EU
NÃO SOU PRISIONEIRA
Suely
Pavan Zanella
Cansei
de ter que andar com os vidros do carro fechado, preferiria curtir o vento.
Cansei
de ter que andar com os vidros do carro com insufilme, para me proteger de um
assalto.
Cansei
de viver e ver a vida através de grades.
Cansei
das recomendações de segurança: Não reaja; Não pare no semáforo à noite; Preste
atenção a tudo e a todos....
Fico
sempre pensando, afinal, que tipo de crime eu cometi.
Trabalho
demais, estudo demais, cuido da minha família e dos meus animais. Que erro eu fiz?
Nem
sequer usufruir de meu dinheiro eu posso? Se exibir uma joia adquirida com
muito esforço e trabalho, alguém pode sentir-se incomodado e meu roubar. Se
comprar um carro, tenho que fazer seguro e rezar todos os dias para ninguém, me
incomodar. Tenho que viver protegida e desconfiada de todos.
Ando
na rua olhando para os lados, com o telefone da polícia decorado em minha
mente, para o caso de uma emergência.
Rezo
por meu filho, marido, pais, netas e por todos.
Que
mundo é este que eu vivo.
Os
impunes estão nas ruas desfilando violência, e sou eu que tenho que me
proteger.
Afinal
o que é reagir a um assalto? É ter uma reação natural e normal de medo, de
susto. Será que agora terei que ser atriz e fingir que nada me abala. Até
quando?
Será
que os que roubam celulares e carro o fazem por fome? Será que ainda
acreditamos neste romantismo tolo?
Será
que todas as justificativas que damos diariamente para bandidos de qualquer
idade só não pioram e reforçam a tese de que eles são santos e nós imundos?
Quando
os órgãos competentes farão cumprir as leis existentes, que na maioria dos
casos só existem no papel?
Quando
acabarão os recursos e mais recursos legais que tornam os bandidos dignos de
todos os direitos enquanto nós, os cidadãos, que trabalham têm diariamente
notícias escabrosas esfregadas em nossas caras sem que nada possamos fazer?
Por
qual razão nosso poder legislativo é tão brando com as penas? Porque aquele que
mata não fica eternamente na cadeia, tenha ele 12 ou 60 anos?
Por
qual razão não se analisam caso a caso, através de mutirões, aqueles que estão
presos injustamente ou por motivos tolos, tais como roubar um pão com manteiga
para o filho comer?
Nem
todos roubam por fome. Nem todos são crianças ingênuas, mas sim acostumadas
desde cedo que a bandidagem vale a pena, confere poder e masculinidade.
Medidas
socieducativas educam de qual forma? Que resultados aferem? Quando trabalho em
uma empresa tenha que dar resultados, mostrar serviço mostrar-me capaz, porque
é diferente na Fundação Casa, na Febem, ou seja lá onde for?
A
maioria dos crimes é cometida pelos reincidentes, quem os solta? Juízes,
advogados, psiquiatras forenses, por qual razão eles não são responsabilizados?
Por
que só nós a sociedade, o é?
Cansei
de tantas perguntas, agora eu quero respostas e ações. Chega de clamar por justiça
e ver a cada dia um inocente morto seja ele pobre ou rico.
Roubar
e matar viraram um ofício quase institucionalizado.
Vamos
exigir leis duras para todos. E podem me chamar do que for.
Eu só
sei que prisioneira eu não sou.
Ajudo
voluntariamente quem quiser a sua reabilitação, mas não passarei a mão na
cabeça naqueles que não tem mais jeito, para estes eu quero a pena máxima, que
é a meu ver o cerceamento total da liberdade, tal como sou obrigada a viver nos dias de hoje.
Quero
minha liberdade de ir e vir sem medo de volta.
Eu
não cometi crime algum.
E
ainda, graças a Deus, vou me chocar toda a vez que um crime for cometido. 42 inocentes foram mortos até agora na cidade
de São Paulo por motivos torpes. Estou indignada.
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