MEU
FILHO, ESSE DESCONHECIDO!
“Dizem que a melhor
fase da vida é a juventude, mas nela, também se comete os maiores erros, pois
a imaturidade leva o jovem a pensar que é “dono do mundo”. Com Juvenal não foi
diferente. Por não seguir os conselhos do seu pai pagou um alto preço.”
(Sinopse do Livro: História do bom pai e o mau filho - José Camelo de melo Resende)
Suely
Pavan Zanella
Quando
bebês eles são lindos e afáveis, e ninguém é capaz de adivinhar o seu destino, ou
melhor, a suas escolhas.
Dalai
Lama diz que todos nasceram bons, e que a vida, ou os caminhos que escolhemos
trilhar podem nos tornar maus.
Dá
para imaginar que um dia Hitler foi um lindo bebezinho? Será que seus pais lhe
deram uma educação tão austera que o fez exterminar milhões de pessoas?
Não sei quais foram as influências que Hitler recebeu,
salvo aquilo que é de domínio público: sua inteligência, cultura exemplar e
fascínio pelo ocultismo, particularmente a astrologia e a mitologia. Seus hábitos
seriam considerados saudáveis aos olhos atuais: Não bebia, nem fumava, e era
vegetariano.
Culpar a educação recebida e principalmente os pais
pelas más escolhas dos filhos denota miopia dos tempos atuais. Hoje a realidade
e a rede absurda de influências que uma criança e adolescente recebem são
imensas. Há 20 ou 30 anos a educação que se recebia em casa era reforçada na
sociedade, hoje não é assim.
Quando os filhos respeitam a boa educação que os pais
lhe dão são motivo de orgulho, já que suas expectativas foram sanadas e a fazem
valer uma espécie de equação: Boa Educação = Bom Filho...Mas, infelizmente, nem
sempre é assim.
Conheço pais zelosos cujos filhos debandaram pela vida
em função das escolhas que fizeram, principalmente na adolescência que justamete
é o período em que se tem menos consciência das consequências de nossos atos.
Todo profissional de psicologia sabe que a maioria de nossas escolhas, mesmo na
idade adulta, não são conscientes. Há estudos e mais estudos sobre isto. Caso
fosse só escolheríamos o melhor para nós!
A educação em si não é o mais importante, há filhos,
por exemplo, que fazem o oposto daquilo que lhes foi ensinado por seus pais e
querem a todo o custo ser o oposto deles. Tudo depende da maneira como cada
filho decodifica a educação recebida. Sim, cada filho apreende a educação de
uma forma diferente. Lembro-me bem do caso de uma paciente que um dia chorando
numa sessão me contou que um de seus seis irmãos desde os sete anos de idade
era totalmente diferente dos demais. Ele já com esta idade roubava cavalos, na
cidade do interior onde moravam, apesar
das reprimendas dos pais e irmãos mais velhos. E quando tinha vinte e oito anos
ele simplesmente desapareceu. Tornara-se um bandido!
Já vi filhos que tratam os pais na idade adulta com
total desrespeito e agressividade. E que foram tratados à pão de ló, como se
diz popularmente. Crianças que pareciam príncipes e princesas de contos de
fadas e que foram cujos pais eram delicados e explicavam o motivo de qualquer
reprimenda e incentivavam o dialogo. Hoje são adultos rudes e ignorantes. Falam
palavrões no trato com os pais, os culpam por seus fracassos constantes e
visivelmente não aproveitaram um décimo daquilo que receberam. O motivo: Têm
vergonha da sua origem educada e até refinada, preferiram o linguajar das ruas
e dos maloqueiros!
Quantas garotas de boa família você já teve notícia que
se apaixonaram por traficantes, ladrões e até assassinos e resolveram morar com
eles apesar das condições adversas e arriscadas?
Um filho pode sim, apesar da boa educação recebida,
tornar-se um desconhecido e um dia provocar uma reação de estranhamento por
parte de seus pais. Eles poderão se perguntar: Quem é esta pessoa? Por qual
razão me trata de forma tão rude, se a única coisa que fiz foi dar-lhe o melhor
que pude?
Os pais normalmente ao se depararem com as péssimas
escolhas dos filhos sentem-se culpados, pois atribuem a si esta
responsabilidade. Deveriam, ao contrário, se perguntar:
1)
Que educação eu dei ao meu filho? Eu o
ensinei a ser malandro, desrespeitoso, mentiroso, ladrão, assassino, drogado?
2)
Eu passava a mão em sua cabeça toda vez que
ele cometia um erro grave ou ainda justificava o seu comportamento perante
aqueles que o criticavam? Não permiti que ele ou ela assumisse a consequência de
seus erros? Dizia que era “coisa da idade” e até ria quando ele (a) adotava
comportamentos tais como: depredação de prédios públicos; uso de drogas; e mau
comportamento escolar?
3)
Que feedbacks (retorno sobre um
comportamento) recebi de outras pessoas quanto à educação dada ao meu filho? Os
outros me chamavam de ausente, austero, irresponsável, etc.? Professores que
reclamavam de meu filho diziam que eu era conivente, participativo ou ausente?
4)
Tinha comportamentos abusivos perante o(s)
meu(s) filho(s)? Agressividade com cônjuges; bebedeiras; uso de drogas; comportamento
antiético no trânsito (desrespeito à leis); prostituição; etc.
5)
Não selecionava as pessoas que adentravam
em minha casa e permitia que convivessem com meu(s) filho(s) gente de caráter duvidoso
e até perigoso?
6)
Fui ausente por trabalhar ou dedicar-me a
mim mesmo em excesso? Eu estava sempre ocupado (a) toda a vez que meu(s)
filho(s) buscava(m) a minha ajuda.
7)
Coloquei meus filhos em situações de risco?
Como por exemplo: rodas de usuários de drogas; frequência a bares; direção
perigosa (excesso de velocidade; direção e álcool; desrespeito a pedestres);
locais não adequados à crianças tais como shows públicos e com temática adulta
ou juvenil; ensinei meu(s) filho(s) a dirigir na adolescência; incentivava a
magreza em função da estética e boa forma; deixava-os frequentar redes sociais,
baladas quando não tinham a idade legal para tal.
8)
Tinha paradigmas equivocados com relação à
educação? Tais como: “Tem que aprender batendo
cabeça”; “Médicos e psicólogos só falam bobagem”; “Trabalhar é sofrer”; “Homem nenhum
presta”; “Prenda as suas cabritas que meu bode está solto”; “Estudar é bobagem”;
“Macho que é macho não brinca ou dança com as crianças”: “A vida é dura”;...
9)
Mentia com frequência para outras pessoas
na frente do(s) meu(s) filho? Eu mesmo não assumia os meus atos.
10)
Falava mal do pai ou da mãe, e alienei meu
filho de sua presença quando ele não tinha idade para discriminar “minhas falas”?
Se você tem certeza absoluta da educação que deu ao seu
filho, e principalmente dos exemplos dados, já que crianças e adolescentes
captam suas ações muito mais do que suas palavras e mesmo assim estranha o seu
filho, não se preocupe!
Lembre-se que educação em uma sociedade não depende
apenas da família que se tem, mas também de todas as influências que seu filho recebe
e escolhe para si no período de transição entre a adolescência e a fase adulta.
Há pessoas que viveram em ambientes precários, cujos
pais eram totalmente irresponsáveis e mesmo assim, por quererem ser o oposto
deles, hoje são éticas e idôneas.
Criar filhos não é uma atividade linear, já que muitas
variáveis estão envolvidas. Mesmo seguindo a receita de um excelente bolo, o
mesmo pode desandar!
Se você teve o ingrediente mais importante para educar
uma criança que é a estrutura psicológica e aceitou a sua responsabilidade em
educar seu filho ou filha, até mesmo quando o bebê não foi planejado, siga em frente
com a cabeça erguida não há motivo para sentir vergonha, seu filho(a) não é
você!