FILHOS DA MÃEPor Suely Pavan
80% dos meninos e das meninas infratoras no Brasil não têm o nome do pai em sua certidão de nascimento. Este foi um dos dados levantados pela cineasta Susanna Lira, criadora do documentário Nada Sobre Meu Pai (uma referência ao título do filme de Almodóvar Tudo Sobre Minha Mãe). No dia dos pais, 30% dos brasileiros não saberá nem sequer o nome de quem homenagear. Somos “um país de filhos da mãe”, conforme está no prefácio de Em Nome da Mãe – O Não Reconhecimento Paterno no Brasil, da socióloga e filósofa Ana Liese, consultora do documentário. Mas afinal de contas, o que representa a figura do pai? Segundo Freud, o pai é responsável por trazer o mundo externo para a vida de uma criança. É ele quem representa a importância da figura da autoridade, dos limites e do respeito. Num mundo no qual a figura masculina anda tão fragilizada, muita gente discorda deste pressuposto freudiano. Houve um tempo até, lá pela década de 80, que algumas mulheres deixaram de lado esta importante figura e resolveram partir para a tal “produção independente”. Elas acharam que sozinhas poderiam tudo, e descobriram que pai faz falta, principalmente na vida das crianças e adolescentes. Algumas feridas da falta “que um pai faz” permanecem abertas ao longo de uma vida. Outras mulheres ainda, em função de separações mal resolvidas, impregnam a criança de mentiras acerca do pai. A criança cresce e muitas vezes descobre que aquilo que a mãe lhe dizia nem sempre correspondia aos dados de realidade. E hoje muitas dessas pessoas lutam pelo direito de conhecerem seus pais tais como eles são, sem o estereótipo passado por suas mães. Meu professor na faculdade de psicologia dizia que a criança acredita no pai que vive no coração da mãe, mesmo que ele seja ausente, ou que já tenho morrido. O pai precisa existir de alguma forma, e é uma pena que muitas mulheres ainda confundam a figura do pai com a figura do mau marido ou amante. São papéis diferentes, como dizemos nós os psicodramatistas. Muitas mulheres esquecem também das escolhas erradas que fazem ao engravidar de um homem que jamais terá condições psicológicas de ser um bom pai. Engravidam de qualquer um e depois não têm a menor condição de suprir as carências inevitáveis das crianças. Pai é fundamental. Foi o meu pai, quando eu era pequena, quem me ensinou a soltar pipas, por exemplo. Diferentemente do estereótipo tradicional de homem, meu pai era sensível, um artista. Talvez por isto, ao longo da minha vida, eu tenha me apaixonado por tantos artistas. A figura paterna pesa sobre as escolhas positivas e negativas que fazemos quanto aos nossos parceiros. Uma criança, por exemplo, que vê seu pai agredir sua mãe, terá uma imagem muito negativa sobre a relação de um casal, e tenderá a repetir esta história (matriz) nas suas escolhas pessoais. Desconfio que seja o pai quem nos ensina o verdadeiro sentido do amor. Faz isto quando ama e respeita a nossa mãe. É assim que um menino aprende a respeitar as mulheres. E é assim que uma menina aprende que deverá ser sempre bem tratada por um homem. Sim, pai é fundamental. Espero que todos se lembrem disto neste dia: o Dia dos Pais! Dia a meu ver essencial, pois nos lembra que a crise de autoridade que vivemos nos dias atuais tem a ver justamente com esta ausência. Muitos filhos só da mãe estão por aí, nos faróis, usando drogas, perdidos, clamando por um pai que lhes diga apenas: "Filho, volte para a casa, o que você está fazendo é errado!" Sim, são os pais quem nos ensinam o certo e o errado, o ético e o antiético, o sentido da honestidade e da integridade. Os pais funcionam como referências, algo que precisamos para crescer e nos desenvolver de maneira plena. Quem teve ou tem um bom pai na vida sabe exatamente do que eu estou falando. Feliz Dia dos Pais, para todos aqueles que assumiram com hombridade esta árdua tarefa, mesmo ultrapassando a barreira da biologia. A figura paterna poderá ser encontrada no padrasto, no professor que dá limites, e em qualquer homem que esteja disposto e aberto a assumir este papel na vida de qualquer um. Mesmo que até este minuto a criança ou adolescente seja somente mais um filho da mãe entre milhões de brasileiros.
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