segunda-feira, 14 de junho de 2010

OS SEM DIÁLOGO

Suely Pavan (*)
Mal o dia começou e K. já se chateou com seu filho. Ele há meses recusa toda e qualquer tentativa de diálogo. Diante de uma simples pergunta que K. lhe fez,  ele jogou a mochila que carregava no chão violentamente, virou as costas e foi trabalhar. Ela ficou parada atônita sozinha na cozinha, pensando consigo própria o que havia feito de errado e também no tamanho descabido da reação de seu filho. Ele não tolera perguntas de qualquer tipo, e um simples bom dia soa como invasão de privacidade. Ela não sabe mais como tratá-lo e vive pisando em ovos. Ele se comunica com ela apenas quando quer algo. É sempre ele, e não ela que dá o tom da relação. Ela desde que ele era pequeno foi carinhosa e conversava muito com ele. K. fica cada vez fica mais irritada quando vê psicólogos na televisão ou nas revistas dizendo uma frase que para ela não passa de um clichê típico daqueles que não tem o que dizer: Dialogue com seu filho!
K. como muitas mães e pais são hoje vítimas de filhos que não querem o diálogo de jeito nenhum, e como psicóloga, me surpreendo também quando vejo estes psicólogos dizendo que a saída é sempre o dialogo, mas nunca respondem à seguinte questão: E o que fazer quando eles não querem dialogar, e são até capazes de atos violentos para não fazê-lo?
Provavelmente a resposta será: A culpa é dos pais!
A culpa nunca é da TV, nem da internet, dos amigos, ou ainda de uma sociedade tolerante à todo e qualquer tipo de violência ou falta de cumprimento de regras simples, como por exemplo não estacionar em local não permitido.
Ao ver psicólogos que vêem no diálogo uma espécie de solução genérica, fico me perguntando: Em que mundo eles vivem? E o que estão aprendendo nas faculdades de psicologia hoje recheadas de mestres?
Cabe ressaltar que antigamente, provavelmente no tempo de sua bisavó ou avó, a criança e o jovem, tinham apenas uma única forte influência: A família. Os valores familiares nesta época eram reforçados tanto na escola, como na sociedade. Quando eu era pequena, por exemplo, havia o juizado de menores, que quando encontrava um menor de dezoito anos desacompanhado de seus pais ou responsáveis nas ruas após às 22:00 o levava para a casa, sem conversa. Havia um uníssono educacional. Na década de 70/80 o lema da psicologia moderna era: Não vamos traumatizar o menino! E tudo, até as regras eram dialógáveis. O resultado de hoje foi que apesar do discurso antigo e focado no dialogo, os filhos perderam a noção da autoridade paterna e materna e não querem nem dialogar e muitas vezes até cumprir regras simples como chegar em casa no horário estipulado, ou ligar avisando onde estão. Hoje também eles têm trânsito livre, e vão para qualquer lugar a qualquer hora. Leis desprotegem os pais, não sejamos ingênuos. Filhos que não querem nunca conversar são encontrados em qualquer lugar. Fogem dos diálogos como diabo foge da cruz, e o motivo é simples: Quem conversa se expõe! E a única coisa que estes filhos não querem é a exposição, pois só querem fazer o que bem querem. Pessoas e relacionamentos são uma espécie de “coisa” útil, e descartada a qualquer momento. Sinal dos tempos atuais das relações umbilicais.
Há pais que nunca dialogam ou são agressivos? Claro, que sim, mas eles não são maioria, muito pelo contrário. O que vejo hoje, sou uma psicóloga moderna, é que há pais desesperados como K. tentando a todo o custo um dialogo com seus filhos sem nenhum resultado. Eles não querem falar, se recusam terminantemente. Foram bem tratados na infância, todos entenderam as suas frustrações, receberam excelente educação e as jogaram fora e principalmente são filhos diretos do diálogo. Antigamente ninguém precisava dialogar para educar um filho, e eles resistiam às frustrações sem jogar mochilas no chão. Hoje os pais tentam um arsenal de coisas para conseguir um dialogo mínimo com seus filhos, mas sentem-se totalmente impotentes. Vamos culpá-los? Já não basta a culpa que eles mesmos carregam por não conseguirem entender o que estão fazendo de errado?
Acredito que psicoterapeutas e orientadores de pais devam ser capacitados a potencializar os pais, ao invés de aniquilá-los ainda mais com culpas e incitando um diálogo com as paredes.
 (*) Este texto poderá ser utilizado em outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato: www.pavandesenvolvimento.com.br

2 comentários:

Prof. Rita Alonso disse...

Parabéns pelo site. Adorei vir aqui!
Aproveito para lhe convidar a conhecer meu site:
www.ritaalonso.com.br

Abraços,
Prof. Rita Alonso

Prof. Rita Alonso disse...

Parabéns pelo site. Adorei vir aqui!
Aproveito para lhe convidar a conhecer meu site:
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Abraços,
Prof. Rita Alonso