segunda-feira, 30 de julho de 2012

VERDADES E MENTIRAS


VERDADES E MENTIRAS
“Mais vale uma verdade cinza do que uma mentira cor de rosa.”
Por Suely Pavan Zanella

Certa vez uma de minhas supervisionandas em psicodrama fez um trabalho que versava sobre a verdade. Em sua hipótese científica dizia que “a verdade era essencial em toda e qualquer situação”.
Porém, ao fazer o trabalho de estágio prático constatou outra verdade: Falar ou não a verdade depende do vínculo que se tem com alguém. Quanto maior e mais forte o vínculo, maior a necessidade da verdade.
Apesar de decepcionada com o resultado prático ela aprendeu, ou melhor apreendeu que nenhum ser humano sai por aí o tempo todo falando apenas a verdade. Bom seria se assim fosse!
Vamos imaginar que o seu chefe seja um ser insuportável daqueles frágeis e que não suportam a verdade. E você está muito infeliz com o trabalho e principalmente pela forma desrespeitosa com que ele te trata, então busca um novo emprego. Num determinado dia você é chamado para uma entrevista no horário de seu expediente. O que fará? Falará a verdade ou mentirá? Provavelmente mentirá,  salvo se quiser ser demitido imediatamente contará a verdade.
Imaginemos agora outra situação: Você tem uma grande amiga e ela lhe conta um segredo. Ao invés de guardar o segredo você o conta para uma amiga apenas sua e pela qual sua amiga (aquela que lhe confiou o segredo) não tem o menor apreço. Passado um tempo você descobre que ela sabe que você violou o segredo, e a amizade entre vocês acaba.
Falar a verdade ou a mentira depende da situação principalmente do vínculo que se tem com alguém.
Vínculo é algo forte que nos mantém em relação. Uma espécie de corrente invisível, mas muito forte. Os vínculos normalmente são abalados apenas por um grande motivo, sendo o principal deles a desconfiança gerada através da mentira ou da omissão. Cabe ressaltar que embora as palavras mentira e omissão sejam diferentes na prática elas funcionam da mesma forma. Quem foi vítima da mentira ou da omissão não faz distinção alguma, pois quem omite deixou de falar algo importante e, portanto mentiu.
Há os mentirosos compulsivos, aqueles que mentem por tudo e sem a menor necessidade. Obvio que estas pessoas não são confiáveis, já que elas têm a mentira como mola propulsora em suas vidas. E as mentiras que contam as ajudam a manipular os outros e desta forma obterem o que querem. Estes tipos de mentirosos são um perigo ambulante, já que aumentam e diminuem o que falam apenas para se dar bem. Afaste-se de gente assim.
Porém, quando há relação verdadeira, e, portanto vincular, a mentira é imperdoável. Mentir para amigos e pares afetivos pode custar a relação em si, já que os vínculos se enfraquecem. E aquele que foi  vítima da mentira poderá até continuar na relação, mas sempre com o fantasma da desconfiança a persegui-la(o): Será que ela (e) está falando a verdade?
Quem quer preservar um vínculo de qualquer espécie não pode mentir.
Vínculos são sagrados, e a mentira os macula.
Há muita gente que perde bons empregos, amores, amigos e respeito familiar apenas porque não tem coragem de falar a verdade. E depois chora estas perdas. Eu diria que a verdade é irmã gêmea da confiança. Quem mente trai o próprio irmão. Fernando Savater em seu livro “Ética para meu filho”, diz que quem mente trai toda a espécie humana, já que apenas os humanos são dotados do dom da fala.
“Conhecerá a verdade e ela vos libertará”, diz o mestre Jesus. A verdade, ao contrário da mentira, nas relações verdadeiras, sempre é capaz de transformar e ampliar horizontes. A mentira, por sua vez é limitante, e só deve ser usada em situações onde o vínculo não existe, ou diante dos mexeriqueiros e das pessoas que querem saber mais do que precisam ou que querem apenas satisfações como forma de controle de nossas vidas.

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