segunda-feira, 29 de outubro de 2012

NINGUÉM PAROU PARA AJUDAR



"NINGUÉM PAROU PARA AJUDAR"

Suely Pavan Zanella
Certa vez uma colega de trabalho após sair de um evento trafegava pela Avenida Paulista, em São Paulo, com a janela de seu carro aberta alguns poucos centímetros, pois estava fumando.  Ao parar no semáforo foi surpreendida por um menino portando uma faca, que foi colocada no pequeno espaço da janela. Porém, atrás de seu carro estava uma motorista que logo ao ver a cena começou a buzinar incessantemente. O escândalo provocado pela motorista do carro de trás fez o moleque sair correndo assustado e minha colega ser salva do assalto.
No Natal do ano passado eu e meu marido estávamos na Marginal Pinheiros a caminho do almoço de Natal na casa de meus sogros que moram em Alphaville. Quando meu marido de repente falou: “Vi um moço deitado na calçada!” Eu não havia visto. Meu marido deu a volta e encontramos um rapaz deitado na calçada aparentando ser vítima de uma overdose. Fiquei 20 minutos ao telefone com o resgate explicando o que havia acontecido, embora tivesse quase certeza que o rapaz fosse morrer. Já que seus olhos estavam totalmente vidrados, respirava com grande dificuldade, seu corpo estava gelado e ele babava muito. Depois de um tempo pararam duas viaturas policiais, um carro do CET e nada do SAMU que demorou mais ou menos 35 minutos. Esperamos o rapaz entrar na ambulância e meu marido perguntou ao enfermeiro para qual lugar eles iriam levá-lo. Os policiais ficaram espantados com a atitude dele e perguntaram até se conhecíamos o moço. Ao chegarmos em casa meu marido ligou para o hospital mencionado pelo enfermeiro e não obteve nenhuma informação e foi no dia seguinte até lá, e também ninguém soube informar sobre o paradeiro de rapaz pobre, simples e que calçava um chinelo diferente do outro. Até hoje não sabemos o que foi feito dele, infelizmente.

Estas duas atitudes exemplificadas aqui com dados reais mostram claramente que sempre podemos ajudar alguém. Basta ser humano e se importar com o outro. Seja o outro quem for, principalmente nos tempos atuais, onde a maioria dos brasileiros têm ao menos dois celulares.
Ver um assalto, ou uma pessoa acidentada e nada fazer correspondem a: omissão e dependência extrema das autoridades. Basta ser humano para ajudar alguém, mais nada!
Fiz questão de começar este texto com exemplos de solidariedade humana, mas infelizmente ele não vai terminar tão bem assim.

No dia 15 de outubro Caroline Silva Lee de quinze anos foi assassinada em Higienópolis durante um assalto. A reportagem completa sobre o caso você pode ler aqui: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1174134-jovem-diz-que-ninguem-ajudou-adolescente-morta-em-higienopolis.shtml. Porém, o que me deixou mais perplexa foram as palavras do namorado dela que faço questão de copiar e colar da reportagem:
“Corri para o meio da rua para pedir ajuda. Ninguém parava. Ninguém me ajudava.
Tive de sair da frente dos carros para não ser atropelado...”
Fico imaginando a dor do namorado da garota ao se ver naquela situação. Além de ver sua namorada baleada ninguém ajudá-lo e ainda ele correr o risco de ser atropelado. Dá para imaginar?
Infelizmente isto é mais comum do que se imagina. Cada um cuida de seu umbigo e danem-se os outros. Será que há compromisso mais importante do que ajudar alguém?
Às vezes a gente exige das autoridades, hospitais, etc., um atendimento digno, humano e rápido, mas é incapaz de fazer o mínimo para ajudar quem está próximo de nós. Alguns acreditam até que: Alguém já deve ter ligado, então não vou ligar!

No dia 13 de março de 1964, Kitty Genovese voltava para sua casa após o trabalho quando foi brutalmente estuprada, atacada e morta diante de 38 pessoas ( todas moradoras do prédio em que ela morava no Queens). Este fenômeno é um dos mais estudados pela psicologia social e recebeu o nome de Síndrome de Genovese ou efeito espectador.
Os doutores John Darley y Bibb Latané chegaram a seguinte conclusão: Diferentemente do que imagina o senso comum, quanto mais pessoas assistem alguém em perigo, menores são as possibilidades de que alguém assuma a responsabilidade de ajudar esta pessoa!

Tanto Kitty que foi atacada três vezes, já que seu algoz teve tempo de ir e voltar para atacá-la, quanta Caroline foram vítimas deste efeito, infelizmente!
Todos os dias presenciamos cenas de omissão em nossa cidade. Omissão de humanidade principalmente! A desculpa que se dá é o medo. Fico me perguntando qual é o medo que alguém tem de fazer uma ligação de um celular para a polícia? Já vi gente filmando eventos catastróficos e sem a menor compaixão pela vítima. A Síndrome de Genoveses em nossos tempos ganhou a amplificação das filmagens, hoje se filma o sofrimento de alguém, ao invés de ajudar.  

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