A
FUNÇÃO DA CULPA
Suely
Pavan Zanella
“Há
aqueles que sentem culpa sem motivo, e outros que deveriam senti-la, mas não a
sentem.”
S.P.Zanella
O
personagem Thales da novela Amor à Vida busca ajuda junto à Cesar com o
objetivo de dirimir sua culpa em relação à morte de Nicole. César ao invés de
aplacar sua culpa, faz o oposto, diz a ele que a vida inteira carregará este
remorso por ter enganado a jovem e doente Nicole, apenas para ficar com sua
fortuna que era cobiçada pela namorada ambiciosa Leila.
Se
você não assiste à esta novela perdeu uma grande oportunidade de ver uma cena
muito diferente daquilo que se lê em livros, principalmente os de psicologia da
década de 60 até 80, filmes, novelas e na e literatura mais moderna. Qual a
razão?
Há uma
tentativa quase unânime de “tirar a culpa” do efetivamente culpado. À ele são
dadas justificativas e feitas contemporizações com um único objetivo: Não se
sinta culpado!
Muita
gente diz que vivemos em um mundo doente em que comportamentos psicopatas são
aceitos no mundo social, organizacional e familiar e a razão, porém, pouca
gente aponta e ela é justamente este quase mantra moderno: Você não tem culpa!
Há
pessoas, inclusive, que dizem que a culpa não serve para absolutamente nada, e
que é apenas um fardo para se carregar.
Um
dos sucessos, por exemplo, da religião evangélica fundamentalista é o de
aplacar a culpa ou direcioná-la para uma força maléfica, por esta razão, não é
à toa que assassinos após a sua conversão tornem-se pastores ou pregadores. A
culpa pelo crime não era deles, mas sim do diabo.
A
religião católica, por outro lado, trabalha em demasia com o conceito de culpa
(pecado) e faz com que, como escrevi no ditado acima, gente que não tem culpa
de nada se sinta culpada por qualquer coisa.
Minha
opinião e profissional quanto à culpa é semelhante ao passo 4 e 5 adotado pelos
grupos de ajuda N.A. ( Narcóticos Anônimos) e A.A. (Alcoólicos Anônimos):
Passo
4: Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos;
Passo
5: Admitimos perante Deus ( Poder Superior), perante nós mesmos e perante outro
ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
Ou
seja, tomamos ciência ou consciência sobre nossas falhas e buscamos nos
desculpar, através da melhoria, junto àqueles que prejudicamos através de
nossos comportamentos nocivos.
Pais,
por exemplo, que nunca responsabilizam os seus filhos por nada os ensinam a não
se sentirem culpados, e fortalecem comportamentos destrutivos.
Quem
não sente culpa é incapaz de perceber os danos que faz ao seu semelhante, pois
acredita estar sempre certo. Coisifica o outro ao invés de tratá-lo como gente.
Portanto,
se você tem um amigo ou parente que se sente culpado por algo, ou que não
percebe a gravidade do que fez, ao invés de passar a mão em sua cabeça busque
entender em primeiro lugar a situação e os danos acarretados a terceiros. E se
houver culpa real faça com que a pessoa assuma a sua responsabilidade.
Justificar
o comportamento alheio é a melhor forma de não haver mudança. Podemos, por
exemplo, entender que alguém roube porque é pobre, mas jamais devemos
incentivar ou o eximir da culpa por este comportamento prejudicial a outra
pessoa. Viver de justificativas não é saudável e cria seres imaturos e cheios
de si.
Em
nossa sociedade vivemos a passar a mão em cabeças que deveriam sentir-se culpadas
ao invés de isentas, e não é à toa que as diferentes violências do dia a dia
tornaram-se maiores e infelizmente banais para a maioria.
A
culpa, quando bem utilizada, pode nos ensinar muito sobre nós mesmos e também
possibilita a nossa melhoria através da adoção de comportamentos diferentes de
forma consciente e adulta.
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