sexta-feira, 12 de abril de 2013

EU NÃO SOU PRISIONEIRA



EU NÃO SOU PRISIONEIRA
 
Suely Pavan Zanella
Cansei de ter que andar com os vidros do carro fechado, preferiria curtir o vento.
Cansei de ter que andar com os vidros do carro com insufilme, para me proteger de um assalto.
Cansei de viver e ver a vida através de grades.
Cansei das recomendações de segurança: Não reaja; Não pare no semáforo à noite; Preste atenção a tudo e a todos....
Fico sempre pensando, afinal, que tipo de crime eu cometi.
Trabalho demais, estudo demais, cuido da minha família e dos meus animais. Que erro eu fiz?
Nem sequer usufruir de meu dinheiro eu posso? Se exibir uma joia adquirida com muito esforço e trabalho, alguém pode sentir-se incomodado e meu roubar. Se comprar um carro, tenho que fazer seguro e rezar todos os dias para ninguém, me incomodar. Tenho que viver protegida e desconfiada de todos.
Ando na rua olhando para os lados, com o telefone da polícia decorado em minha mente, para o caso de uma emergência.
Rezo por meu filho, marido, pais, netas e por todos.
Que mundo é este que eu vivo.
Os impunes estão nas ruas desfilando violência, e sou eu que tenho que me proteger.
Afinal o que é reagir a um assalto? É ter uma reação natural e normal de medo, de susto. Será que agora terei que ser atriz e fingir que nada me abala. Até quando?
Será que os que roubam celulares e carro o fazem por fome? Será que ainda acreditamos neste romantismo tolo?
Será que todas as justificativas que damos diariamente para bandidos de qualquer idade só não pioram e reforçam a tese de que eles são santos e nós imundos?
Quando os órgãos competentes farão cumprir as leis existentes, que na maioria dos casos só existem no papel?
Quando acabarão os recursos e mais recursos legais que tornam os bandidos dignos de todos os direitos enquanto nós, os cidadãos, que trabalham têm diariamente notícias escabrosas esfregadas em nossas caras sem que nada possamos fazer?
Por qual razão nosso poder legislativo é tão brando com as penas? Porque aquele que mata não fica eternamente na cadeia, tenha ele 12 ou 60 anos?
Por qual razão não se analisam caso a caso, através de mutirões, aqueles que estão presos injustamente ou por motivos tolos, tais como roubar um pão com manteiga para o filho comer?
Nem todos roubam por fome. Nem todos são crianças ingênuas, mas sim acostumadas desde cedo que a bandidagem vale a pena, confere poder e masculinidade.  
Medidas socieducativas educam de qual forma? Que resultados aferem? Quando trabalho em uma empresa tenha que dar resultados, mostrar serviço mostrar-me capaz, porque é diferente na Fundação Casa, na Febem, ou seja lá onde for?
A maioria dos crimes é cometida pelos reincidentes, quem os solta? Juízes, advogados, psiquiatras forenses, por qual razão eles não são responsabilizados?
Por que só nós a sociedade, o é?
Cansei de tantas perguntas, agora eu quero respostas e ações. Chega de clamar por justiça e ver a cada dia um inocente morto seja ele pobre ou rico.
Roubar e matar viraram um ofício quase institucionalizado.
Vamos exigir leis duras para todos. E podem me chamar do que for.
Eu só sei que prisioneira eu não sou.
Ajudo voluntariamente quem quiser a sua reabilitação, mas não passarei a mão na cabeça naqueles que não tem mais jeito, para estes eu quero a pena máxima, que é a meu ver o cerceamento total da liberdade, tal como  sou obrigada a viver nos dias de hoje.
Quero minha liberdade de ir e vir sem medo de volta.
Eu não cometi crime algum.
E ainda, graças a Deus, vou me chocar toda a vez que um crime for cometido.  42 inocentes foram mortos até agora na cidade de São Paulo por motivos torpes. Estou indignada.

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