ENTRE
MENTIRAS E DISTORÇÕES
Suely Pavan Zanella
Se você der uma rápida pesquisada no Google e buscar os
termos “mentira e advogados” verá uma lista enorme de links. A verdade é que advogados mentem para proteger seus
clientes, e desta forma garantir pontinhos junto a eles. Óbvio que a tarefa de
mentir ou de distorcer fatos à favor de um cliente também inescrupuloso não é
adotada por todos os advogados. Alguns ganham causas se baseando na verdade e
outros as perdem quando se deparam com juízes desatentos.
Mas o ato de mentir e distorcer a verdade não são privilégio
apenas dos advogados inescrupulosos.
Todos nós em algum momento da vida já fomos vítimas
destes atos antiéticos. Fernando Savater em seu livro “Ética para meu filho”
diz que a mentira é uma espécie de traição à humanidade, pois só os humanos são
capazes de falar, portanto, mentir, para ele, é uma traição à raça humana. Há
quem defenda a mentira como mecanismo de convívio social. Particularmente,
concordo com isso, afinal não dá para ser sincero o tempo todo e com todas as
pessoas. Imaginemos que você está infeliz em seu trabalho, já pontuou o fato diversas
vezes ao seu chefe e o mesmo banalizou suas reivindicações. Aí você recebe um
telefonema convidando-o a participar de um processo seletivo para uma vaga que
te interessa muito. Irá dizer a verdade para o seu chefe?
Outra situação: Você está desempregado, o motivo real é
que seu último chefe não ia com a tua cara, além de ser um assediador moral. Na
hora da entrevista uma das primeiras perguntas que a selecionadora lhe faz é:
Por qual razão você saiu de seu último emprego? Você responderá a verdade?
Do mesmo modo imaginemos que uma selecionadora está
trabalhando em uma vaga cujo dono da mesma é um sujeito insuportável e que contempla
uma série de pedidos de demissão em função de seu gênio. Você acredita que ela
lhe diria a verdade na entrevista?
Portanto, mentira depende do contexto, mas
principalmente do vínculo que temos com as pessoas. Quanto mais próximo o
vínculo mais desastroso poderá ser o resultado de uma mentira. Num casamento,
por exemplo, uma mentira poderá romper a relação, o mesmo ocorre entre amigos. Mentir
para vínculo próximos é trair a confiança. Mesmo quando o outro por qualquer
razão perdoa o mentiroso, o vínculo sofrerá abalos de confiança, ou seja,
jamais será o mesmo. Confiança, como sabemos, demora a ser construída e uma
mentira poderá fragilizar este vínculo.
Quem valoriza os vínculos que tem raramente mente, pois
sabe que poderá perdê-los. Preocupa-se em magoar e ferir o outro, e desta forma
evita mentir.
Lembremos também que uma das características do
psicopata é o ato de mentir. Psicopatas mentem o tempo todo, pois não sentem
culpa. Na alienação parental, por exemplo, um pai ou uma mãe podem mentir que o
filho (a) não quer visitar um dos pais, e depois descobrir, através da criança,
que isto era mentira. Distorcer a realidade e mentir repetidamente sem sentir
culpa ou remorso denota um traço da psicopatia.
Portanto, há mentiras e mentiras. Mentiras sociais que
não prejudicam a ninguém, ou quase ninguém. Mentiras graves e que rompem
relações. E mentiras doentias adotadas por psicopatas e mitômanos (mentirosos
compulsivos). E óbvio que não existe a “mentira branca”, inventada pelo
marketing.
Com exceção aos psicopatas que não estão nem aí para o
seu próximo é importante entender por qual razão há pessoas que põem tudo a
perder com suas mentiras!
Um mentiroso normalmente é um sujeito inseguro que tem
medo de revelar a verdade. Contemporiza e não se expõe, então mente. Não tem
coragem para assumir ou que pensa e sente, e covardemente usa a mentira como subterfúgio.
Mas pode ser também um grande manipulador acostumado a obter vantagens através
de mentiras, este é o seu modus operandi.
São dissimulados e mascarados. Escondem-se através da falta de explicações e
normalmente não respondem diretamente àquilo que lhes é perguntado. Fogem das
perguntas, mas também usam máscaras de “santo ou santa”. O segundo tipo
obviamente é o mais perigoso e com ele temos que agir como o falecido líder xavante
e primeiro deputado federal indígena no Brasil, o Juruna. Na década de 70 ele
ficou famoso por percorrer a Fundação Nacional do Índio com um gravador, o
objetivo era registrar todas as mentiras ditas pelo “homem branco” em suas
infundadas (mentirosas) promessas de proteção às terras indígenas.
Você deve estar se perguntando: Mas qual a diferença
entre mentiras e distorções?
Nenhuma, pois quem mente sempre distorce a realidade a
seu favor. Pode dizer, por exemplo, que o branco é o preto, mas também
modificar o branco tornando-o vermelho, ou cinza. Atualmente em função das
campanhas políticas vejo gente distorcendo notícias e propagando boatos nas
redes sociais. Até a mídia tradicional não se preocupa em buscar verdades, e
deixa todos nós envoltos em grandes mentiras e distorções. Todo o cuidado é
pouco!