segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Riquismo à Brasileira



O Riquismo à Brasileira
Suely Pavan Zanella 
 
“A graça não é consumir Arte, mas sim aquilo que outros não podem consumir. Patético.”
Via Twitter de Pablo Villaça

Há algum tempo escrevi um texto sobre o Pobrismo, que mostrava o enaltecimento da pobreza por parte do brasileiro, hoje escrevo sobre o Riquismo, um verdadeiro cancro que insiste em querer que a desigualdade sobressaia.
Note que em alguns radicais em que acrescentamos o sufixo “ismo” o mesmo denota exagero, é assim com o machismo, por exemplo. Riquismo, portanto, neste texto será um exagero recheado de outros ismos: o pedantismo, o esnobismo.
Quem é rico de verdade, não precisa se sobrepor a ninguém, e muito menos desmerecer ou desqualificar o outro.
Mas o riquismo à brasileira é sempre excludente. Talvez no Japão vejamos ricos varrendo a rua, e na França usando transporte coletivo, mas por aqui a coisa é diferente. O riquista precisa humilhar e atualmente sente-se excluído, pois num país em que a riqueza aumenta e se democratiza existem pessoas muito, mas muito mesmo incomodadas em saber que suas empregadas domésticas hoje podem viajar de avião, que seus filhos podem estudar e que talvez logo, logo elas terão o justo direito de ter os mesmos benefícios que os demais trabalhadores.
O último texto escrito pela jornalista Danuza Leão para o jornal A Folha de São Paulo é um grande exemplo sobre o riquismo. Em função do número de críticas que o mesmo recebeu no twitter, pode ser que amanhã ela se defenda dizendo que foi apenas sarcasmo!
Mas para facilitar a vida destaco alguns trechos:
“...já se foi o tempo em que ir a Paris era só para alguns; hoje, ninguém quer ouvir o relato da subida do Nilo, do passeio de balão pelo deserto ou ver as fotos da viagem --e se for o vídeo, pior ainda-- de quem foi às muralhas da China. Ir a Nova York ver os musicais da Broadway já teve sua graça, mas, por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?...
“...Viajar ficou banal e a pergunta é: o que se pode fazer de diferente, original, para deslumbrar os amigos e mostrar que se é um ser raro, com imaginação e criatividade, diferente do resto da humanidade?...”
“...Seguindo esse raciocínio, subir o Champs Elysées numa linda tarde de primavera, junto a milhares de turistas tendo as mesmas visões de beleza, é de uma banalidade insuportável. Não importa estar no lugar mais bonito do mundo; o que interessa é saber que só poucos, como você, podem desfrutar do mesmo encantamento...”
O escritor e crítico de cinema Pablo Villaça em seu Twitter matou a charada do esnobismo contido no texto da Danuza, através da frase que coloquei no início deste texto.
Não basta ser rico, é preciso esnobar, deixar o outro para baixo e lhe tirar os direitos de viajar, comer bem, etc e tal. Viver bem, a meu ver, deveria ser um direito de todos. Afinal quem tem dinheiro tem escolhas, e não se submete a tudo e muito menos a todos. O dinheiro proporciona sim uma série de possibilidades: ler mais, estudar mais, viajar mais.
Mas tem gente que faz parte deste mundo riquista e que está incomodada com a ascensão das classes outrora menos privilegiadas. E insiste em viver nesta espécie de competição pelo ter mais e mais a cada dia.
O verdadeiro rico é aquele que busca o enriquecimento alheio também. Investe em educação e no aumento de empregos, por exemplo.
Infelizmente os riquistas são facilmente reconhecíveis. Numa mesa de almoço eles gastam o tempo falando sozinhos de suas viagens internacionais mirabolantes, mesmo quando ninguém está interessado em ouvi-los.  A torto e a direito dizem que são pessoas de bem, apenas porque moram em bairros que consideram chics, ou porque tem o carro “y ou z”. Eles infestam o foursquare apenas para mostrar (esnobar) os locais glamourosos (segundo a ótica deles) em que estão. Falam nove palavras em inglês a cada dez que citam, e num exercício de falta de educação imensa nunca traduzem o que falam. Desprezam o país em que vivem e valorizam apenas aquilo que vem de fora. Julgam-se maiores e melhores que os outros apenas em função de seus critérios de poder.
No fundo são submissos a um poder antigo, e vivem do passado. Conheci um monte de riquistas em minha vida, a maioria era falida. Mas comiam frango e arrotavam peru. Os riquistas adoram viver de aparências e de grifes.
Diferentemente dos ricos verdadeiros eles são um enorme bloqueio para o crescimento do país. Querem manter a todo o custo o seu status quo. E entendem que qualquer avanço no sentido de diminuir as diferenças sociais/econômicas é uma ameaça. E aí quase sempre esperneiam. Não querem que a vergonhosa pobreza seja erradicada.
Os riquistas sofrem de um mal moral. Confundem democracia com socialismo. E quando algum governante quer tornar direito de todos viagens, artes, educação e segurança eles acham que é socialismo e que terão que dividir os seus bens com os outros. São míopes, e não percebem que o mundo está ai não para privilégio de poucos, mas para o usufruto de muitos.
Da minha parte torço pelo enriquecimento tanto financeiro quanto moral de todas as pessoas do planeta. E danem-se os riquistas com seus castelos de areia.