DE
CONVERSA EM CONVERSA
Suely
Pavan Zanella
“Como
se chamam duas pessoas que ficam frente a frente em um restaurante sem nada
falar? – Gente casada.”
Vi
este diálogo acontecer em um filme bem antigo. Embora tenha esquecido o nome do
filme eu sempre me lembro desta frase, principalmente quando vou a bares e
restaurantes. E é impressionante o número de pessoas, e não só casadas, que se
sentam em um restaurante, mal se olhem, e são incapazes de conversar.
Qualquer
relacionamento se tece através de conversas. E é conversando que a gente se
entende.
Hoje
em dia existem casais que até se beijam, mas são incapazes de trocar um única
palavra durante o tempo que permanecem juntos em lugares públicos. A gente
percebe esta solidão a dois, quando o casal está sozinho e não diluído em meio
a amigos ou grupos de casais.
Tem
gente que diz que o beijo é o termômetro do amor, eu não concordo. Eu acho que
são as conversas. Quando um casal perde o ânimo, a vontade de conversar, significa
que o vínculo entre eles está comprometido.
Beijar,
hoje em dia, não é termômetro para absolutamente nada. Quanta gente em uma
única balada beija tanto e tanta gente, mas é incapaz de trocar uma palavra, de
se permitir conhecer o outro?
Trocar
saliva é fácil, quero ver saber travar um papo!
É a
conversa que nos aproxima ou afasta.
A mídia
acabou com o conceito de conversa quando banalizou a sigla “D.R.” (discutir a
relação). Como se as relações não fossem feitas unicamente de conversas.
Conversar é conhecer o outro, se afetar pelo que ele diz, e também se mostrar.
Outro
dia ouvi um jurista da área criminal dizendo que no Brasil precisa urgentemente
dar à população um curso de civilização, já que as pessoas hoje resolvem as
coisas na base da agressão, da bordoada.
Fiquei
pensando o que seria um curso de civilização, e me veio imediatamente à mente o
diálogo, a conversa.
Já reparou
como hoje as pessoas estão agressivas?
Elas
não conversam e a falta de conversa afeta a civilização e consequentemente a
humanidade.
Quantas
pessoas morrem diariamente porque engoliram coisas que poderiam ter dito?
A
palavra é humana e ela nos humaniza.
Discursos
agressivos só servem para afastar as pessoas. Podemos dizer a nossa opinião,
dialogar com o outro, sem ofendê-lo ou julgá-lo.
Reaprender
a conversar é um grande desafio nos tempos atuais, que nos conectam, mas não
necessariamente nos vinculam. E a qualidade de um vínculo é medida através das
conversas que se têm.
Casais
que não conversam se afastam a cada dia. E eles são apenas um exemplo do que a
falta de dialogo pode ocasionar.
Converse
para conhecer. Converse para se deixar conhecer.
E
conversar é assim: cara a cara, olho no olho.
Requer
inteireza. A maioria das coisas que escrevemos por e-mail ou através de
comentários nas redes sociais não diríamos se estivéssemos pessoalmente e
inteiros frente à frente conversando no mesmo tempo e horário com alguém.
Conversar
exige coragem, coração aberto, e desejo real de formar um vínculo. Vínculos são
ligações humanas.
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