segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ELAS ACEITAM TUDO!



ELAS ACEITAM TUDO!

Suely Pavan Zanella
Por desespero, medo da solidão, baixa autoestima e ignorância há mulheres que aceitam toda e qualquer sorte de humilhação advinda de “seus homens”. É como se eles pudessem tudo e elas nada.  
Ontem no programa Domingo Espetacular vi uma cena no mínimo bizarra: Uma mulher com cerca de 22 anos grávida do terceiro filho vai à cadeia visitar o companheiro preso levando o seu filho de 4 anos. Ao chegar lá durante a revista é detectada uma porção de maconha que ela levava ao seu companheiro. Ela vai presa apesar de seus argumentos: Ele disse que se eu não levasse a maconha ele me espancaria!
Conclusão ela acaba presa e o menino entregue à família.
A realidade de um presídio feminino, mostrada na reportagem, é bem diferente: Mulheres raramente recebem a visita de seus companheiros!
Tanto na vida das prisões como no mundo fora dela muitas e muitas mulheres têm este tipo de vida. Dedicam-se em demasia aos seus companheiros enquanto eles nada ou pouco dão em troca.
Equidade ou justiça é a palavra básica para todo e qualquer tipo de relacionamento. Mas, é mais do que sabido que as mulheres se esforçam praticamente sozinhas para “salvar” relacionamentos que se assemelham a barcos furados. Basta você folhear uma revista feminina qualquer e verá milhões de dicas de como manter a relação ou apimentá-la. Parece que no campo dos relacionamentos é de responsabilidade única e exclusiva da mulher este tipo de tarefa. E olha que eu não estou escrevendo este texto no século XV!
Relacionamento, qualquer um, é feito de no mínimo duas partes e ambas tem que se esforçar para funcionar. E fazer funcionar não significa se submeter a qualquer coisa.
Mas há mulheres que sofrem e sofrem e não aprendem!
E nesta falta de aprendizado vão colecionando companheiros uns piores que os outros. Não existe no vocabulário delas a frase: Nunca mais!
São incapazes também de viverem sozinhas por pelo menos um tempo. Aquele tempo necessário para ou se tratarem ou para aprenderem a conviver consigo mesmas e refletirem à respeito do que de fato querem e não querem nunca mais para um relacionamento. Há homens bons e gentis no mundo, elas se esquecem disto e aceitam qualquer coisa.
Aceitam bandidos de qualquer espécie para relacionamentos. Agressores então, nem se fala!
A desculpa mais esfarrapada para permanecer neste tipo de relação é o amor. Amor por quem?
O cara humilha a mulher no restaurante, se ela for da classe média ou alta, e mesmo assim ela fica com ele e faz tudo para agradá-lo. O cara a trai na cara dura, e mesmo assim ela fica com ele, mesmo quando está triste e não aceita este tipo de situação. O cara bebe ou se droga e ela é conivente. Há mulheres que definitivamente acreditam que são fadas e podem mudar os homens. Não mudarão nunca. Só muda quem quer ou não é complementado através de uma série de explicações infundadas: Ele é assim porque é traumatizado; Ele é assim porque trabalha demais; Ele é assim porque sente ciúmes... E por aí vai o festival de desculpas esfarrapadas e de homem idealizado e que jamais chegará a ser real.
Aliás, eles poderiam até mudar se elas cedessem menos!
Não é à toa que nossos índices de violência contra a mulher são altíssimos. De certa forma para não serem mulheres más (segundo a ótica distorcida delas) ou algozes elas se transformam em vítimas, muitas delas reais de seus companheiros.
Muitas vezes fica difícil entender por qual razão mulheres inteligentes, bonitas e capazes (muitas sustentam seus companheiros) se sujeitam a este tipo de homem. Se você frequentar grupos tal como o MADA (Mulheres que amam demais) verá pencas de mulheres assim. Além destas que vão visitar companheiros bandidos ou se metem no tráfico graças a eles.
Relacionamentos podem ser comparados a investimentos, não adianta investir e perder seu tempo com um homem que não lhe trate bem. O resultado sempre será o prejuízo. Relações são trocas e devem ser equilibradas.
Quando as mulheres aprenderem a fazer isto estarão fazendo um bem danado para o mundo.
Não aceite violência de nenhuma espécie.
Se um homem, por exemplo, te ofender ou te humilhar uma única vez, saiba que ele fará isto mais e mais vezes. Não complemente, na vida tudo é complementaridade. Quem tem, por exemplo, um emprego ruim e vive a reclamar dele, só está nele porque o aceita, quando poderia ir buscar um novo emprego.
Temos o infeliz hábito de reclamar ao invés de perceber o nosso papel complementar e de aceitação nas relações empobrecedoras.  


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

ENTRE O ÍNTIMO E O PÚBLICO




ENTRE O ÍNTIMO E O PÚBLICO

Adolescente nordestina se mata após vídeo íntimo vazar na internet

 


Suely Pavan Zanella
Se há uma coisa que a garotada precisa aprender é a diferença entre aquilo que é íntimo ou particular, e aquilo que é público ou de todos.
A internet e principalmente as redes sociais favoreceram algo até bem pouco tempo impossível de se concretizar: O exibicionismo através da imagem. Fotografam-se e filmam-se todo e qualquer tipo de coisa, e depois fatalmente, é óbvio, alguém por amor ou por vingança divulgue na rede. E aí aquele momento particular se torna público, e como tal alvo do julgamento de todos.
Hoje, todos opinam sobre tudo, até e principalmente sobre aquilo que não conhecem.
Investir na imagem é um grande negócio numa época em que o espetáculo vale mais do que o evento em si. É gente fotografando o que come e depois postando nas redes sociais. Outros opinam sobre política, mesmo sem entender uma vírgula do que falam. Mentiras e mais mentiras são compartilhadas. E uma coisa que já percebi: Quanto mais mentiroso e sem fundamento é, por exemplo, um post, mais divulgado ele o é. A burrice se espalha numa velocidade impressionante. Ninguém pesquisa ou se aprofunda naquilo que lê ou vê.  O que vale é o espetáculo na forma escrita ou visual.
Imagine então quando o assunto é sexo, um dos maiores tabus do ser humano, apesar de travestido aqui no Brasil como liberdade?
Ai, ai, ai, ui, ui, ui!
Dá medo só de pensar, e imaginar que alguém se permite ser filmado ou filmada chega a dar arrepios. É muito ingenuidade, e por trás dela um comportamento aparentemente normal: O exibicionismo!
Brigas são apenas filmadas nas portas das escolas, imaginou sexo com alguém que pouco se conhece ou se confia? Só pode dar em tragédia mesmo.
Antigamente namorados, principalmente homens, após a ruptura amorosa, se davam ao direito de espalhar pela rede seus vídeos íntimos. E o mais interessante e cruel nestes casos é que somente as mulheres eram julgadas, jamais seus algozes. Mesmo com novas leis, a vida de uma mulher já foi totalmente devastada com estes vídeos. Há mulheres que tiveram que mudar até de cidade enquanto seus algozes continuam por aí livres e soltos. Portanto, é melhor não confiar em ninguém, ou ser esperta, ou seja, guardar apenas consigo qualquer imagem feita em uma relação íntima.
Hoje em dia qualquer transa eventual, também pode ser filmada. E se já há esta intenção é preciso ficar atenta, meninas não devem confiar em qualquer um, e precisam ser alertadas nas escolas e em suas casas sobre isto. A ingenuidade e a confiança cega e quem mal se conhece deve ser evitada a todo custo. Infelizmente, e ainda hoje são apenas as mulheres que perdem com isto, há um julgamento absurdo sobre elas. Ainda hoje, elas, são julgadas como bruxas na época de inquisição! A verdade é esta, doa a quem doer.
Portanto, o que é íntimo, deve ficar no espaço do íntimo, salvo quando os envolvidos na relação não se importam se isto um dia for parar no espaço público, através das redes sociais. Sem este consentimento explicitado não há como não sofrer e até morrer.
Atrás de tudo isto há um preconceito, que o tempo não cura, apesar de toda a mensagem mentirosa que lemos todos os dias na mídia: Mulheres são sim, julgadas por sua sexualidade. Ainda se espera que um homem curta tudo, com todas e de qualquer forma, e para elas ainda resta ser queimada na fogueira deste medíocre modo de pensar arraigado.
O sexo assusta mais do que nunca, e por esta razão alguns se julgam no direito de colocar vídeos e fotos para o regozijo daqueles que lidam extremamente mal com ele. E que expressam nas redes sociais todo o seu preconceito. Homens pequenos e que só se sentem grandes quando expõem suas parceiras. Homens que precisam das mulheres para transar, mas são incapazes de entender a sexualidade feminina.
Minha proposta com este texto não é o recato, mas sim o cuidado em não transformar o íntimo em público.
O melhor é não permitir nenhuma filmagem, e se o fizer cubra o rosto. E se isto não resolver vá a uma delegacia e denuncie este homem voraz por exposição não consentida. Só um ser criminoso transforma algo pessoal em público, e só por este motivo, deve ter grandes problemas sexuais. Tem gente que ainda confunde performance sexual com sexo, mas são coisas muito diferentes.
Esta exacerbação da sociedade à respeito do sexo, faz com que jovens morram sem saber direito o que é ele de verdade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

POBRES CRIANÇAS



POBRES CRIANÇAS
Suely Pavan Zanella

“É preciso que os adultos tenham mais estrutura que as crianças”, me disse uma vez uma experiente psicoterapeuta infantil.
Quando vejo pais tratando os filhos como “coisas” como se fossem bonecos a serem usados a seu bel prazer, além de lembrar desta sábia frase também penso que num mundo perfeito homens e mulheres antes de se tornarem pais ou mães deveriam fazer algum tipo de curso, ou algo semelhante, para aprender a função.
Li agora que na China um menino de 4 anos foi obrigado pela mãe a beber gasolina e depois ela cruelmente ateou fogo nele. O motivo: Discutiu com o marido que não estava a tratando com respeito. E vingou-se através da pobre criança não só a desrespeitando, como também quase a matando e a deixando na U.T.I. em estado grave.
Há crianças que sobrevivem aos maus tratos de seus pais descontrolados, raivosos e desequilibrados, outras infelizmente não. Como foi o caso aqui no Brasil do menino Joaquim de 3 anos que tem o padrasto e mãe como principal suspeitos de sua morte. Ao ler sobre este caso fiquei pensando que há crianças que são tratadas como lixo. Errou na insulina dada ao garoto diabético, basta jogá-lo no rio e camuflar o erro, como se Joaquim fosse uma peça descartável, uma “coisa” cuja posse permitia dizer: Meu filho!
Quem poderá esquecer a menina Isabella Nadorni que tal como um saco plástico foi jogada sem dó nem piedade por uma janela?
Fiquei pensando também se o pai biológico de Joaquim, o menino diabético achado num rio em Ribeirão Preto, tivesse por alguma razão procurado o Conselho Tutelar em função do vício do padrasto em cocaína e as previsíveis recaídas, o que teria acontecido?
E eu te digo, não teria acontecido absolutamente nada!
Você já ligou alguma vez para o Conselho Tutelar?
Eu já. Certa vez fiquei num domingo por cerca de três horas relatando a situação de duas crianças pequenas, uma com seis meses e a outra de 2 anos cuja mãe é dependente de maconha e vez por outra leva as filhas para passear na favela enquanto fuma o seu baseado na frente delas, em um lugar muito perigoso . A moça não é pobre, ao contrário, é rica, mas adora frequentar este tipo de ambiente. Mora em um condomínio de luxo e ia quase que diariamente nas bocadas com as filhas, acho que faz isto até hoje. Fiquei sabendo do caso através de uma grande amiga que era vizinha da moça e resolvi denunciar, perdi meu tempo!
O Conselho nada poderia fazer. Eu é que teria que provar, fotografar e coisas do tipo. Aqui no Brasil são as vítimas ou quem vê crianças em situações de risco que têm que provar que as mesmas  estão em risco. E o Conselho Tutelar é culpado? Não, claro que não, são as leis que não protegem ninguém, salvo se os menores forem perigosos e infratores. O resto que se dane, que morra, ou tenha a coragem suficiente para viver cercado de pais violentos, inconsequentes ou irritadiços, que um dia não se pouparão em mata-los. 
Usar drogas junto à crianças não dá em nada aqui no Brasil, se fosse comportamento de risco não veríamos tantas crianças cujos pais são usuários perambulando drogados junto aos seus filhos. 
Estes pais raramente abrem mão da guarda, são egoístas e possessivos e vão tendo filhos lá e acolá.
Quem pensa nas crianças no Brasil?
Legalmente ninguém, salvo se você for um milionário e tiver grana para bancar uma investigação particular. Aí consegue provar como muitas e muitas crianças são mal amadas por seus pais e correm riscos diários por conviver com gente desestruturada.
Até que uma morre, e a nação se comove, mas nada muda!
E a gente fica aqui se perguntando quantas crianças correm riscos físicos e psicológicos apenas por terem pais ou padrastos ou madrastas em que se ouve o seguinte:
-Achamos o corpo de Joaquim!
- Ah! Maravilha, então preciso conversar com o advogado. Estas foram as palavras ditas pelo  padrasto do menino Joaquim quando a polícia o avisou sobre o corpo dele covardemente atirado num rio.    

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

RADICALISMOS



RADICALISMOS


Suely Pavan Zanella
Escrevo este texto porque estou bastante cansada dos radicalismos que tenho visto ultimamente.
Já aviso de cara que você não é obrigada a concordar e nem achar bacana nada disso que irei escrever, mas é meu direito fazê-lo.
Minha preocupação atual (enorme por sinal!) é a resposta à pergunta: Aonde vamos parar?
Na semana passada vi um vídeo de um Coronel da PM de São Paulo sendo covardemente espancado por um grupo de pessoas durante uma manifestação.
Quero deixar claro que acho justo o direito das pessoas se manifestarem, aliás, é só assim que se conhecem suas reivindicações. Mas espancar alguém, a meu ver já é demais!
As justificativas para tal ato que li nas redes sociais foram:
·         A PM bate no pessoal da periferia;
·         O SUS é que é vandalismo;
·         Os policiais usam métodos agressivos... E por aí vai!
Minha questão é: Até que ponto justificar atos violentos com mais violência gera algum resultado?
Queimar ônibus. Vandalizar espaços públicos. Quebrar tudo, pra quê?
Voltamos à pena de Talião: Olho por olho, dente por dente.
Deste jeito não irá sobrar ninguém nem sequer para contar a história.
Violência policial se dribla com treinamento adequado.
Ontem mesmo um adolescente morreu em São Paulo em função de um tiro acidental de um PM (a história contada na imprensa até agora foi esta). A morte do menino foi vingada (sim, isto é vingança) com quebradeira. Isto resolve?
Eu ainda acredito no poder do bolso. Ou seja, para cada morte infundada feita por PMs o cidadão deveria ter o direito de receber uma gorda indenização. Quem sabe assim treinariam o seu pessoal para distinguir ações de bandidos efetivos de pessoas que normalmente são apenas pobres!
Mas pra isto é necessário união. Lembro sempre de um documentário argentino que assisti sobre as Mães de Maio. Elas não quebravam nada, mas incomodavam muito instituições bancárias que lesaram seus filhos.
Diante da truculência policial ou não as pessoas deveriam se unir e não permitir de forma alguma atos radicais.  
Civilização significa negociação, poder de diálogo, empatia e muito, mas muito treinamento.
Óbvio que é mais fácil quebrar tudo e não mudar absolutamente nada. E ainda gerar o péssimo sentimento de medo.
Reclamamos de um mundo violento, mas ultimamente parece que só enxergamos medidas radicais. A radicalidade tem gerado gozo em alguns.  
Outro dia estava lendo um texto escrito pelo pessoal dos Black Blocs e fiquei espantada com a quantidade de pessoas que disseram: O texto é grande, mas é bom!
Que geração é esta que reclama de um texto grande e se encanta, sem pensar, com qualquer atitude pra lá de violenta?
Leitura também ajuda a pensar a refletir sobre a realidade existente. Livros bons podem conter excelentes maneiras de se lidar com as situações. Não basta ler trechos ou copiar e colar.
Quem apenas lê trechos ou se encanta com frases abdica de sua capacidade de pensar no todo. Não cria repertório, e cai como um escravo em qualquer armadilha.
Vejo que as saída em algumas situações é exercer a desobediência civil e não o radicalismo escoltado pela violência que justifica outra.
Sempre tive pavor de seitas e grupos que se fecham ao invés de se abrirem ao mundo.
Bom, como disse, esta é apenas a minha opinião. Acredito na capacidade do ser humano de pensar, questionar e buscar alternativas criativas para um mundo melhor.
Não acredito em tudo o que vejo/leio na mídia conservadora ou independente. Sempre ângulos serão ressaltados e manipulados deste ou daquele lado.
Está faltando diálogo, discernimento, as relações andam assim, parece que tudo só se resolve na base da agressão ao outro. E está aí uma forma perigosa e excludente de enxergar o mundo.
Eu prefiro pontes ao invés de muros.