ANDAR
DE ÔNIBUS E METRÔ EM SÃO PAULO
Suely
Pavan Zanella
Ontem,
depois de dezesete anos sem andar de ônibus e metrô, resolvi fazê-lo para
ministrar aula no MBA da Avenida Paulista.
Conto
neste texto a minha aventura ou desventura.
Minha
aula de Técnicas de Treinamento e Desenvolvimento no MBA de Recursos Humanos da
Universidade Anhembi Morumbi começava às sete horas da noite, portanto, saí de
casa às 16:30. Minha ideia era ir cronometrando o tempo até lá.
Como
no local onde moro não há metrô tive que pegar um ônibus até o Jabaquara.
Saí
de casa e em cinco minutos (eu ando rápido) eu estava no ponto, logo ao chegar
o ônibus para o Jabaquara passou. Consegui sentar num lugar bem na frente.
E
logo de cara percebi uma coisa horrível: O ônibus parecia ter problemas com os
amortecedores. Chacoalhava demais!
Grande
parte da minha vida eu andei de ônibus e adorava. Foi no ônibus que eu li os
melhores livros, e nos tempos da faculdade cheguei até a fazer trabalhos
escolares dentro dele. Ontem meus grifos no livro mais se pareciam minhocas de
tão tortos que ficaram.
O
espaço dos bancos também diminuiu. E fiquei imaginando como uma pessoa obesa
consegue sentar-se em cadeiras tão desconfortáveis e estreitas.
Eu
sou uma pessoa razoavelmente nojenta com cheiros. Antes de sair de casa tomei
banho, passei perfume, fiz escova e maquiagem, afinal eu tinha que estar
impecável para ministrar a aula. O mau cheiro no ônibus era grande. Uma mistura
de falta de banho, cheiro de suor e mau hálito. As janelas, apesar de abertas, não
ventilavam corretamente o ambiente.
A
mistura entre o chacoalhar do ônibus e o mau cheiro me deu um enjoo danado em
função da minha labirintite, que ataca em determinadas situações. Tive vontade
de vomitar. Graças a Deus isto não aconteceu, até porque geralmente eu como
muito pouco.
Outra
coisa espantosa foi o trajeto, um verdadeiro horror!
Ir da
Avenida Interlagos para o Jabaquara é um caminho simples, mas de ônibus não o
é. Não sei por qual razão o trajeto feito passou pela Avenida Cupecê, e depois
Divisa de Diadema. Por várias vezes perguntei às pessoas se havia pegado o
ônibus certo. O trajeto é tão burro que seria o mesmo que ir até a Lapa, mas
fazer o caminho passando por Santo Amaro!
Não
sei quem é que estabelece estas rotas medíocres!
Em
minha opinião os trajetos deveriam facilitar a vida das pessoas, e não as
companhias de ônibus, que pelo visto só querem lota-los para ganhar mais e mais
dinheiro.
Pelo que
observei o trajeto não agrada nem os motoristas que tem que fazer manobras
milaborantes em ruas estreitas e cheias de curvas o que aumenta o “breca e acelera”
a todo o momento, resultando em mais chacoalhação. Aja estomago e equilíbrio!
Mas
pelo visto só eu me incomodei com isto. No meu exercício de observação não
percebi nenhuma indignação por parte de ninguém, e o equilíbrio das pessoas que
estavam em pé, era simplesmente fantástico. Se eu estivesse em pé, com certeza
já teria caído no chão. Descobri que as pessoas que andam de ônibus
regularmente não precisam fazer ioga, já que seu equilíbrio é sensacional!
Outra
coisa que me chamou muita atenção foi a falta de educação das pessoas. Há uma mais
de uma década quando se sentava ao lado de alguém se pedia licença. Quando na
metade do caminho resolvi ir pra banda de trás do ônibus e sentei no banco do
fundão, ao sentar pedi licença a uma moça, que me olhou muito, mas muito feio.
Mas
também não posso reclamar muito, um rapaz sentou-se ao meu lado e pediu licença,
acredito que tenha sido bem educado em sua casa e escola.
Esta
indiferença entre os seres humanos sempre em pega. Hoje em dia todo mundo fica
no maldito celular o tempo todo, e desta forma não percebe o que se passa ao
seu redor. Parece fuga, e como consequência ninguém respeita o seu próximo.
As
pessoas ao falar também exageram no tom, quase gritam...e contam detalhes de
suas vidas, uma espécie de “it's my life” do Bon Jovi. O público e o particular
se misturam a todo o momento.
Meu
primeiro grande “fora” aconteceu com o cobrador do ônibus ao pagar minha
passagem ( eu não tenho bilhete) perguntei se havia ainda bilhete integração.
Ele ficou me olhando e depois perguntou: O que é isto?
Expliquei:
Um bilhete que em mil novecentos e antigamente se pagava no ônibus e que servia
também para ao metrô. Uma espécie de dois em um!
-
Nunca ouvi falar. Ele me respondeu!
Descobri
que minha “cena” referente ao transporte público, estava absolutamente
desatualizada.
Depois
de uma hora de chacoalhação cheguei finalmente ao metrô Jabaquara. Mas onde
ficava o Metrô?
Um
senhor me disse: Fica ali!
Mas
não dá para ver o metrô. Ele parece uma ilha circundada de ônibus e gente por
todos os lados.
Para chegar
até ele fui seguindo o pessoal (massa humana) através de uma calçada minúscula que
obrigava a todos nós competir com ônibus e correndo sério risco de
atropelamento.
Não
sabia onde comprar o bilhete para o metrô, mas me deparei com funcionários
muito gentis.
Fui
do Jabaquara até a estação Ana Rosa e de lá peguei a baldeação para a Vila
Madalena. Amei o metrô Vila Madalena!
O
metrô basicamente não mudou muito, o que mudou foram as pessoas.
Celulares
mil. Se fosse ladra faria a festa! E novamente fixação absurda neles. Não sei o
que as pessoas tanto escrevem neles! Senti-me no Japão.
Bom,
a educação é item faltante. Não adianta os incessantes avisos de “Não fique na
porta” dado a todo o momento pelos condutores. As pessoas se fazem de surdas e
não se importam de atrapalhar a passagem das outras.
Dei
um fora também na hora de descer na estação Consolação com aquele maldito
aviso: A porta abrirá à esquerda!
Fiquei
do lado errado e tive que pedir passagem e falei: Também não falam à esquerda
de quem!
O
rapaz que estava à minha frente deu risada e a moça que estava com ele quase me
fulminou com seu olhar. Devia ser namorada dele ou ficante! Mas tem mulher que
não se garante mesmo (isto não mudou anda).
Ao
desembarcar na estação Consolação meio cansada e suada e sem saber se eu ainda
estava maquiada ou com o cabelo em ordem ouço um rock delicioso. Eu estava na
Avenida Paulista, que delícia!
Aquele
monte de gente, música boa tocando, simplesmente amo a Avenida Paulista, pra
mim ela é a cara de São Paulo.
Só
fiquei um tanto surpresa ao atravessar a Rua Augusta e observar que ninguém
respeita o aviso vermelho. Todos os pedestres pouco se importaram com ele. Ficamos
só eu e uma moça esperando o sinal verde para atravessarmos. Nem sequer o carro
da polícia tentando passar no cruzamento foi respeitado pelas pessoas.
O
tempo total que gastei no trajeto entre a minha casa e a universidade foi de uma
hora e quarenta. Se tivesse ido de carro, seria mais confortável, mas levaria
muito mais tempo, além de ter que pagar um absurdo de estacionamento.
Minha
conclusão é: Os ônibus pioraram muito, o metrô continua o mesmo, mas a falta de
educação das pessoas foi o que mais me chamou a atenção. Falta o básico, aquilo
que antigamente aprendíamos em casa e era reforçado na escola e na sociedade.
Mas,
como diz a música, é sempre lindo andar na cidade de São Paulo!