AS
FAMÍLIAS DOS USUÁRIOS DE DROGAS
Suely
Pavan Zanella
Hoje
começa em São Paulo a internação involuntária dos usuários de drogas, que é
feita por solicitação da família e avaliada por um promotor em 72 duas horas.
Esta prática é bem comum nos Estados Unidos e Europa. Ela difere da internação
compulsória que é feita por médicos, independentemente da opinião ou
solicitação da família.
Ou
seja, na internação involuntária o foco é a demanda familiar.
Há
pessoas que são contra este tipo de internação e outras a favor.
O próprio
Conselho Regional de Psicologia S.P. é contra e hoje protesta em frente ao Cratod
(Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas do Estado). Sua
eficácia é, segundo alguns especialistas, rara e o índice de recuperação é de
apenas 2%.
Alguns
desconfiam também da medida adotada pelo Governador de São Paulo, chamando-a de
higienista como foi há um ano quando usuários de crack foram retirados à força
pela polícia e hoje estão instalados tranquilamente em diferentes bairros da
cidade de São Paulo.
Outros
acreditam que se deva cortar o mal pela raiz, ou seja, não permitindo que o
crack e outras drogas cheguem às fronteiras brasileiras.
As
questões são múltiplas e os interesses diversos. E nesta questão parece que
cada um só olha o seu próprio lado.
Este
texto não tem o objetivo de dizer que o usuário de crack deva ser ou não
internado à força, mas sim lançar um olhar empático sobre aqueles que parecem
ser esquecidos, e que sofrem diretamente os efeitos de ter um filho, uma
conjugue ou um amigo usuário desta maldita droga.
Para
lê-lo é preciso ser empático, ou seja, ser capaz de colocar-se no lugar do
outro.
Quantas
mães em São Paulo andam atrás de seus filhos, desesperadas e sem saber o que
fazer com eles?
Crianças,
adolescentes e adultos de diferentes classes sociais que somem de casa e vão
atrás da droga. O que fazem estes pais?
Temos
a errada mania de julgá-los dizendo que a culpa é deles. Ou então de generalizar
achando que o uso do crack está ligado a condições precárias de vida. O crack
está presente na pobreza, na classe média e na riqueza. Entrar nele é uma
opção, porém sair dele é difícil, pois seus efeitos são dilacerantes, e
raramente o usuário por vontade própria consegue fazê-lo. E eu fico muito
triste quando vejo usuários pelas ruas, como se fossem zumbis.
As
famílias dos usuários também ficam preocupadas com o envolvimento dos filhos
com a criminalidade. Na semana passada um motorista foi simplesmente executado
por um usuário de crack. Após matar este motorista ele assaltou outro carro,
levou o notebook do motorista e o vendeu por três pedras.
São
comuns também não só as agressões físicas aos familiares como os incontáveis
casos de assassinato da família. Basta você procurar no Google e verá quantos
pais e parentes foram aniquilados por usuários de crack.
Neste
meu exercício empático a conclusão que chego é que não deve ser nada fácil ser
mãe ou pai de um usuário de crack. Talvez uma pessoa rica tenha condições de internar
um filho contra a sua vontade, mas como fazer e a quem procurar se você não tem
dinheiro para tal? Este tipo de clínica costuma ser muito
cara!
Como escrevi
no início do texto honestamente não sei se a internação involuntária funciona
ou não. Só sei que é uma esperança e talvez a única e última para os familiares
destas pessoas.
Se usar
drogas é uma opção para algumas pessoas e sair delas também o é, talvez tenhamos
que adotar uma nova postura: a do bem comum, ao invés de pensar apenas nos
direitos dos usuários.
Quando
vejo pensamentos tão lineares me pergunto: E os afetados o que devem ou podem fazer?
A
opção de usar drogas pode ser uma decisão pessoal, mas não sejamos cegos ao
imaginar que ela afeta apenas aos usuários. E as famílias? E nós a sociedade
que não vemos cura para este mal e somos diariamente obrigados a conviver com
ele através de ações violentas e impensadas por parte dos usuários?
Outro
dia li um depoimento de um ex-usuário de crack que passou sobre o corpo da própria
mãe morta vítima de um enfarto fulminante quando acompanhava o filho para
comprar crack. Ela não sabia mais o que fazer e para ficar como filho resolveu ir
junto com ele em todos os lugares.
Somos
responsáveis por nossas escolhas e também pela forma como a mesma afeta os
outros.
A lei
antifumo, por exemplo, proibiu o uso do cigarro em lugares públicos e fechados
e ganhou adesão da população
criando uma espécie de ojeriza social contra os fumantes. Por qual razão somos tão
condescendentes com usuários de drogas que prejudicam suas famílias e toda a
sociedade com a suas escolhas?