POR
TE AMAR TANTO
Suely Pavan Zanella
“Por te amar demais eu tenho permitido coisas
aparentemente absurdas, para os outros.
Eu fico sempre tentando descobrir, por exemplo, o que
fiz de errado, quando não te agrado. Será
que meu cabelo está mal penteado? Será que estou gorda e feia?
Tenho feito academia incessantemente nos últimos
anos, mas a impressão que tenho é que engordei e estou ficando velha. Afinal
você vive a me criticar dizendo que eu como demais. E também não se exime em
olhar as outras mulheres nas ruas.
Ontem
quis te fazer uma surpresa e te levei naquele restaurante em frente à praia que
você gosta tanto e fiquei muito magoada quando você olhou descaradamente a moça
que passava de biquíni. E o ato de me magoar te irritou muito. Peço desculpas
pela minha infantilidade. E também pelo nervoso que te fiz passar. As pessoas
no restaurante olhavam para você gritando na mesa comigo sem imaginar que eu
era a culpada por você estar passando aquela situação constrangedora. Afinal,
se eu me cuidasse mais você não teria necessidade de olhar para outras
mulheres.
Sei que já fiz muitas promessas, e sempre você me diz que
eu só sei falar e nada faço para melhorar o meu comportamento inseguro. Sei
também que você não gosta de mulheres inseguras. Já me afastei dos meus amigos
e parentes que você dizia que só me faziam mal. E desde que nos conhecemos você
disse que ia cuidar de mim. E sempre fez isso, tomando o cuidado para que eu
não me vestisse de forma atrapalhada ou chamativa demais. Sei que agora que
você está desempregado tem ficado sozinho por muito tempo em casa. E que eu nem sempre
tenho dinheiro para pagar as coisas que você gosta, como aquele vinho francês
que sempre tomávamos. Vou me esforçar mais, para arrumar mais dinheiro, e
talvez hoje à noite eu comece a fazer traduções em casa, após fazer um jantar
especial para você, é claro.
Ah! Antes que você fique sabendo por outras pessoas hoje
de manhã eu encontrei com aquela minha amiga da faculdade, a Magali lembra?
Ela me convidou para tomar uns drinks após o trabalho, mas como eu sei que você não gosta dela, eu
recusei. Fique tranquilo!
Eu não quero te estressar e nem causar mais dissabores,
e sei que você está chateado por ter perdido o emprego.
Ontem você disse que não aguenta mais morar comigo.
Lembre que eu te amo demais! E não quero por nada te perder. Não sei o que
seria de mim sem você. Prometo ser uma pessoa melhor.
Não vou mais implicar também com as drogas e seus
amigos que você traz para dentro de casa quando eu não estou. Talvez estas
drogas te tragam o alívio que eu não sou capaz de te dar.
Essa noite, após o soco que você me deu, eu fiquei
pensado em quanto eu estou errada em reclamar. Afinal, há três meses você está
sem trabalho. E devido a esta crise não tem conseguido emprego.
Fique tranquilo que desta vez ninguém percebeu os
hematomas em meu rosto, como daquela outra vez. Sei que você me bateu por puro nervosismo,
afinal eu te irritei muito ontem no restaurante.
Te amo demais!”
E-mail
enviado por uma vítima contumaz de violência psicológica e física ao marido
violento.
Ela
como a maioria das vítimas acredita que é a culpada pelo comportamento violento
do outro.
Se
você se identificou com parte ou a totalidade deste texto busque ajuda. Você é
co-dependente de um homem/situação violenta.