NÃO QUERO FALAR COM
NINGUÉM
Suely
Pavan Zanella(*)
Há
momentos na vida em que é preciso o silêncio. Não são crises de tristeza, e
muito menos depressão. São instantes necessários, despoluídos dos outros que às
vezes, apesar das boas intenções, interrompem e até pouco entendem estes
minutos ou horas de apenas reflexão. Viver sem refletir sobre as coisas que nos
circundam é repetir respostas velhas e que não dar mais certo, e deixar de
conversar com a(o) nossa(o) melhor amiga(o): Nós mesmos.
Refletir
não é só pensar, mas também ressoar: o livro que se gosta, o filme que faz bem
ou a música que nos ecoa.
Nos tempos
corridos que vivemos temos poucos momentos para a reflexão. Ou será que temos,
e não utilizamos de forma adequada as horas no trânsito, por exemplo, para
refletir.
Nem todos
têm o privilégio ou a possibilidade de parar para refletir, então temos que
usar truques como, por exemplo, o do trânsito.
Antes
de escrever um texto, por exemplo, eu preciso refletir e se as interrupções são
demasiadas fica difícil fazê-lo. Há textos como este que são pura reflexão,
outros demandam pesquisas que levam, horas, dias e até meses. Os textos vivem
no cérebro, e a cada interrupção tenho que refazer totalmente este fluxo
criativo. Tanto que adoraria ter um “chip” que me ligasse diretamente ao
computador. Nestas horas, apesar de ser uma pessoa bastante sociável, preciso
do silêncio, e literalmente não quero falar com ninguém.
Já
trabalhei em lugares barulhentos, e sempre tive que escrever, não só textos,
como projetos, cursos e palestras. O que fazer? Utilizava-me de um truque.
Coloquei em minha mesa de trabalho uma frase: Não interrompa gênio trabalhando!
A brincadeira
da placa dava certo, até com aqueles colegas de trabalho que viviam a
borboletear pelas mesas querendo contar a todo o custo seus assuntos pessoais.
Para eles, sempre mais importante que toda e qualquer coisa relacionada ao
trabalho.
Hoje
com minha própria empresa não existem placas, e apesar de toda a minha
disciplina para trabalhar as interrupções são constantes, então tenho que me
concentrar.
Aliás,
a reflexão é quase uma irmã da concentração. Quem se concentra foca naquilo que
está fazendo através da reflexão.
Deveríamos,
se isto fosse possível, usar uma plaquinha no pescoço com os dizeres: Não quero
falar com ninguém!
Iria
ser muito interessante observar a reação das pessoas a este pedido, e suas indagações:
Será que ela (e) está triste? Será que ela(e) está fugindo de alguma coisa?....
E outras dezenas de “interpretites” relacionadas ao simples ato humano de
querer ficar apenas quieta (a).
É muito
interessante verificar em nossa sociedade espetaculosa que valoriza em demasia os
falantes, e pouco os quietos, que o ato da quietude e de não querer falar com
ninguém é simplesmente humano. Foi
através da quietude, da reflexão, que inventos foram feitos, que a
produtividade em qualquer área se fez presente, e que a criação de algo novo
ocorreu. O barulho tem a ver com a ação, com o resultado final, mas não com o
seu processo.
A
ordem das coisas, não mudou: Alguém sentiu alguém pensou, e alguém agiu.
Foi o
sentimento de incomodo, por exemplo, que fez com que pensássemos numa mudança e
após pensar, refletir, a ação foi feita. Mas o grande “input” foi o sentir e
depois o pensar.
Refletir
sobre a vida que temos sobre o que somos nós, sobre o trabalho que fazemos, é
saudável. Porém, um exercício solitário, não é uma discussão, um debate com os
outros, é uma explosão interna.
Fala-se
muito em autoconhecimento, mas ele só ocorre por meio da introspecção, do
silêncio e da solidão saudável.
Além
do mais ficar consigo mesma (o) é um exercício delicioso, e nos ajuda, e muito,
a verificar como queremos ser tratadas (os) pelos outros.
(*) Este texto poderá ser utilizado em
outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato.