ENCAMINHAR PARA A
VALENTINA!
(Quando o paciente
não quer fazer psicoterapia)
Ao
perceber que o paciente não está interessado em fazer psicoterapia ou não tem
um problema real para resolver o “psi” Carlo Antonini (Emilio de
Mello) ,personagem da excelente série PSI(HBO), encaminha o caso para a
sua colega Valentina ( Claudia Ohana).
Carlo,
como a maioria dos bons “psi”, gosta de casos difíceis e que requeiram uma boa
dose de investigação. Não é à toa que ele se mete à torto e à direito em
investigações de caráter policial. Há uma enorme semelhança entre bons
investigadores criminais e “psis”.
Não
há nada mais enfadonho do que, por exemplo, um paciente que vai fazer
psicoterapia “para se conhecer”. Tive um supervisor que dizia: sempre pergunte
ao paciente o que ele quer!
Eu
acredito nisto. Fazer psicoterapia não é ir à sessão de Pilates, e muito menos participar
de sessões de Reike. Requer do paciente compromisso para resolver o que lhe dói.
Se não há dor, não há processo psicoterápico!
Seria
o mesmo que ir ao médico apenas para saber as doenças do momento, ou para bater
um papo.
Há
uma enorme diferença entre fazer psicoterapia e bater papo sobre seus problemas
com os amigos.
Psicoterapia
feita por um “psi” é um processo difícil. Nem sempre dá vontade de comparecer
às sessões, e por esta razão a maioria dos profissionais cobra as sessões
antecipadamente, já que é comum o paciente faltar quando o calo, ou sua
responsabilidade começa a falar mais alto. Ou como diria Freud: Que parte você tem nos males que se queixa?
Houve uma época, é verdade, em que
fazer sessões de análise era moda. Para ser “in” tinha que ter um analista, e
não à toa que até hoje as novelas, por exemplo, se referem apenas à psicanálise
como única corrente de especialização após o curso de psicologia e psiquiatria.
Há pacientes, porém que não procuram
a psicoterapia apenas como modismo, ou por causa de alguma crise midiática como
a dos 30 ou 40 anos, o fazem porque querem um aliado, principalmente nas questões
amorosas. É o caso, por exemplo, da mulher que vive um relacionamento amoroso
horrível, mas quer porque quer permanecer no mesmo. Aí procura um “psi” para
culpar-se e desta forma permanecer no relacionamento, apenas para dizer que tem
um namorado ou marido.
Ela não busca a sua autoestima, mas
sim recorrer à dependência, seja do futuro marido ou do psicoterapeuta. Quando
o psicoterapeuta não complementa este jogo a paciente geralmente munida das
mais diferentes desculpas abandona o processo.
Lembremos que psicoterapia é a busca
pela saúde mental, e não por complementares de um jogo doentio.
Posso dizer que jovens
psicoterapeutas costumam aceitar qualquer paciente, mesmo quando a psicoterapia
emperra, não rende. Os mais experientes fazem como Carlo, e encaminham o caso
para um colega que tenha mais paciência, como é na série o exemplo de
Valentina. Ela não é incompetente na série, até porque nem dá para saber
direito, já que quase nunca aparece atendendo. Mas entendo, como psicoterapeuta, o descontentamento
e o tédio de Carlo para atender determinados tipos de paciente. Com o tempo o
psicoterapeuta também precisa do estímulo de casos instigantes advindos de
pessoas que realmente querem melhorar e não apenas bater um papo sobre questões
rasas e/ou como escrevi antes achar um cúmplice de suas fantasias limitadoras e
doentias.
Não há também dentro da psicoterapia
a exigência humanitária de atendermos toda e qualquer pessoa, como um padre o
faz, por exemplo.
O melhor mesmo é termos todos uma
Valentina, e tal como Carlo faz já nos primeiros cinco minutos e sem perda de
tempo ter vários post its com o nome
e telefone dela. Não adianta atender alguém apenas por atender, ou para ter
mais um cliente.
Cada psicoterapeuta deve determinar
também os casos que lhe interessam atender ou deixar de atender. Achei muito
corajoso por parte da série PSI(HBO) abordar esta questão nem sempre desvelada
nas aulas de psicologia ou nas supervisões sobre pacientes.