"NINGUÉM PAROU PARA
AJUDAR"
Suely Pavan Zanella
Certa
vez uma colega de trabalho após sair de um evento trafegava pela Avenida
Paulista, em São Paulo, com a janela de seu carro aberta alguns poucos centímetros,
pois estava fumando. Ao parar no
semáforo foi surpreendida por um menino portando uma faca, que foi colocada no
pequeno espaço da janela. Porém, atrás de seu carro estava uma motorista que
logo ao ver a cena começou a buzinar incessantemente. O escândalo provocado
pela motorista do carro de trás fez o moleque sair correndo assustado e minha
colega ser salva do assalto.
No
Natal do ano passado eu e meu marido estávamos na Marginal Pinheiros a caminho
do almoço de Natal na casa de meus sogros que moram em Alphaville. Quando meu
marido de repente falou: “Vi um moço deitado na calçada!” Eu não havia visto.
Meu marido deu a volta e encontramos um rapaz deitado na calçada aparentando
ser vítima de uma overdose. Fiquei 20 minutos ao telefone com o resgate
explicando o que havia acontecido, embora tivesse quase certeza que o rapaz fosse
morrer. Já que seus olhos estavam totalmente vidrados, respirava com grande
dificuldade, seu corpo estava gelado e ele babava muito. Depois de um tempo
pararam duas viaturas policiais, um carro do CET e nada do SAMU que demorou
mais ou menos 35 minutos. Esperamos o rapaz entrar na ambulância e meu marido
perguntou ao enfermeiro para qual lugar eles iriam levá-lo. Os policiais ficaram
espantados com a atitude dele e perguntaram até se conhecíamos o moço. Ao
chegarmos em casa meu marido ligou para o hospital mencionado pelo enfermeiro e
não obteve nenhuma informação e foi no dia seguinte até lá, e também ninguém
soube informar sobre o paradeiro de rapaz pobre, simples e que calçava um
chinelo diferente do outro. Até hoje não sabemos o que foi feito dele,
infelizmente.
Estas
duas atitudes exemplificadas aqui com dados reais mostram claramente que sempre
podemos ajudar alguém. Basta ser humano e se importar com o outro. Seja o outro
quem for, principalmente nos tempos atuais, onde a maioria dos brasileiros têm
ao menos dois celulares.
Ver
um assalto, ou uma pessoa acidentada e nada fazer correspondem a: omissão e
dependência extrema das autoridades. Basta ser humano para ajudar alguém, mais
nada!
Fiz questão
de começar este texto com exemplos de solidariedade humana, mas infelizmente
ele não vai terminar tão bem assim.
No
dia 15 de outubro Caroline Silva Lee de quinze anos foi assassinada em
Higienópolis durante um assalto. A reportagem completa sobre o caso você pode
ler aqui: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1174134-jovem-diz-que-ninguem-ajudou-adolescente-morta-em-higienopolis.shtml.
Porém, o que me deixou mais perplexa foram as palavras do namorado dela que
faço questão de copiar e colar da reportagem:
“Corri para o meio da rua para pedir
ajuda. Ninguém parava. Ninguém me ajudava.
Tive de sair da frente dos carros
para não ser atropelado...”
Fico
imaginando a dor do namorado da garota ao se ver naquela situação. Além de ver
sua namorada baleada ninguém ajudá-lo e ainda ele correr o risco de ser
atropelado. Dá para imaginar?
Infelizmente
isto é mais comum do que se imagina. Cada um cuida de seu umbigo e danem-se os
outros. Será que há compromisso mais importante do que ajudar alguém?
Às
vezes a gente exige das autoridades, hospitais, etc., um atendimento digno,
humano e rápido, mas é incapaz de fazer o mínimo para ajudar quem está próximo
de nós. Alguns acreditam até que: Alguém já deve ter ligado, então não vou
ligar!
No
dia 13 de março de 1964, Kitty Genovese
voltava para sua casa após o trabalho quando foi brutalmente estuprada, atacada
e morta diante de 38 pessoas ( todas moradoras do prédio em que ela morava no
Queens). Este fenômeno é um dos mais estudados pela psicologia social e recebeu
o nome de Síndrome de Genovese ou efeito espectador.
Os doutores John Darley y
Bibb Latané chegaram a seguinte conclusão: Diferentemente do que imagina o
senso comum, quanto mais pessoas assistem alguém em perigo, menores são as
possibilidades de que alguém assuma a responsabilidade de ajudar esta pessoa!
Tanto Kitty que foi atacada três vezes,
já que seu algoz teve tempo de ir e voltar para atacá-la, quanta Caroline foram
vítimas deste efeito, infelizmente!
Todos os dias presenciamos cenas de
omissão em nossa cidade. Omissão de humanidade principalmente! A desculpa que
se dá é o medo. Fico me perguntando qual é o medo que alguém tem de fazer uma
ligação de um celular para a polícia? Já vi gente filmando eventos catastróficos
e sem a menor compaixão pela vítima. A Síndrome de Genoveses em nossos tempos
ganhou a amplificação das filmagens, hoje se filma o sofrimento de alguém, ao
invés de ajudar.
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