segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL



TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL


Suely Pavan Zanella
A novela Salve Jorge de Glória Perez aborda um tema bastante preocupante: O tráfico de pessoas.  
Uma realidade que assola vítimas invisíveis à maior parte da sociedade: Mulheres pobres e com baixíssima escolaridade (*). Vítimas que iludidas ou coagidas caem nas garras dos traficantes. Normalmente mulheres aparentemente confiáveis que aliciam as suas vítimas em locais pobres.
Segundo o Ministério da Justiça o tráfico de pessoas é:
O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.
Em dezembro de 2012 o jornalista Roberto Cabrini fez uma excelente matéria sobre “Venda de Pessoas” em seu programa Conexão Repórter.
Nesta matéria mães vendem seus filhos ainda bebês a uma aliciadora influente em uma pobre região do Brasil.
A pobreza aliada à ignorância e à promessa de ganho financeiro torna o tráfico humano relativamente fácil para aqueles que dele vivem.
Fico imaginando a quantidade de pessoas desaparecidas em nosso país e que por falta de uma investigação efetiva não foram vítimas deste tipo de tráfico. Jovens que “caíram” na ilusão de serem modelos no exterior. Crianças que foram sequestradas para serem adotadas por altas quantias em países europeus...
Toda a vez que assisto à novela Salve Jorge, porém uma dúvida paira sobre minha cabeça: Como uma pessoa pode cair num golpe destes?
E logo me veem à mente algumas cenas que presenciei quando estive num Congresso em Recife em 1999.
Para transitar pela cidade eu contratei um motorista de táxi, o Davi. Uma figura que conhecia muito bem os meandros da cidade e sempre nos contava histórias sobre a realidade cultural e a pobreza existente no interior de Pernambuco.
Logo que cheguei à cidade fui surpreendida por um grupo de garotas, que não passavam de 12 anos, dançando alegremente na porta do hotel em que me hospedará.
Ao comentar o fato com David ele me disse que Recife era uma cidade com alto índice de prostituição infantil. Não sei se hoje ainda é assim, mas cansei de ver cenas de meninas e meninos nas ruas de Recife prostituindo-se às vistas de qualquer um. E também não vi nenhuma entidade ou policiais reprimindo o fato.
Um dia resolvi perguntar ao David por qual razão isto acontecia por lá.
A resposta da David me surpreendeu. E talvez acadêmicos e donos de entidades em defesa de menores, ao invés de fazerem conjecturas teóricas à respeito do assunto, devessem botar o pé na lama ou na seca nas cidades interioranas do Brasil. Em que somente a televisão dá acesso “a um outro mundo”, normalmente glamouroso e cheio de oportunidades. Locais onde não há escolas, em que autoridades policiais são omissas ou mancomunadas com exploradores como se vê no filme “Anjos do Sol”, e em que prevalece a pobreza, a ignorância e obviamente o desespero.
A TV, nestes locais, deve parecer mais colorida do que realmente o é.
David me disse que quando ele, um simples motorista de táxi, chegava à sua cidade natal no interior de Pernambuco era imediatamente assediado por dezenas de garotas simplesmente por ter um táxi. Ele me disse que estas meninas viviam a ilusão da novela em que moças pobres são “salvas” de suas precárias condições financeiras por homens apaixonados.
Todas sem exceção, segundo ele, esperavam o mocinho salvador que viam na tela da TV. E desta forma caiam facilmente nas garras de homens estrangeiros que as levavam a um motel e com elas ficavam o dia todo a troco de míseros reais. E depois as jogavam fora pelas ruas de Recife.
Ele citou inclusive o nome da novela que passava na época, e que de certa forma reforçava esta ilusão. Cabe ressaltar que em 1999 não havia reality shows em que marombados e popozudas ganham carros, prêmios e dinheiro fácil.
David ainda me disse que qualquer um que se oferecesse para levá-las para o Recife em troca de promessas de estudo e até de casamento teria esta menina em suas mãos.
Vendo esta realidade dura fica fácil entender por qual razão aceitar um convite para trabalhar no exterior seja tão tentador. Isto significa sair de uma vida miserável para ingressar em uma digna.
As protagonistas do tráfico de pessoas no mundo real em nada se parecem com Jessica ou Morena de Salve Jorge. Mas espero que a novela, através de seu imenso acesso, sirva de alerta a estas meninas e meninos do Brasil, que vivem isolados em lugares paupérrimos e que são invisíveis à maioria dos demais brasileiros. Que a TV faça o seu papel de mostrar a dura realidade dos traficados, ao invés apenas de iludir com promessas de ganhos mirabolantes.     

SAIBA MAIS (*):













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