“ENCOXADORES”
sUELY pAVAN zANELLA
É ignorância ou ingenuidade acreditar que somente na atualidade
existem os “encoxadores”. Infelizmente, eles sempre existiram.
Eu por exemplo, comecei a trabalhar na adolescência, e
nesta época as garotas se vestiam com microssaias e blusas feitas de meia de
nylon somente com bolsinhos para cobrir os mamilos. E mesmo vestidas desta
forma, que hoje nos tempos caretas em que vivemos seria considerada provocativa,
azar do homem que se aproximasse ou “encoxasse” em uma garota. Elas partiam pra
cima, mesmo quando na maioria dos casos, não contassem sequer com um olhar
colaborativo. A maioria das pessoas que trafegava nos ônibus e metrôs
normalmente ria quando via uma mulher ser bolinada. Muitos, naquela época, reagiam
rindo e dizendo que a mulher era louca, mas mesmo assim elas reagiam. Nenhuma
mudou o seu modo de vestir ou se eximiu de fazer um escarcéu público. Eu fui
vítima até a alguns anos atrás de gente assim, e acredito que a maioria das
mulheres também o foi. Só parei de sê-lo quando adotei o carro ao invés do
transporte público.
Antes, é verdade, o transporte público era melhor, mais
confortável e vazio, mas mesmo assim sempre havia homens que vinham de suas
casas com uma disposição insuportável para se esfregarem nos ombros das
mulheres quando elas estavam sentadas e eles em pé. Usávamos o que tínhamos em
mãos para afastar estes homens de agulhas de tricô a canivetes. E xingávamos
estes desgraçados em alto e bom som. Obviamente eles nos xingavam de volta, mas
não estávamos nem um pouco preocupadas com isto. O “passa mão” não acontecia
somente nos transportes públicos, mas também nas ruas. Você vinha andando
tranquilamente na rua, quando de repente um homem te passava a mão!
Não havia leis para considerar estes homens como estupradores,
como há agora, a mulher carregava uma culpa social por ser um ser sexual, mas
mesmo assim não deixávamos de mandar pra bem longe estes caras mal resolvidos
sexualmente.
Um “encoxador” sofre de um transtorno sexual chamado de
parafilia, que antigamente chamava-se de perversão sexual. Dentro das
parafilias ele se enquadra no termo de frotteurismo (toque ou fricção em outra
pessoa, normalmente vestida sem o seu consentimento). O termo frotteurismo vem
do francês frotteur que significa
fricção.
Embora seja um transtorno isto não significa que um
froutterista não possa ser punido legalmente, já que sabe muito bem o que está
fazendo. Novamente é ignorância achar que se alguém é doente por sofrer de um
transtorno é também inimputável.
Infelizmente a mídia ao invés de esclarecer este tipo
de coisa conceitualmente mais atrapalha do que ajuda.
E minha recomendação às mulheres é sempre a mesma:
1)
Aprendam a se defender. A mulher não deve
assumir a culpa pela irresponsabilidade alheia. Todos sabem que roupas ou o
fato de ser bonita não dá o direito a ninguém de lhe bolinar, ou assediá-la
sexualmente;
2)
Lembre-se que desde 2009 há uma lei do
estupro que é diferente da anterior datada de 1940. Hoje até um beijo forçado é
considerado estupro. Informe-se, leia nas fontes, e não se deixe enganar.
Se as garotas da década de 70 e 80 sabiam se defender o
que está acontecendo com as de agora?
Mulher tem que aprender a ser esperta. Não somos
princesas indefesas, estamos muito mais para Fionas do que para as Princesinhas
da Disney. Os tempos mudaram as leis agora existem, e se você se achar culpada
por ter sido bolinada busque urgente ajuda psicoterápica. Nossa sexualidade que
hoje é aparentemente mais livre e aceita não pode ser transtornada por homens
que nos bolinam em transportes públicos. Eles sim é que deveriam sentir-se culpados,
afinal estão invadindo sem consentimento algum o corpo alheio. Conheci senhoras
com roupas discretíssimas e que chegaram ao trabalho empossadas do esperma
alheio em suas roupas. Mulher não é poste e não serve de objeto de masturbação
para o desejo sexual alheio.
Roupas de qualquer tipo não dão consentimento a ninguém
para nenhum tipo de abuso. Masturbar-se imaginando uma mulher é muito diferente
de usar literalmente o corpo dela para tal.
Antes
de finalizar, vejam que interessante: Estava procurando imagens de “encoxadores”
no Google para ilustrar este texto e fiquei perplexa ao ver que até lá as mulheres estavam sempre
provocando os caras e gostando de ser “encoxadas”. Mídia machista!