segunda-feira, 24 de março de 2014

"ENCOXADORES"



“ENCOXADORES”
sUELY pAVAN zANELLA


É ignorância ou ingenuidade acreditar que somente na atualidade existem os “encoxadores”. Infelizmente, eles sempre existiram.
Eu por exemplo, comecei a trabalhar na adolescência, e nesta época as garotas se vestiam com microssaias e blusas feitas de meia de nylon somente com bolsinhos para cobrir os mamilos. E mesmo vestidas desta forma, que hoje nos tempos caretas em que vivemos seria considerada provocativa, azar do homem que se aproximasse ou “encoxasse” em uma garota. Elas partiam pra cima, mesmo quando na maioria dos casos, não contassem sequer com um olhar colaborativo. A maioria das pessoas que trafegava nos ônibus e metrôs normalmente ria quando via uma mulher ser bolinada. Muitos, naquela época, reagiam rindo e dizendo que a mulher era louca, mas mesmo assim elas reagiam. Nenhuma mudou o seu modo de vestir ou se eximiu de fazer um escarcéu público. Eu fui vítima até a alguns anos atrás de gente assim, e acredito que a maioria das mulheres também o foi. Só parei de sê-lo quando adotei o carro ao invés do transporte público.
Antes, é verdade, o transporte público era melhor, mais confortável e vazio, mas mesmo assim sempre havia homens que vinham de suas casas com uma disposição insuportável para se esfregarem nos ombros das mulheres quando elas estavam sentadas e eles em pé. Usávamos o que tínhamos em mãos para afastar estes homens de agulhas de tricô a canivetes. E xingávamos estes desgraçados em alto e bom som. Obviamente eles nos xingavam de volta, mas não estávamos nem um pouco preocupadas com isto. O “passa mão” não acontecia somente nos transportes públicos, mas também nas ruas. Você vinha andando tranquilamente na rua, quando de repente um homem te passava a mão!
Não havia leis para considerar estes homens como estupradores, como há agora, a mulher carregava uma culpa social por ser um ser sexual, mas mesmo assim não deixávamos de mandar pra bem longe estes caras mal resolvidos sexualmente.
Um “encoxador” sofre de um transtorno sexual chamado de parafilia, que antigamente chamava-se de perversão sexual. Dentro das parafilias ele se enquadra no termo de frotteurismo (toque ou fricção em outra pessoa, normalmente vestida sem o seu consentimento). O termo frotteurismo vem do francês frotteur que significa fricção.
Embora seja um transtorno isto não significa que um froutterista não possa ser punido legalmente, já que sabe muito bem o que está fazendo. Novamente é ignorância achar que se alguém é doente por sofrer de um transtorno é também inimputável.
Infelizmente a mídia ao invés de esclarecer este tipo de coisa conceitualmente mais atrapalha do que ajuda.
E minha recomendação às mulheres é sempre a mesma:
1)   Aprendam a se defender. A mulher não deve assumir a culpa pela irresponsabilidade alheia. Todos sabem que roupas ou o fato de ser bonita não dá o direito a ninguém de lhe bolinar, ou assediá-la sexualmente;
2)   Lembre-se que desde 2009 há uma lei do estupro que é diferente da anterior datada de 1940. Hoje até um beijo forçado é considerado estupro. Informe-se, leia nas fontes, e não se deixe enganar.
Se as garotas da década de 70 e 80 sabiam se defender o que está acontecendo com as de agora?
Mulher tem que aprender a ser esperta. Não somos princesas indefesas, estamos muito mais para Fionas do que para as Princesinhas da Disney. Os tempos mudaram as leis agora existem, e se você se achar culpada por ter sido bolinada busque urgente ajuda psicoterápica. Nossa sexualidade que hoje é aparentemente mais livre e aceita não pode ser transtornada por homens que nos bolinam em transportes públicos. Eles sim é que deveriam sentir-se culpados, afinal estão invadindo sem consentimento algum o corpo alheio. Conheci senhoras com roupas discretíssimas e que chegaram ao trabalho empossadas do esperma alheio em suas roupas. Mulher não é poste e não serve de objeto de masturbação para o desejo sexual alheio.
Roupas de qualquer tipo não dão consentimento a ninguém para nenhum tipo de abuso. Masturbar-se imaginando uma mulher é muito diferente de usar literalmente o corpo dela para tal.
Antes de finalizar, vejam que interessante: Estava procurando imagens de “encoxadores” no Google para ilustrar este texto e fiquei perplexa ao ver que até lá as mulheres estavam sempre provocando os caras e gostando de ser “encoxadas”. Mídia machista!