segunda-feira, 26 de maio de 2014

ENCAMINHAR PARA A VALENTINA! (Quando o paciente não quer fazer psicoterapia)



ENCAMINHAR PARA A VALENTINA!
(Quando o paciente não quer fazer psicoterapia)

Autoria: Suely Pavan Zanella

 
Ao perceber que o paciente não está interessado em fazer psicoterapia ou não tem um problema real para resolver o “psi” Carlo Antonini (Emilio de Mello) ,personagem da excelente série PSI(HBO), encaminha o caso para a sua colega Valentina ( Claudia Ohana).
Carlo, como a maioria dos bons “psi”, gosta de casos difíceis e que requeiram uma boa dose de investigação. Não é à toa que ele se mete à torto e à direito em investigações de caráter policial. Há uma enorme semelhança entre bons investigadores criminais e “psis”.
Não há nada mais enfadonho do que, por exemplo, um paciente que vai fazer psicoterapia “para se conhecer”. Tive um supervisor que dizia: sempre pergunte ao paciente o que ele quer!
Eu acredito nisto. Fazer psicoterapia não é ir à sessão de Pilates, e muito menos participar de sessões de Reike. Requer do paciente compromisso para resolver o que lhe dói. Se não há dor, não há processo psicoterápico!
Seria o mesmo que ir ao médico apenas para saber as doenças do momento, ou para bater um papo.
Há uma enorme diferença entre fazer psicoterapia e bater papo sobre seus problemas com os amigos.
Psicoterapia feita por um “psi” é um processo difícil. Nem sempre dá vontade de comparecer às sessões, e por esta razão a maioria dos profissionais cobra as sessões antecipadamente, já que é comum o paciente faltar quando o calo, ou sua responsabilidade começa a falar mais alto. Ou como diria Freud: Que parte você tem nos males que se queixa?
Houve uma época, é verdade, em que fazer sessões de análise era moda. Para ser “in” tinha que ter um analista, e não à toa que até hoje as novelas, por exemplo, se referem apenas à psicanálise como única corrente de especialização após o curso de psicologia e psiquiatria.
Há pacientes, porém que não procuram a psicoterapia apenas como modismo, ou por causa de alguma crise midiática como a dos 30 ou 40 anos, o fazem porque querem um aliado, principalmente nas questões amorosas. É o caso, por exemplo, da mulher que vive um relacionamento amoroso horrível, mas quer porque quer permanecer no mesmo. Aí procura um “psi” para culpar-se e desta forma permanecer no relacionamento, apenas para dizer que tem um namorado ou marido.
Ela não busca a sua autoestima, mas sim recorrer à dependência, seja do futuro marido ou do psicoterapeuta. Quando o psicoterapeuta não complementa este jogo a paciente geralmente munida das mais diferentes desculpas abandona o processo.
Lembremos que psicoterapia é a busca pela saúde mental, e não por complementares de um jogo doentio.
Posso dizer que jovens psicoterapeutas costumam aceitar qualquer paciente, mesmo quando a psicoterapia emperra, não rende. Os mais experientes fazem como Carlo, e encaminham o caso para um colega que tenha mais paciência, como é na série o exemplo de Valentina. Ela não é incompetente na série, até porque nem dá para saber direito, já que quase nunca aparece atendendo.  Mas entendo, como psicoterapeuta, o descontentamento e o tédio de Carlo para atender determinados tipos de paciente. Com o tempo o psicoterapeuta também precisa do estímulo de casos instigantes advindos de pessoas que realmente querem melhorar e não apenas bater um papo sobre questões rasas e/ou como escrevi antes achar um cúmplice de suas fantasias limitadoras e doentias.
Não há também dentro da psicoterapia a exigência humanitária de atendermos toda e qualquer pessoa, como um padre o faz, por exemplo.
O melhor mesmo é termos todos uma Valentina, e tal como Carlo faz já nos primeiros cinco minutos e sem perda de tempo ter vários post its com o nome e telefone dela. Não adianta atender alguém apenas por atender, ou para ter mais um cliente.
Cada psicoterapeuta deve determinar também os casos que lhe interessam atender ou deixar de atender. Achei muito corajoso por parte da série PSI(HBO) abordar esta questão nem sempre desvelada nas aulas de psicologia ou nas supervisões sobre pacientes.