segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A FUNÇÃO DA CULPA



A FUNÇÃO DA CULPA
Suely Pavan Zanella


“Há aqueles que sentem culpa sem motivo, e outros que deveriam senti-la, mas não a sentem.”
S.P.Zanella
O personagem Thales da novela Amor à Vida busca ajuda junto à Cesar com o objetivo de dirimir sua culpa em relação à morte de Nicole. César ao invés de aplacar sua culpa, faz o oposto, diz a ele que a vida inteira carregará este remorso por ter enganado a jovem e doente Nicole, apenas para ficar com sua fortuna que era cobiçada pela namorada ambiciosa Leila.
Se você não assiste à esta novela perdeu uma grande oportunidade de ver uma cena muito diferente daquilo que se lê em livros, principalmente os de psicologia da década de 60 até 80, filmes, novelas e na e literatura mais moderna. Qual a razão?
Há uma tentativa quase unânime de “tirar a culpa” do efetivamente culpado. À ele são dadas justificativas e feitas contemporizações com um único objetivo: Não se sinta culpado!
Muita gente diz que vivemos em um mundo doente em que comportamentos psicopatas são aceitos no mundo social, organizacional e familiar e a razão, porém, pouca gente aponta e ela é justamente este quase mantra moderno: Você não tem culpa!
Há pessoas, inclusive, que dizem que a culpa não serve para absolutamente nada, e que é apenas um fardo para se carregar.
Um dos sucessos, por exemplo, da religião evangélica fundamentalista é o de aplacar a culpa ou direcioná-la para uma força maléfica, por esta razão, não é à toa que assassinos após a sua conversão tornem-se pastores ou pregadores. A culpa pelo crime não era deles, mas sim do diabo.
A religião católica, por outro lado, trabalha em demasia com o conceito de culpa (pecado) e faz com que, como escrevi no ditado acima, gente que não tem culpa de nada se sinta culpada por qualquer coisa.
Minha opinião e profissional quanto à culpa é semelhante ao passo 4 e 5 adotado pelos grupos de ajuda N.A. ( Narcóticos Anônimos)  e A.A. (Alcoólicos Anônimos):
Passo 4: Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos;
Passo 5: Admitimos perante Deus ( Poder Superior), perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
Ou seja, tomamos ciência ou consciência sobre nossas falhas e buscamos nos desculpar, através da melhoria, junto àqueles que prejudicamos através de nossos comportamentos nocivos.
Pais, por exemplo, que nunca responsabilizam os seus filhos por nada os ensinam a não se sentirem culpados, e fortalecem comportamentos destrutivos.  
Quem não sente culpa é incapaz de perceber os danos que faz ao seu semelhante, pois acredita estar sempre certo. Coisifica o outro ao invés de tratá-lo como gente.
Portanto, se você tem um amigo ou parente que se sente culpado por algo, ou que não percebe a gravidade do que fez, ao invés de passar a mão em sua cabeça busque entender em primeiro lugar a situação e os danos acarretados a terceiros. E se houver culpa real faça com que a pessoa assuma a sua responsabilidade.
Justificar o comportamento alheio é a melhor forma de não haver mudança. Podemos, por exemplo, entender que alguém roube porque é pobre, mas jamais devemos incentivar ou o eximir da culpa por este comportamento prejudicial a outra pessoa. Viver de justificativas não é saudável e cria seres imaturos e cheios de si.
Em nossa sociedade vivemos a passar a mão em cabeças que deveriam sentir-se culpadas ao invés de isentas, e não é à toa que as diferentes violências do dia a dia tornaram-se maiores e infelizmente banais para a maioria.
A culpa, quando bem utilizada, pode nos ensinar muito sobre nós mesmos e também possibilita a nossa melhoria através da adoção de comportamentos diferentes de forma consciente e adulta.
  

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