segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ENTRE MENTIRAS E DISTORÇÕES



ENTRE MENTIRAS E DISTORÇÕES

Suely Pavan Zanella
 
Se você der uma rápida pesquisada no Google e buscar os termos “mentira e advogados” verá uma lista enorme de links. A verdade é que advogados mentem para proteger seus clientes, e desta forma garantir pontinhos junto a eles. Óbvio que a tarefa de mentir ou de distorcer fatos à favor de um cliente também inescrupuloso não é adotada por todos os advogados. Alguns ganham causas se baseando na verdade e outros as perdem quando se deparam com juízes desatentos.
Mas o ato de mentir e distorcer a verdade não são privilégio apenas dos advogados inescrupulosos.
Todos nós em algum momento da vida já fomos vítimas destes atos antiéticos. Fernando Savater em seu livro “Ética para meu filho” diz que a mentira é uma espécie de traição à humanidade, pois só os humanos são capazes de falar, portanto, mentir, para ele, é uma traição à raça humana. Há quem defenda a mentira como mecanismo de convívio social. Particularmente, concordo com isso, afinal não dá para ser sincero o tempo todo e com todas as pessoas. Imaginemos que você está infeliz em seu trabalho, já pontuou o fato diversas vezes ao seu chefe e o mesmo banalizou suas reivindicações. Aí você recebe um telefonema convidando-o a participar de um processo seletivo para uma vaga que te interessa muito. Irá dizer a verdade para o seu chefe?
Outra situação: Você está desempregado, o motivo real é que seu último chefe não ia com a tua cara, além de ser um assediador moral. Na hora da entrevista uma das primeiras perguntas que a selecionadora lhe faz é: Por qual razão você saiu de seu último emprego? Você responderá a verdade?
Do mesmo modo imaginemos que uma selecionadora está trabalhando em uma vaga cujo dono da mesma é um sujeito insuportável e que contempla uma série de pedidos de demissão em função de seu gênio. Você acredita que ela lhe diria a verdade na entrevista?
Portanto, mentira depende do contexto, mas principalmente do vínculo que temos com as pessoas. Quanto mais próximo o vínculo mais desastroso poderá ser o resultado de uma mentira. Num casamento, por exemplo, uma mentira poderá romper a relação, o mesmo ocorre entre amigos. Mentir para vínculo próximos é trair a confiança. Mesmo quando o outro por qualquer razão perdoa o mentiroso, o vínculo sofrerá abalos de confiança, ou seja, jamais será o mesmo. Confiança, como sabemos, demora a ser construída e uma mentira poderá fragilizar este vínculo.
Quem valoriza os vínculos que tem raramente mente, pois sabe que poderá perdê-los. Preocupa-se em magoar e ferir o outro, e desta forma evita mentir.
Lembremos também que uma das características do psicopata é o ato de mentir. Psicopatas mentem o tempo todo, pois não sentem culpa. Na alienação parental, por exemplo, um pai ou uma mãe podem mentir que o filho (a) não quer visitar um dos pais, e depois descobrir, através da criança, que isto era mentira. Distorcer a realidade e mentir repetidamente sem sentir culpa ou remorso denota um traço da psicopatia.
Portanto, há mentiras e mentiras. Mentiras sociais que não prejudicam a ninguém, ou quase ninguém. Mentiras graves e que rompem relações. E mentiras doentias adotadas por psicopatas e mitômanos (mentirosos compulsivos). E óbvio que não existe a “mentira branca”, inventada pelo marketing.
Com exceção aos psicopatas que não estão nem aí para o seu próximo é importante entender por qual razão há pessoas que põem tudo a perder com suas mentiras!
Um mentiroso normalmente é um sujeito inseguro que tem medo de revelar a verdade. Contemporiza e não se expõe, então mente. Não tem coragem para assumir ou que pensa e sente, e covardemente usa a mentira como subterfúgio. Mas pode ser também um grande manipulador acostumado a obter vantagens através de mentiras, este é o seu modus operandi. São dissimulados e mascarados. Escondem-se através da falta de explicações e normalmente não respondem diretamente àquilo que lhes é perguntado. Fogem das perguntas, mas também usam máscaras de “santo ou santa”. O segundo tipo obviamente é o mais perigoso e com ele temos que agir como o falecido líder xavante e primeiro deputado federal indígena no Brasil, o Juruna. Na década de 70 ele ficou famoso por percorrer a Fundação Nacional do Índio com um gravador, o objetivo era registrar todas as mentiras ditas pelo “homem branco” em suas infundadas (mentirosas) promessas de proteção às terras indígenas.
Você deve estar se perguntando: Mas qual a diferença entre mentiras e distorções?
Nenhuma, pois quem mente sempre distorce a realidade a seu favor. Pode dizer, por exemplo, que o branco é o preto, mas também modificar o branco tornando-o vermelho, ou cinza. Atualmente em função das campanhas políticas vejo gente distorcendo notícias e propagando boatos nas redes sociais. Até a mídia tradicional não se preocupa em buscar verdades, e deixa todos nós envoltos em grandes mentiras e distorções. Todo o cuidado é pouco!

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