segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ESTUPRO EM REDE NACIONAL


ESTUPRO EM REDE NACIONAL
Suely Pavan Zanella
Quero deixar claro que não assisto ao programa BBB12. Mas já assisti e inclusive assinei o pay per view de outras edições. O programa é manipulado em suas edições, os tipos são escolhidos à dedo e representam o pior exemplo a ser seguido por alguém, e em nada seus personagens representam a população brasileira. Minha definição de BBB hoje é Big Bosta do Brasil.
Mesmo assim hoje cedo foi surpreendida pela notícia de um possível estupro no tal programa. Fui pesquisar o tema. Vi que a maioria dos vídeos já haviam sidos retirados do youtube. Li alguns artigos e opiniões (algumas me deixaram de cabelos em pé) e finalmente achei o vídeo. Sim, foi estupro, já que a vítima ( vou chamá-la assim) mais parecia uma morta viva do que uma mulher atuante na parceria sexual.
Peço desculpa aos colegas jornalistas que cismam em chamar o episódio de “possível estupro”, talvez por medo de afirmar o visível. Analisando a cena do estupro cheguei à conclusão que se não foi estupro, a única hipótese viável é um apelo chamativo à audiência do programa, algo previamente combinado entre os participantes. Não duvido nada que se faça este tipo de coisa deplorável apenas para ganhar IBOPE neste tipo de programa cuja ética não é o principal requisito.
Tudo que li à respeito da parte de quem assistiu ao programa é que a moça bebeu demais e foi se deitar e literalmente apagou na cama. Logo depois o rapaz foi atrás dela e deitou-se ao lado da morta viva. No vídeo percebe-se claramente os movimentos sexuais do rapaz (não eram apenas carícias) e nenhuma reação por parte dela. A diferença é que ele sabia o que estava fazendo, e ela não. Ou seja, sexo não consensual (nem sempre ele ocorre com uma arma na cabeça) é aquele que não tem a permissão da outra parte. Se a moça estava “apagada” como ela poderia dizer não à investidas do rapaz?
Pelo que li também o programa deixou pra lá o incidente e continuou no seu ritmo normal. Perguntaram apenas à moça se foi consensual. Se a produção fez esta pergunta é porque tinha dúvidas. Ela que mal se lembrava de como foi parar na cama para dormir, disse que sim, mas depois da pergunta ficou confusa e inclusive perguntou ao rapaz, que obviamente negou o fato.  
O mínimo que deveriam fazer para com a moça era mostrar-lhe o vídeo, um direito dela. E a partir daí ela deveria decidir se processava ou não o tal rapaz. Mas este direito lhe foi negado. Li uma matéria também na qual a mãe da moça afirmou que não sabe se irá ou não processar o rapaz, já que não quer prejudicar a filha no programa.  Embora ela reconheça que a filha estava “apagada” no momento da relação sexual. Se eu fosse a mãe da moça estaria mais preocupada com a violência psicológica e física sofrida por minha filha em rede nacional do que com  o fato de lhe prejudicar no programa.
Apesar de não assistir ao BBB não poderia me omitir como mulher e psicóloga e peço para que os órgãos que cuidam da defesa da mulher no Brasil não deixem este fato “pra lá”. Ele foi gravado e assistido por milhares de pessoas. O fato continuará a existir mesmo que o programa em suas edições manipule a opinião pública para que o tal rapaz enfrente o paredão e saia do programa “naturalmente”.
O estupro é uma experiência muito ruim e traumática na vida de uma mulher. Normalmente elas acreditam que foram culpadas, mas não foram. O estuprador através de seu machismo acha que uma mulher bêbada, drogada ou usando roupas chamativas está consentindo com o sexo. Hoje em dia sabemos que isto é apenas uma característica do estuprador que em nada condiz com a realidade. Fazer sexo com alguém é sempre uma experiência conscientemente consentida sem uso de nenhuma forma de força ou coação, mesmo na relação entre pessoas casadas.       


Nenhum comentário: