segunda-feira, 17 de novembro de 2014

BAIXA TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO



BAIXA TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO


Suely Pavan Zanella

Você sabe qual é a diferença entre um neurótico e um psicótico?
O Neurótico diz: 2+2 é 4, e eu não me conformo com isso!
O Psicótico diz: 2+2 é 5, e isso é maravilhoso!
O neurótico não se conforma com a realidade e usa diferentes mecanismos de defesa para tentar mudá-la ao seu bel prazer. Mesmo que a realidade esteja aos seus pés, ele não quer saber.
O psicótico, ao contrário, cria uma realidade própria e nela acredita. Ele diz que aqui há um muro, e mesmo que ninguém o veja, para ele o muro está lá firme e forte. Para conversar com um psicótico é preciso entrar em suas fantasias.  
O neurótico nega o fato, se apega ao passado ou vive no futuro que não existe. Aliás, o neurótico não gosta muito de fatos, ele vive de conjecturas, de achismos e de um excesso de “mimimis”. No fundo ele não quer se frustrar. Quando contrariado ele arruma uma série de argumentos, mesmo que sejam falsos.
Por exemplo, vamos supor que uma moça queira namorar um rapaz que não quer namorar com ela de jeito nenhum. Se ela tiver baixa tolerância à frustração, que é o medo ou a incapacidade de sentir dor, mesmo que ele escreva, desenhe e até grite em alto e bom som “Eu não gosto de você”, não adianta. Ela acreditará apenas no que quiser acreditar. E poderá racionalizar e usar de negação, dizendo: Ele acha que não gosta de mim, mas no fundo gosta, ele apenas não sabe!
Quem tem baixa tolerância à frustração não sabe perder, e sempre quer ganhar a qualquer custo. Perder significa ter que lidar com a dor, coisa que a maioria de nós não gosta muito de fazer. É ficar triste e quieto num canto, sem alardes!
Se a moça não quiser transar, você a força. São assim os casos de estupro. Se o cara for discordante de você em qualquer questão, começam as agressões físicas ou verbais. Não importa. O importante é vencer sempre, ser um campeão, e seguir o ritual do feliz, mesmo que o mundo ao redor esteja infeliz. Quem tem baixa tolerância à frustração está pouco se incomodando com o mundo ao seu redor, só se preocupa consigo mesmo. É narcisista, e narciso só acha bonito aquilo que é espelho.
Tenha uma opinião diferente? Deus me livre! Lá vem discurso.
Se apegue a um fato! Pra quê? O Narciso distorce, mesmo que existam fatos e mais fatos comprobatórios. Ele não quer saber, normalmente nestes casos ele parte para a agressão.
Em tempos de redes sociais, a agressão se dá por escrito e dane-se o outro. Quem tem baixa tolerância à frustração, não se importa muito com o outro, como escrevi antes. Gente assim não se está preocupada se ofenderr, burlar dados, mentir, manipular informações, desde que ganhe sempre.
E no nosso mundo de imagens é fácil ser assim. Basta inventar uma mentira bem contornada, e como e mostra-la através de uma imagem.  Como pouca gente pesquisa ou vai atrás do conteúdo, ela vira verdade compartilhada mil vezes. E é impressionante como aqueles que têm baixa tolerância à frustração se complementam. Eles querem que o mundo seja do jeito deles. Se a maioria quer churrasco eles munidos de 365 argumentos, mesmo que mentirosos, farão valer seus direitos de comerem pizza. Dane-se a maioria, ela, segundo eles, é que não sabe escolher o melhor alimento. Eles sempre são os donos da razão.
Condenam sem julgar e sem provas, mas detestariam que o mesmo acontecesse com eles. Eles se julgam maiores sempre, e acima do bem e do mal, e também das leis e da Justiça.
Eles não são reivindicadores, já que estes têm argumentos e fatos robustos, são apenas reclamadores.RE – Clamam, como se fosse crianças estacionadas nos três anos de idade. Fazem birra, manha, jogam-se no chão, e apelam para a violência, mesmo quando têm 50 ou 70 anos.  
Estes narcisos se esquecem que frustrar-se é crescer. Quem não se frustra na vida não cresce nunca e vive a insistir que o mundo está errado e só eles, que não respeitam ninguém, estão certos.
Pessoas assim são avessas à mudança, aliás, mal a enxergam, querem que o mundinho permaneça mundinho. Mudança todos sabemos, são pequenos movimentos sutis e normalmente não violentos. Nunca esquecerei da imagem de uma única pessoa munida de uma ferramenta quebrando o muro de Berlim,  e que com alegria foi  contagiando as demais. Óbvio que esta mudança começou antes, e de forma silenciosa, bem estruturada e com conteúdo.Sem fotos, filmes, ou holofotes. A dor é que fez com que o muro se quebrasse, e não a insistência de dizer violentamente que ele não poderia ser assim e tinha que ser do “Meu jeito”.  
Digo sempre para a minha neta de 2 anos e 11 meses: Quando estiver com raiva, bata nas almofadas e não nas pessoas!
Ter raiva é um direito, todos a sentimos, não adianta negar! Achar que todos devem se submeter a ela, é ter baixa ou baixíssima tolerância à frustração.  
Só se torna um sábio adulto quem tolera as frustrações, os demais apenas querem que as coisas sejam feitas do seu jeito, não sabem perder.
Este é o grande mal da sociedade atual. Criamos filhos para não se frustrarem e hoje colhemos os resultados que é este bando de gente narcisista. Esquecemos que criando filhos apenas para ser felizes, isto implica na infelicidade de muita gente. Deveríamos, a meu ver, criar filhos responsáveis e com ética. Ética significa a arte do bem viver, e este bem viver são para todos, e não apenas para uma parcela, normalmente privilegiada.
Hoje são os narcisistas que estão nos consultórios, não para melhorarem a sua percepção, mas sim para que o psicoterapeuta reforce sua imagem distorcida do mundo. Aquele mundo, que segundo eles, lhes deve alguma coisa. E que deveria mudar para melhor atendê-los.