CÃES SEM DONO
Suely Pavan (*)
De manhã indo à padaria avisto um cão perdido e obviamente sem dono tentando atravessar o semáforo. A princípio fico com dó do cachorro, mas logo me vem à mente uma cena semelhante que vi centenas de vezes quando era “promoter” e consultora empresarial em um bar na boa Vila Madalena em São Paulo. Embora trabalhasse apenas as sextas e sábados à noite e de madrugada ela se repetia a exaustão: Eram homens sozinhos que perambulavam perdidos de bar em bar. Lá pelas tantas já alcoolizados eles mal tinham forças para voltar à suas casas. Evidentemente eram homens sem dono, ou melhor, “dona”, sem namoradas ou esposas. Eram perdidos tais como o cão que vi a perambular pela rua.
A música diz que “todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”, e minha experiência mostrou que isto é verdade. As pessoas querem se dar bem, ficar com alguém, mesmo que seja só por uma noite. Os olhares que vi neste tempo que trabalhei no bar eram tristes, raramente vi homens felizes levando esta vida de aparente liberdade. Aquela liberdade de apenas andar para cá e para lá, meio sem sentido, e sem ser cobrado por ninguém. Óbvio que poucos homens percebem esta realidade, tão clara para uma mulher experiente. O interessante que uma roda de mulheres é diferente, elas parecem se divertir muito mais ao saírem sozinhas do que eles. Claro, que hoje em dia há mulheres que também bebem até cair, transam sob os efeitos do álcool e copiam este infeliz comportamento masculino. À época em que trabalhava no bar e freqüentava a Vila Madalena pensei até em fazer um jornalzinho chamado “Barangas News” com o objetivo de mostrar que mesmo que uma mulher seja linda fisicamente ela torna-se horrorosa quando bebe como um gambá. Acho que todos sabem que os efeitos da bebida e drogas para as mulheres são muito mais devastadores do que para os homens.
Mas voltemos aos cães sem dono ou homens que insistem em ser “livres”, mesmo que a liberdade se resuma a andar como um errante.
Homens assim são avessos a qualquer tipo de compromisso, eles querem curtir a vida. Quando por distração arrumam uma namorada são machistas ao extremo: Eles podem tudo, e elas não podem nada. Eles adoram sair com os amigos, tão solitários e errantes quanto eles. E literalmente se esquecem da vida quando se sentam num bar. Bares e homens sem dono são companheiros inseparáveis. Para ser muito honesta nunca vi alegria nenhuma neste tipo de vida, quando alguns deles conversavam comigo percebia o vazio que eles carregavam, preenchido apenas com bebidas e companhia fugazes. Alguns deles diziam amar aquela vida errante, mas o vazio de brilho nos olhos mostrava exatamente o contrário. Este tipo de homem quando morre é achado morto já que raramente divide o espaço com alguém. Se tiver sorte de ter um papagaio talvez o mesmo alerte os vizinhos sobre o moribundo deitado sobre o chão!
A diferença entre um cão sem dono e um homem errante e solitário é que o primeiro muda de olhar ao ser adotado, e o segundo coisifica as relações e escolhe este modo de vida.
Os judeus cabalistas dizem que os homens ao se casaram com uma mulher devem agradecer diariamente este fato a Deus. Elas, segundo eles, estão mais próximas do criador e são mais perfeitas. Eles precisam delas para viver e se aperfeiçoar. De minha parte desconfio que os cabalistas tenham razão. Não deve ser à toa que um homem sozinho sempre passa a imagem de um cão perdido.
(*) Este texto poderá ser usado em outros veículos desde que se mantenha a autoria e a forma de contato.
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