pessoa não consegue sair do triângulo precisando de ajuda profissional.
Outros, ainda, cujo um dos pais foi infiel, têm medo de viver o mesmo sofrimento de seu pai ou sua mãe, e por esta razão acha que o companheiro (a) sempre está à mercê de cometer um ato de infidelidade. Por medo de repetir a história de um dos pais, previne-se de forma obsessiva, e não consegue jamais confiar no outro. Entrando, desta forma, num ciclo incessante de auto-boicote. Já que não enxerga que a relação atual pode ser muito diferente daquela vivida por seus pais.
Se você se enquadra numa das situações doentias mencionadas neste texto busque ajuda psicoterápica (psicólogos ou psiquiatras).  
Relacionamentos foram feitos para se viver bem, se sofremos com eles sucessivamente há algo errado na nossa concepção de amor.   
Nenhum relacionamento ocorre como nos contos de fada, porém brigas e escândalos devido ao ciúme demonstram claramente que há algo de muito errado acontecendo.