segunda-feira, 29 de abril de 2013

DE CONVERSA EM CONVERSA



DE CONVERSA EM CONVERSA

Suely Pavan Zanella
“Como se chamam duas pessoas que ficam frente a frente em um restaurante sem nada falar? – Gente casada.”
Vi este diálogo acontecer em um filme bem antigo. Embora tenha esquecido o nome do filme eu sempre me lembro desta frase, principalmente quando vou a bares e restaurantes. E é impressionante o número de pessoas, e não só casadas, que se sentam em um restaurante, mal se olhem, e são incapazes de conversar.
Qualquer relacionamento se tece através de conversas. E é conversando que a gente se entende.
Hoje em dia existem casais que até se beijam, mas são incapazes de trocar um única palavra durante o tempo que permanecem juntos em lugares públicos. A gente percebe esta solidão a dois, quando o casal está sozinho e não diluído em meio a amigos ou grupos de casais.
Tem gente que diz que o beijo é o termômetro do amor, eu não concordo. Eu acho que são as conversas. Quando um casal perde o ânimo, a vontade de conversar, significa que o vínculo entre eles está comprometido.
Beijar, hoje em dia, não é termômetro para absolutamente nada. Quanta gente em uma única balada beija tanto e tanta gente, mas é incapaz de trocar uma palavra, de se permitir conhecer o outro?
Trocar saliva é fácil, quero ver saber travar um papo!
É a conversa que nos aproxima ou afasta.
A mídia acabou com o conceito de conversa quando banalizou a sigla “D.R.” (discutir a relação). Como se as relações não fossem feitas unicamente de conversas. Conversar é conhecer o outro, se afetar pelo que ele diz, e também se mostrar.
Outro dia ouvi um jurista da área criminal dizendo que no Brasil precisa urgentemente dar à população um curso de civilização, já que as pessoas hoje resolvem as coisas na base da agressão, da bordoada.
Fiquei pensando o que seria um curso de civilização, e me veio imediatamente à mente o diálogo, a conversa.
Já reparou como hoje as pessoas estão agressivas?
Elas não conversam e a falta de conversa afeta a civilização e consequentemente a humanidade.
Quantas pessoas morrem diariamente porque engoliram coisas que poderiam ter dito?
A palavra é humana e ela nos humaniza.
Discursos agressivos só servem para afastar as pessoas. Podemos dizer a nossa opinião, dialogar com o outro, sem ofendê-lo ou julgá-lo.
Reaprender a conversar é um grande desafio nos tempos atuais, que nos conectam, mas não necessariamente nos vinculam. E a qualidade de um vínculo é medida através das conversas que se têm.
Casais que não conversam se afastam a cada dia. E eles são apenas um exemplo do que a falta de dialogo pode ocasionar.
Converse para conhecer. Converse para se deixar conhecer.
E conversar é assim: cara a cara, olho no olho.
Requer inteireza. A maioria das coisas que escrevemos por e-mail ou através de comentários nas redes sociais não diríamos se estivéssemos pessoalmente e inteiros frente à frente conversando no mesmo tempo e horário com alguém.
Conversar exige coragem, coração aberto, e desejo real de formar um vínculo. Vínculos são ligações humanas.


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