segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O TEMPO EM QUE DANÇÁVAMOS JUNTOS

O TEMPO EM QUE DANÇÁVAMOS JUNTOS

Por Suely Pavan Zanella


Não pense você que vou escrever sobre a época dos bailes vienenses regados a Strauss. Muito menos de dança de salão, ou da forma elegante que os mais velhos dançavam em bailes espalhados pela cidade.
Nada disto!
Este texto versa sobre um hábito simples, não coreografado, e que não consistia em nenhum passo marcado. Bastava apenas a menina ou mulher, abraçar o pescoço do rapaz e ele fazer o mesmo ao redor da cintura dela. Os passos não tinham nada de dois pra lá, dois pra cá. Tinha gente até que dançava parada.  A verdade é que em toda danceteria, boate ou balada, depois de três ou quatro músicas agitadas, se tocava duas ou três chamadas de “música lenta”. Toda a banda, ou ao menos a maioria delas, tem em seu repertório músicas lentas, dançáveis, portanto, a dois. Vi isso até no último Rock In Rio!
Acredito que o ato de não tocar mais músicas lentas em baladas começou por volta do final dos anos 90. Ao menos em São Paulo foi assim. Quando as baladas por aqui se tornaram segmentadas, e o ato de dançar ganhou ou a adesão maciça das danças de salão, ou o egoísmo da pegação. E também as baladas em São Paulo começaram a ficar divididas por idade. O que é um verdadeiro absurdo. Dançar não tem restrição de idade, como disse certa vez o falecido ator Raul Cortez, ao ser motivo de gargalhadas por parte dos jovens preconceituosos ao dançar freneticamente em uma balada.
 O ato de dançar juntinho era uma excelente oportunidade de conhecer alguém. Já que durante a música era possível bater um papo. Se o papo era bom durava mais de uma música, caso contrário se encerrava logo de cara. Se o rapaz era inconveniente, do tipo que só queria ficar passando a mão na garota, também era fácil descartá-lo. Ao contrário de hoje em dia em que baladas só servem para beber até cair e fazer campeonato de quem beija mais, antigamente o prazer era conhecer pessoas.  E não é à toa que muita gente conheceu o namorado ou a namorada em um evento assim.
A música lenta seguia com precisão os passos para se conhecer alguém. Antes havia a paquera, e depois o bate papo. Nada era invasivo, como nos dias atuais. Hoje temos uma nova lei sobre o estupro, em que até um beijo forçado é considerado abusos sexual. Fico imaginando como deve ser difícil de provar este tipo de crime, em função da beijação generalizada e obviamente da bebedeira que virou sinônimo de diversão. Nos tempos da música lenta seria muito fácil, e na realidade não haveria o que temer, pois um beijo forçado era notório, e a garota normalmente, apesar da inexistência da lei, não se acanharia em se livrar rapidamente do seu agressor. Os beijos e amassos que poderiam ocorrer durante uma música lenta eram visivelmente consentidos por ambas as partes. E ninguém ficava contando com quantas pessoas ficou durante a noite.
As pessoas que viveram a época das músicas lentas tocadas em toda e qualquer balada, provavelmente são do tempo em que na infância e na adolescência participavam de bailinhos de garagem na casa (como na foto) de amigos, parentes, escolas e vizinhos. Estas atividades eram normais nos anos 70 e 80.
Desde que eu era pequena, a família de minha avó materna tinha o hábito de tirar as mesas da sala e dançar após as comemorações de Natal e Ano Novo. Como eu era muito pequena ficava com a seleção musical, uma espécie de DJ da época.

Tudo era regado a música, tanto que sempre achei que a vida deveria ter trilha musical. Havia música para os momentos alegres, tristes, e também para dançar juntinho. Com o fundo musical era possível liberar a imaginação. Bons tempos!

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