VERDADES
E MENTIRAS
“Mais vale uma verdade
cinza do que uma mentira cor de rosa.”
Por Suely Pavan Zanella
Certa
vez uma de minhas supervisionandas em psicodrama fez um trabalho que versava
sobre a verdade. Em sua hipótese científica dizia que “a verdade era essencial
em toda e qualquer situação”.
Porém,
ao fazer o trabalho de estágio prático constatou outra verdade: Falar ou não a
verdade depende do vínculo que se tem com alguém. Quanto maior e mais forte o
vínculo, maior a necessidade da verdade.
Apesar
de decepcionada com o resultado prático ela aprendeu, ou melhor apreendeu que
nenhum ser humano sai por aí o tempo todo falando apenas a verdade. Bom seria
se assim fosse!
Vamos
imaginar que o seu chefe seja um ser insuportável daqueles frágeis e que não suportam
a verdade. E você está muito infeliz com o trabalho e principalmente pela forma
desrespeitosa com que ele te trata, então busca um novo emprego. Num
determinado dia você é chamado para uma entrevista no horário de seu
expediente. O que fará? Falará a verdade ou mentirá? Provavelmente mentirá, salvo se quiser ser demitido imediatamente
contará a verdade.
Imaginemos
agora outra situação: Você tem uma grande amiga e ela lhe conta um segredo. Ao
invés de guardar o segredo você o conta para uma amiga apenas sua e pela qual
sua amiga (aquela que lhe confiou o segredo) não tem o menor apreço. Passado um
tempo você descobre que ela sabe que você violou o segredo, e a amizade entre
vocês acaba.
Falar
a verdade ou a mentira depende da situação principalmente do vínculo que se tem
com alguém.
Vínculo
é algo forte que nos mantém em relação. Uma espécie de corrente invisível, mas
muito forte. Os vínculos normalmente são abalados apenas por um grande motivo,
sendo o principal deles a desconfiança gerada através da mentira ou da omissão.
Cabe ressaltar que embora as palavras mentira e omissão sejam diferentes na
prática elas funcionam da mesma forma. Quem foi vítima da mentira ou da omissão
não faz distinção alguma, pois quem omite deixou de falar algo importante e,
portanto mentiu.
Há os
mentirosos compulsivos, aqueles que mentem por tudo e sem a menor necessidade. Obvio
que estas pessoas não são confiáveis, já que elas têm a mentira como mola
propulsora em suas vidas. E as mentiras que contam as ajudam a manipular os
outros e desta forma obterem o que querem. Estes tipos de mentirosos são um
perigo ambulante, já que aumentam e diminuem o que falam apenas para se dar bem.
Afaste-se de gente assim.
Porém,
quando há relação verdadeira, e, portanto vincular, a mentira é imperdoável.
Mentir para amigos e pares afetivos pode custar a relação em si, já que os
vínculos se enfraquecem. E aquele que foi vítima da mentira poderá até continuar na
relação, mas sempre com o fantasma da desconfiança a persegui-la(o): Será que ela
(e) está falando a verdade?
Quem
quer preservar um vínculo de qualquer espécie não pode mentir.
Vínculos
são sagrados, e a mentira os macula.
Há
muita gente que perde bons empregos, amores, amigos e respeito familiar apenas
porque não tem coragem de falar a verdade. E depois chora estas perdas. Eu
diria que a verdade é irmã gêmea da confiança. Quem mente trai o próprio irmão.
Fernando Savater em seu livro “Ética para meu filho”, diz que quem mente trai
toda a espécie humana, já que apenas os humanos são dotados do dom da fala.
“Conhecerá
a verdade e ela vos libertará”, diz o mestre Jesus. A verdade, ao contrário da
mentira, nas relações verdadeiras, sempre é capaz de transformar e ampliar
horizontes. A mentira, por sua vez é limitante, e só deve ser usada em
situações onde o vínculo não existe, ou diante dos mexeriqueiros e das pessoas
que querem saber mais do que precisam ou que querem apenas satisfações como
forma de controle de nossas vidas.