segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

AINDA O MACHISMO!



Suely Pavan(*)
Após vários minutos consigo que uma motorista me dê passagem para acessar a rua perpendicular à minha casa. Na minha frente está um senhor que ao invés de descolocar o seu carro mais à frente e desta forma propiciar espaço para que eu adentre, faz exatamente o oposto.  Entre o carro dele e o dá frente daria para passar um caminhão, como diria o saudoso Ayrton Senna.  Buzino e digo gentilmente:
- Por favor, daria para o senhor andar um pouco para frente?
Ele resmunga, não coloca o carro para frente e me deixa desta forma atravessada na pista. Junto com ele quatro homens estão dentro do carro e riem. Em conseqüência escuto comentários machistas dos motoristas homens que sobem à rua. Nenhum deles parece ter o discernimento de perceber o que ocorre: Só estou atrapalhando o trânsito porque um machão como eles não tem a competência de colocar o carro mais a frente.
Na vida real e prática não é incomum às mulheres serem vítimas reais do machismo, ele ainda está em todas as rodas, mesmo as aparentemente descoladas e politicamente corretas. Há uma espécie de distorção da realidade. Não importa se uma mulher tem razão ou não, como no caso que descrevi. Mulher é vista como categoria social e não como ser individual. Algo mais ou menos assim: É mulher? Então dirige mal. É mulher? Então gasta um dinheirão no shopping. É mulher? Então só quer casar e ter filhos...
Embora as mazelas humanas sejam descortinadas normalmente no trânsito, em outros ambientes o machismo, mesmo velado, também se faz presente.
Perdi a conta de ver palestrantes famosíssimos contarem entre “causos” e principalmente piadas, exemplos de puro machismo. Numa ocasião uma participante se rebelou (com razão) e disse o seguinte:
- O tempo inteiro da palestra o senhor ficou dando exemplos vexatórios e machistas de sua esposa. Esqueceu-se que a maioria das presentes aqui é mulher. E enquanto eu estou aqui, é meu marido que está em casa preparando a comida e cuidando de nossos filhos. O senhor deveria respeitar mais as mulheres!
O tal famoso palestrante simplesmente disse:
- Bom, vou pegar o helicóptero agora, pois tenho outra palestra para ministrar à tarde.
Aliás, vamos combinar, o mundo dos palestrantes é masculino. A razão é simples, a maioria das empresas prefere contratar um homem a uma mulher para dar uma palestra em função da respeitabilidade que este passa (segundo os contratantes). Se a mulher for bonita e vistosa estará automaticamente fora do mercado de palestras. Ainda se associa inteligência à feiúra ou a idade avançada. Aliás, quantas palestrantes famosas e com larga experiência no ambiente empresarial você conhece?   
Empresas, como todos sabem, são órgãos masculinos. A estrutura empresarial tal como a conhecemos hoje tem sua raiz na igreja, mais especificamente no calvinismo.
Embora as mulheres tenham conseguido grandes vitórias profissionais, sabemos que elas ganham menos que os homens e têm que ralar muito, e até engolir a sua feminilidade para “subir na vida”. No Brasil, por exemplo, apenas 13,7% dos cargos executivos das empresas são ocupados por mulheres, segundo dados da pesquisa realizada em 2010 pelo Instituto Ethos em parceria com o IBOPE.
Estranhamente a maioria dos brasileiros elegeu uma presidente para governar o país. Provavelmente o fato ocorreu, pois associaram Dilma à Lula. Mesmo assim a presidente, ou presidenta como ela prefere, recebeu críticas ferozes. Alguns diziam que ela era “dura”. A candidata Marina Silva também foi criticada devido à sua forma de vestir-se e pentear-se. Esperavam o quê? Provavelmente que candidatas à presidência se comportassem como “barbie girl”.
Como as características do universo feminino ainda são pouco e até muito mal estudados ainda se confunde o estereótipo do que é ser mulher com a verdadeira e forte essência feminina. Assunto que estudo desde 2001. É bom lembrar que mulheres sempre trabalharam e viram sua força ser aniquilada com o patriarcado exercido principalmente à partir da religião judaica cristã.
Os tempos mudaram, mas muitos homens ainda são machistas por aqui. Nem sempre as mulheres são sequer ouvidas. Acho que você já teceu algum comentário brilhante que não foi nem sequer ouvido pelos homens ao redor. E cinco segundos após o mesmo comentário foi repetido por um homem e não só ouvido como aplaudido, reconhecido e até implementado por todos ao redor. Parece que alguns homens e até mulheres não prestam muita atenção àquilo que é dito por uma mulher. Dizem que as mulheres falam duas vezes mais do que os homens, o motivo me parece óbvio: Elas precisam repetir e repetir para se fazerem ouvir. No mundo empresarial, repito, a respeitabilidade se dá quando o componente masculino, tanto no comportamento dos homens como das mulheres, se faz presente. Li uma pesquisa uma vez que dizia que até a voz das mulheres que trabalham é diferente da voz das mulheres mais femininas.
Se no descolado mundo empresarial a coisa anda, mas ainda é devagar, na esfera pessoal ela engatinha. Não só no Brasil, mas no mundo as tarefas domésticas em termos percentuais são de competência feminina. A carga horária dedicada ao lar (tarefas e/ou gerenciamento) ainda é das mulheres.  Os homens até “ajudam”, mas não vêem como responsabilidade sua a rotina doméstica. As mulheres por serem multiprocessuais acabam por ficar extremamente cansadas. Já que cabe a elas: o gerenciamento do lar; a execução de tarefas domésticas (ter empregada doméstica hoje em dia está sendo considerado “out”); a responsabilidade junto aos filhos e seu desenvolvimento e até a de manter a chama do casamento sempre acessa graças a fogo e paixão. Sem contar, é óbvio, que devem estudar para poderem competir no mercado de trabalho, trabalhar e manterem-se eternamente jovens, lindas e com corpões sarados.  Um dos requisitos mais bem vindos (segundo a visão dos  homens) que uma mulher deve possuir, conforme uma pesquisa que li, é o bom humor. Vamos e venhamos,  ter esta disponibilidade toda de fato não é para qualquer uma e é no mínino desumano.
Mulher normal passa baton “enquanto” coloca gasolina no carro. O “enquanto” é uma palavra bastante usada pela mulher moderna, já que ela tem que fazer mil coisas ao mesmo tempo. E segundo o que tenho observado elas andam muito cansadas
Mesmo com esta versatilidade feminina o machismo se impõe e no nosso país o número de atrocidades cometidos contra elas é um verdadeiro absurdo. Freud falava da inveja do pênis, acredito que nos tempos atuais muitos homens tem inveja da vagina, inveja deste “modus operandi” feminino. Quantas mulheres bonitas, trabalhadoras e boas mães estão sendo assassinadas por companheiros ingratos e machistas?
Está mais do que na hora de valorizar este ser ligado à vida, à ética e ao amor. Aliás, quem ama, não exauri, não espanca e nem sequer mata. Quem respeita profissionalmente ouve o que a mulher tem a dizer. Não faz dela motivo de piadas e muito menos de chacota nos corredores da empresa.  



(*) Este texto poderá ser utilizado em outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato: www.pavandesenvolvimento.com.br

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