O
Riquismo à Brasileira
Suely Pavan Zanella
“A
graça não é consumir Arte, mas sim aquilo que outros não podem consumir.
Patético.”
Via
Twitter de Pablo Villaça
Há algum tempo escrevi
um texto sobre o Pobrismo, que mostrava o enaltecimento da pobreza por parte do
brasileiro, hoje escrevo sobre o Riquismo, um verdadeiro cancro que insiste em
querer que a desigualdade sobressaia.
Note que em alguns
radicais em que acrescentamos o sufixo “ismo” o mesmo denota exagero, é assim
com o machismo, por exemplo. Riquismo, portanto, neste texto será um exagero recheado
de outros ismos: o pedantismo, o esnobismo.
Quem é rico de
verdade, não precisa se sobrepor a ninguém, e muito menos desmerecer ou
desqualificar o outro.
Mas o riquismo à
brasileira é sempre excludente. Talvez no Japão vejamos ricos varrendo a rua, e
na França usando transporte coletivo, mas por aqui a coisa é diferente. O riquista
precisa humilhar e atualmente sente-se excluído, pois num país em que a riqueza
aumenta e se democratiza existem pessoas muito, mas muito mesmo incomodadas em
saber que suas empregadas domésticas hoje podem viajar de avião, que seus
filhos podem estudar e que talvez logo, logo elas terão o justo direito de ter
os mesmos benefícios que os demais trabalhadores.
O último texto escrito
pela jornalista Danuza Leão para o jornal A Folha de São Paulo é um grande exemplo
sobre o riquismo. Em função do número de críticas que o mesmo recebeu no
twitter, pode ser que amanhã ela se defenda dizendo que foi apenas sarcasmo!
Você pode lê-lo na
íntegra aqui: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danuzaleao/1190959-ser-especial.shtml
Mas para facilitar a
vida destaco alguns trechos:
“...já
se foi o tempo em que ir a Paris era só para alguns; hoje, ninguém quer ouvir o
relato da subida do Nilo, do passeio de balão pelo deserto ou ver as fotos da
viagem --e se for o vídeo, pior ainda-- de quem foi às muralhas da China. Ir a
Nova York ver os musicais da Broadway já teve sua graça, mas, por R$ 50
mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?...
“...Viajar ficou banal e a pergunta é: o
que se pode fazer de diferente, original, para deslumbrar os amigos e mostrar
que se é um ser raro, com imaginação e criatividade, diferente do resto da
humanidade?...”
“...Seguindo esse
raciocínio, subir o Champs Elysées numa linda tarde de primavera, junto a
milhares de turistas tendo as mesmas visões de beleza, é de uma banalidade
insuportável. Não importa estar no lugar mais bonito do mundo; o que interessa
é saber que só poucos, como você, podem desfrutar do mesmo encantamento...”
O escritor e crítico
de cinema Pablo Villaça em seu Twitter matou a charada do esnobismo contido no
texto da Danuza, através da frase que coloquei no início deste texto.
Não basta ser rico, é
preciso esnobar, deixar o outro para baixo e lhe tirar os direitos de viajar,
comer bem, etc e tal. Viver bem, a meu ver, deveria ser um direito de todos. Afinal
quem tem dinheiro tem escolhas, e não se submete a tudo e muito menos a todos. O
dinheiro proporciona sim uma série de possibilidades: ler mais, estudar mais,
viajar mais.
Mas tem gente que faz
parte deste mundo riquista e que está incomodada com a ascensão das classes
outrora menos privilegiadas. E insiste em viver nesta espécie de competição
pelo ter mais e mais a cada dia.
O verdadeiro rico é
aquele que busca o enriquecimento alheio também. Investe em educação e no
aumento de empregos, por exemplo.
Infelizmente os
riquistas são facilmente reconhecíveis. Numa mesa de almoço eles gastam o tempo
falando sozinhos de suas viagens internacionais mirabolantes, mesmo quando
ninguém está interessado em ouvi-los. A torto
e a direito dizem que são pessoas de bem, apenas porque moram em bairros que
consideram chics, ou porque tem o
carro “y ou z”. Eles infestam o foursquare
apenas para mostrar (esnobar) os locais glamourosos (segundo a ótica deles)
em que estão. Falam nove palavras em inglês a cada dez que citam, e num
exercício de falta de educação imensa nunca traduzem o que falam. Desprezam o país
em que vivem e valorizam apenas aquilo que vem de fora. Julgam-se maiores e
melhores que os outros apenas em função de seus critérios de poder.
No fundo são submissos
a um poder antigo, e vivem do passado. Conheci um monte de riquistas em minha
vida, a maioria era falida. Mas comiam frango e arrotavam peru. Os riquistas
adoram viver de aparências e de grifes.
Diferentemente dos
ricos verdadeiros eles são um enorme bloqueio para o crescimento do país.
Querem manter a todo o custo o seu status
quo. E entendem que qualquer avanço no sentido de diminuir as diferenças
sociais/econômicas é uma ameaça. E aí quase sempre esperneiam. Não querem que a
vergonhosa pobreza seja erradicada.
Os riquistas sofrem de
um mal moral. Confundem democracia com socialismo. E quando algum governante
quer tornar direito de todos viagens, artes, educação e segurança eles acham
que é socialismo e que terão que dividir os seus bens com os outros. São míopes,
e não percebem que o mundo está ai não para privilégio de poucos, mas para o
usufruto de muitos.
Da minha parte torço
pelo enriquecimento tanto financeiro quanto moral de todas as pessoas do
planeta. E danem-se os riquistas com seus castelos de areia.