A
FUNÇÃO DAS NOVELAS
Suely
Pavan Zanella
Há
uma febre nacional que vai ao ar todos os dias lá pelas 20:30, é a novela “Avenida
Brasil”. Apesar de não ser noveleira confesso que não perco um capítulo desta
novela. Se não posso assistir gravo e se esqueço de gravar assisto pela
internet.
Minha
falta de paciência para assistir novelas sempre se concentrou no que chamo de “arrastamento”.
Antes de Avenida Brasil, eu assistia a uma novela no máximo uma vez por semana,
e entendia tudo. As tramas de algumas novelas se arrastam e me entediam.
Avenida Brasil, pelo contrário é quase uma novidade diária. As tramas se
entrelaçam, é um mistério, tal como ler um bom romance de Tolstoi!
E aí
está a primeira função das novelas: É dramaturgia, literatura, como li num
estudo realizado pela USP há muitos.
Assistir
a uma novela é o mesmo que ler um romance. A diferença é a tecnologia. Uma
coisa é ler um romance e outra é vê-lo na TV ou teatro. São veículos diferentes
e por esta razão se utilizam de “armas” digamos diferentes para conquistar seus
leitores, telespectadores e espectadores.
As
pessoas são diferentes alguns preferem ver e outros ler.
Apesar
deste conteúdo literário das novelas vejo diariamente muita gente reclamando
nas redes sociais na hora da novela Avenida Brasil. Uns dizem que isto é
alienação nacional e outros que deveríamos gastar o nosso tempo com coisas mais
importantes tais como o julgamento do mensalão ou a CPI do Cachoeira. E desta
forma se esquecem de outra função das novelas: O entretenimento.
Nenhum
ser humano saudável mentalmente consegue gastar 100% de seu tempo cuidando
apenas de assuntos sérios. As pessoas precisam de diversão.
E
imaginem só: trabalham o dia inteiro, enfrentam um trânsito danado e querem
chegar em casa e se refestelar no sofá assistindo a uma boa novela! Qual o
malefício disto?
Gente
criativa, aliás, precisa deste “tempinho” para se tornar até mais produtiva. E
por que não assistir à sua novelinha?
Alguns gostam de assistir jogos de futebol, outros de ler Dostoiévski,
outros de caminhar... Enfim, as pessoas não são iguais e precisam de um tempo
de “relax”. Graças a Deus, senão o mundo seria insuportável!
Então, criticar a novela nas redes sociais não passa de exercício do preconceito,
já que estas mesmas pessoas também estão gastando o seu tempo postando coisas
nem sempre sérias, instrutivas ou que contenham informações corretas nestas
mesmas redes.
Nem tudo na vida precisa ser útil, ter uma função específica ou produzir
algo. Algumas novelas, como as da Glória Perez, por exemplo, contém sempre uma
mensagem de cunho social embutida.
Outras novelas de outros autores são puro entretenimento e mais nada.
Avenida Brasil, por exemplo, tem como grande diferencial o ritmo e a
atuação brilhante dos atores, além de uma trama impecável. O tema faz parte do
inconsciente coletivo da humanidade, trata da vingança, tão bem retratada no
romance literário francês “O Conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas, como na
série americana “Revenge” de Mike Kelley. Avenida Brasil também
mostra e dá palco à nova classe “C” sem os estereótipos de filmes e novelas
anteriores.
Além de todos estes motivos precisamos lembrar que
as novelas brasileiras são exportadas para outros países, justamente porque são
boas, e deveriam ser no mínimo motivo de orgulho por parte dos brasileiros.
E hoje em dia um novo fenômeno ocorre: O Twitter.
Hoje comentamos as novelas enquanto a assistimos pela TV. Fazemos parte da
trama. Opinamos sobre ela, nos identificamos com os personagens, torcemos por
uns, e desprezamos outros.
Nenhuma novela faz sucesso se não há identificação
psicológica com a mesma. Nesta forma de entretenimento saudável nos projetamos,
nos identificamos e até aprendemos que determinados comportamentos são nocivos
aos outros.
Se os intelectuais acham tudo isto uma grande
bobagem, só posso dizer que cada um é cada um. Particularmente estou adorando
Avenida Brasil, e me tornando fã de carteirinha de seu autor o brilhante João
Emanuel Carneiro.