Estamos
Irreconhecíveis?
O tempo nos
transforma, é verdade, mas será que mudamos fisicamente tanto assim?
Suely Pavan Zanella
Quando eu estava grávida de meu filho há trinta anos eu
tinha uma mania, todos os dias eu passava no supermercado e babava na seção de
vinhos (só olhava, já que não podia beber). Um dia escutei uma mulher chamando
o meu nome a uma distância. Eu devia estar de uns oito meses, tinha um barrigão,
e havia engordado cerca de 20 quilos. Quem me reconheceria daquele jeito?
A mulher continuou a me chamar e toda alegre veio ao
meu encontro. E eu pensei: Quem será ela?
Ela disse o seu nome, que havia estudado comigo no que
outrora se chamava ginasial e eu só fui me dando conta de quem ela era através
da voz e do jeito infantil de falar (parecia que ela sempre estava com um
chiclete na boca), mas fisicamente ela estava muito diferente. Ela era aquilo
que os americanos chamam de “popular” na escola. Não tínhamos amizade, eu
sempre fui C.D.F. daquelas que sempre sentam na primeira carteira e vão bem nos
estudos. Meu grande defeito era rir de tudo, tanto que na época da escola um
dos meus apelidos era risoleta. E minha risada sempre foi alta e escandalosa.
Ela, ao contrário, perambulava pela escola, tal como uma borboleta em busca de
rapazes. O jeito que ela me tratou no supermercado porém, foi diferente, e
parecia que eu e não ela era “o popular”. Conversei um pouco com ela, fui
educada e mais nada.
Anos se passaram e um dia peguei um taxi para ir ao
Shopping perto de casa. E de novo aconteceu o mesmo. O motorista sabia tudo
sobre a minha vida, falou dos meus pais, e eu até hoje não sei quem ele é. Mas,
fiquei impressionada com o número de detalhes que ele sabia sobre a minha
pessoa e de minha família. Ele também havia estudado comigo só que na época do
que se chamava antigamente de Colegial. Quem era o cara? Não sei.
Todos nós com o passar do tempo mudamos nosso aspecto
físico. O que notei é que algumas pessoas mudam muito. E não estou falando em
engordar ou emagrecer. Ou mudar a cor dos cabelos, coisa que eu faço sempre. E
muito menos de fazer plásticas e ficar plastificado. Muito menos de querer ficar
eternamente jovem. O que me refiro são pessoas que envelhecem de um jeito estranho,
e estampam um certo amargor, gente que vive do passado, e que repete a todo o
tempo “no meu tempo”. Acho que isso é algo que vai mudando as pessoas
fisicamente e para pior.
Outro dia encontrei uma amiga no supermercado também da
época em que cursava o ginasial, ela estava mais velha, é claro, mas a
luminosidade de olhar era a mesma, e o rostinho também. Parecia que o tempo havia
parado. Ficamos um tempão conversando e depois a encontrei no Facebook. E o
mais engraçado, que nem notei se ela estava gorda ou magra, coisa que
normalmente as pessoas se fixam (uma bobagem cá entre nós).
Bom, da minha parte fico feliz de ainda ser
reconhecida. Afinal, eu continuo a ser estudiosa, gosto de aprender, e dar risada
de forma escancarada, e sei que o meu tempo é este, o resto é passado. E
passado é só referência, permanecer nele, ou justificar toda e qualquer coisa como
sendo em função dele, faz o pescoço ficar duro, o rosto enrugado e os joelhos
dobrarem mais rápido.