segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Por Te Amar Tanto

POR TE AMAR TANTO


Suely Pavan Zanella

“Por te amar demais eu tenho permitido coisas aparentemente absurdas, para os outros.
Eu fico sempre tentando descobrir, por exemplo, o que fiz de errado, quando não te agrado.  Será que meu cabelo está mal penteado? Será que estou gorda e feia? 
Tenho feito academia incessantemente nos últimos anos, mas a impressão que tenho é que engordei e estou ficando velha. Afinal você vive a me criticar dizendo que eu como demais. E também não se exime em olhar as outras mulheres nas ruas.  
Ontem quis te fazer uma surpresa e te levei naquele restaurante em frente à praia que você gosta tanto e fiquei muito magoada quando você olhou descaradamente a moça que passava de biquíni. E o ato de me magoar te irritou muito. Peço desculpas pela minha infantilidade. E também pelo nervoso que te fiz passar. As pessoas no restaurante olhavam para você gritando na mesa comigo sem imaginar que eu era a culpada por você estar passando aquela situação constrangedora. Afinal, se eu me cuidasse mais você não teria necessidade de olhar para outras mulheres.
Sei que já fiz muitas promessas, e sempre você me diz que eu só sei falar e nada faço para melhorar o meu comportamento inseguro. Sei também que você não gosta de mulheres inseguras. Já me afastei dos meus amigos e parentes que você dizia que só me faziam mal. E desde que nos conhecemos você disse que ia cuidar de mim. E sempre fez isso, tomando o cuidado para que eu não me vestisse de forma atrapalhada ou chamativa demais. Sei que agora que você está desempregado tem ficado sozinho por muito tempo em casa. E que eu nem sempre tenho dinheiro para pagar as coisas que você gosta, como aquele vinho francês que sempre tomávamos. Vou me esforçar mais, para arrumar mais dinheiro, e talvez hoje à noite eu comece a fazer traduções em casa, após fazer um jantar especial para você, é claro.
Ah! Antes que você fique sabendo por outras pessoas hoje de manhã eu encontrei com aquela minha amiga da faculdade, a Magali lembra?
Ela me convidou para tomar uns drinks após o trabalho, mas como eu sei que você não gosta dela, eu recusei. Fique tranquilo!
Eu não quero te estressar e nem causar mais dissabores, e sei que você está chateado por ter perdido o emprego.
Ontem você disse que não aguenta mais morar comigo. Lembre que eu te amo demais! E não quero por nada te perder. Não sei o que seria de mim sem você. Prometo ser uma pessoa melhor.  
Não vou mais implicar também com as drogas e seus amigos que você traz para dentro de casa quando eu não estou. Talvez estas drogas te tragam o alívio que eu não sou capaz de te dar.
Essa noite, após o soco que você me deu, eu fiquei pensado em quanto eu estou errada em reclamar. Afinal, há três meses você está sem trabalho. E devido a esta crise não tem conseguido emprego.
Fique tranquilo que desta vez ninguém percebeu os hematomas em meu rosto, como daquela outra vez. Sei que você me bateu por puro nervosismo, afinal eu te irritei muito ontem no restaurante.  
Te amo demais!”

E-mail enviado por uma vítima contumaz de violência psicológica e física ao marido violento.
Ela como a maioria das vítimas acredita que é a culpada pelo comportamento violento do outro.

Se você se identificou com parte ou a totalidade deste texto busque ajuda. Você é co-dependente de um homem/situação violenta. 

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